Surge mais um treinador originário do País Basco, juntando-se a Arteta e Emery, Andoni Iraola é o novo fenómeno na Premier League e, depois de recordes batidos nesta temporada, e da renovação por mais duas, quer levar o Bournemouth para outros patamares.
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Sempre um pouco fora do radar, para os mais desatentos, Andoni Iraola deixou a marca bem vincada do estilo de sucesso em todos os clubes por onde passou. Não surgiu num conjunto de destaque e após terminar a carreira de jogador começou a de treinador no Chipre, tornando-se agora na prova viva que é possível chegar à Liga Inglesa num caminho alternativo, sempre com pensamentos inovadores do futebol moderno.
A carreira de jogador e capitão em Bilbau
Produto da formação do Atlético Bilbau, o clube que só contrata jogadores do País Basco, tornou-se uma figura incontornável da defesa em San Mamés. Foram 12 temporadas consecutivas como titular indiscutível em Bilbau, jogando sempre mais de 30 partidas em cada uma dessas épocas.
Apesar de não conseguir levantar nenhum troféu como jogador, ficou marcado por liderar a equipa à final da Liga Europa, em 2012, onde perdeu frente ao Atlético Madrid (3-0). Além disso, ajudou a equipa a chegar a três finais da Taça do Rei, sempre sem sucesso.
Iraola foi capitão da equipa no último jogo pelo clube, a final da Taça do Rei, que o Bilbau perdeu por 3-1 com o Barcelona. Em junho de 2015, aos 33 anos, decidiu ir para o estrangeiro pela primeira vez na carreira. Ingressou no New York City, da MLS, onde fez 38 jogos antes de pendurar as chuteiras no final de 2016.
Sucesso como treinador em contextos desfavoráveis
O primeiro trabalho no banco surgiu no Chipre. O AEK Larnaca abriu as portas ao jovem treinador, mas com altos e baixos, onde aprendeu outras vertententes de ser treinador. Conseguiu a segunda qualificação de sempre para as competições europeias, mas foi despedido depois de ganhar apenas um jogo num espaço de dois meses.
Seguiu para o país natal. Foi no Mirandés que começou a mostrar as ideias inovadoras e os resultados começaram a surgir. Um clube da segunda divisão espanhola destinado à descida de patamar, onde Iraola colocou-os a meio da tabela, mas o feito mais impressionante foi na Taça do Rei. Chegaram às semifinais, deixando pelo caminho o Villarreal, Celta de Vigo e Sevilha.
Ganhou a oportunidade de ingressar no Rayo Vallecano na época seguinte, fazendo um trabalho excecional. Iraola conseguiu a subida à divisão principal através dos play-offs. O Rayo, oriundo do bairro operário de Vallecas, em Madrid, tem uma das bases de adeptos mais apaixonadas de Espanha, mas é um dos clubes mais mal geridos da La Liga.
O estádio não tem internet na zona de imprensa e, até há pouco tempo, não tinha água nas casas de banho. O clube continua a não ter um serviço de venda de bilhetes online, o que leva a milhares de adeptos fazerem fila durante a noite para obterem bilhetes.
Apesar de todos os problemas do clube, Andoni Iraola construiu um projeto apresentado à direção, cumprido ao detalhe onde prometeu, e cumpriu, estabelecer o Rayo Vallecano no meio da tabela da Liga Espanhola. O estilo de jogo ambicioso, mas flexível, fez com que o Rayo conseguisse alguns resultados notáveis nos jogos mais importantes.
Cesc Fabregas, atualmente responsável do Como 1907, equipa italiana que garantiu a promoção à Serie A, revelou a primeira vez que teve contacto com Iraola. "Lembro-me que um dia fui ver o Falcão a Madrid e ele disse-me para ir ver um treino (da equipa do Rayo Vallecano, de Iraola). Fui lá e gostei muito. Gostei muito da sessão, vi exatamente o que ele está a tentar fazer. Ele comunica muito bem com os jogadores. Tem uma estrutura muito boa. Gostei da configuração da sessão de treino, do formato em que ele a constrói, de uma intensidade mais baixa para uma mais alta, e do conceito que estava a dar aos jogadores".
A paciência do Bournemouth
O Bournemoth quis desfazer-se dos tradicionais treinadores ingleses e foi à procura de um técnico jovem com outras ideias. Encontraram Iraola, mas o início não foi nada prometedor. Nos primeiros nove encontros na Liga Inglesa, não ganharam nenhum, e o descontentamentos dos adeptos aliados aos rumores de despedimento começaram a ganhar força, mas os "Cherries" mantiveram a confiança no novo projeto.
Avançando para o final da temporada, o Bournemouth bateu o recorde de pontos conquistados na Premier League. Quem assiste aos jogos não fica indiferente com a pressão dos jogadores, tanto rápida como eficaz, onde a partir da recuperação da bola precisam de poucos toques para fazer muitos golos. Num sistema em 4-4-2, não deixam nenhum equipa construir à vontade e um dado curioso são as marcações individuais.
A estrela da equipa só podia ser uma: Dominic Solanke. Demorou a afirmar-se nos clubes de topo, após ser uma grande promessa na formação, e conquistou o protagonismo no Bournemouth, como um jogador completo que tanto consegue desmacar-se das defesas e pressionar um jogo inteiro, como consegue jogar fora da área e distribuir jogo para os colegas.
A dupla de centrais é um luxo que nem todas as equipas possuem. Senesi é um jogador claramente talhado para outros voos e faz parceria com o jovem ucraniano Zabarnyi, a quem só o futuro saberá o que reserva, mas a qualidade não está em falta.
Destacam-se outras peças, nas quais o filho Kluivert, que também se está a afirmar ao mais alto nível e Ryan Christie, jogador que recuou no terreno para dar qualidade no meio campo. Juntam-se a este lote nomes ligados a rumores ao Benfica. O lateral Kerkez tem um futuro muito promissor e Enes Unal começa agora a ter mais minutos de jogo e pode substituir Solanke em caso de saída do inglês.
Iraola é mais um dos treinadores da escola do País Basco que começa agora a ter notoriedade mundial. Um dos melhores amigos desde que ingressou na carreira de técnico tem sido Xabi Alonso, e garante que aprendeu muito do que sabe com alguns dos treinadores com quem se encontrou enquanto jogador. O futuro do Bournemouth está em boas mãos e os responsáveis afirmam que querem seguir o exemplo do Brighton para chegar o mais rapidamente às competições europeias.