Javí García, antigo jogador e adjunto do Benfica, concedeu uma entrevista ao Canal 11, na qual abordou o final da carreira, o novo ciclo como treinador e falou, ainda, sobre alguma da atualidade dos encarnados.
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Proveniente do Real Madrid, Javi García chegou a Portugal em 2009 para representar o Benfica. Nas águias pegou de estaca no plantel de Jorge Jesus, jogou a seis, encantou e de lá partiu para Manchester City, Zenit, Bétis e, por fim, Boavista. No entanto, os últimos tempos não foram nada fáceis e o médio espanhol recordou esse momento mais delicado da carreira.
"As últimas épocas como jogador foram complicadas, levava muitos problemas para casa e quase nunca ficava contente com as minhas exibições, mas queria vir para Portugal. Apareceu a oportunidade do Boavista [em 2020] e decidimos que continuava. Nunca voltava a ver os meus jogos, porque, para mim, quase nunca jogava bem. O futebol não é só domingo, os jogos, é todos os dias a competir com os teus colegas e contigo. Ia para casa e não conseguia muitas vezes desligar", disse ao Canal 11, falando, seguidamente, sobre a experiência na equipa técnica no Benfica.
"Ser treinador é uma história diferente de jogador. É muito complicado. Como jogador só cuidas de ti, como treinador tens de pensar em trinta pessoas. É complicado, mas adorei a experiência e vou tentar ser treinador", garantiu.
Nos encarnados, o espanhol integrou uma comitiva de Roger Schmidt entre 2022 e 2024, técnico sobre o qual nutria pouco conhecimento e a quem deixa elogios: "falámos e foi tudo extraordinário, como pessoa é espectacular. Tinha a responsabilidade de treinar as bolas paradas, mas falávamos como equipa e era uma decisão conjunta", adiantou, mencionando um jovem talento com quem teve oportunidade de trabalhar.
"Quando o João Neves começou a ir aos treinos, ficámos apaixonados por ele, como jogava, pela dedicação, pelo empenho em cada treino e, como miúdo, é algo espetacular. Está a fazer uma grande época. É o tipo de jogador que não importa a equipa onde joga, os adeptos vão adorar. Quando deixam o estádio, todos falam dele. Em Paris é igual. Vai ter uma carreira espetacular", atirou.
A admiração por Di María e a confiança em António Silva
Do plantel atual do Benfica, um jogador, em específico, cruzou caminho com Javi García: Di María. Nesse sentido, o antigo médio espanhol disse ter "uma relação muito boa" com o astro argentino e deixou uma pequena declaração sobre a paixão que o internacional argentino tem pelo futebol.
"Ver um jogador que ganhou tudo e a fome que ele tem em cada jogo e treino, é algo incrível. Ángel, não sei até quando vai jogar, mas tem essa fome todos os dias por competir. Para mim, jogava sempre no Benfica. Ter um jogador como ele é para jogar, está a fazer golos, assistências. Para mim, Di María tem de jogar sempre. Otamendi é a mesma mentalidade. Ter jogadores como ele é espectacular. É muito importante ter jogadores assim no balneário. Depois há o segredo do treinador, para não ficarem chateados, entrar na cabeça desses jogadores, e tentar que o discurso seja para que não fiquem chateados quando não jogam", mencionou.
Quanto a António Silva, que nos últimos tempos tem ficado ligado a uns erros no eixo defensivo, as palavras de um antigo companheiro de profissão são de coragem e incentivo para aquele que visualiza como um "central de topo".
"Vai ser, seguramente, o central da Seleção nas próximas épocas. O futebol tem momentos bons e momentos maus. Contra o Barcelona, até fez um bom jogo, é uma pena que aquele passe tenha caído nos pés do Raphinha, que do nada fez aquele golo. O António tem algo de especial, tem uma mentalidade muito forte para estar em qualquer balneário. Quando vejo jogadores com esta mentalidade e personalidade, que não se importam de quem está a falar deles... Vai dar a volta e fazer um grande jogo esta terça-feira", analisou.
Já Jorge Jesus foi relembrado como uma personagem especial para a formação enquanto jogador e no entendimento do mundo do futebol.
"Foi o treinador que mais me marcou, conseguiu tirar o melhor de mim, e de muitos companheiros. Naquela altura estava muito à frente dos outros, taticamente. Ia ao detalhe com cada jogador e tudo o que ele dizia que ia acontecer, acontecia no jogo, era incrível. Lembro-me de falar com Aimar, Saviola e dizer... 'como é possível que ele veja isso'. Tinha linhas totalmente perfeitas na defesa, muitas linhas! Era tão perfeito e quando mostrava na televisão víamos isso. Na formação do Real Madrid sempre joguei a 8 e quando cheguei o Jorge Jesus tinha claro que tinha de ser o 6, o trinco. Foi muito positivo, mas também me tirou um bocadinho da parte ofensiva que tinha. Quando saí do Benfica senti um pouco falta disso", rematou.