Treinador considera que a relação com o presidente foi boa, mas nunca sentiu apoio da estrutura. Saída acordada por telefone. Rafa e André Almeida tomaram o partido de Pizzi.
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Um ano e meio depois de ter chegado às águias, Jorge Jesus e a SAD colocaram um ponto final na ligação, formalizando a saída numa conferência de imprensa sem direito a perguntas. Ao que o JN apurou, o técnico sai do Benfica com a sensação de ter tido uma relação boa e sincera com o presidente Rui Costa, mas mal impressionado com o comportamento de dirigentes e parte da estrutura do futebol, dos quais nunca sentiu um verdadeiro apoio.
"Vim a pensar que sou uma solução e não um problema. Para o que são os interesses do Benfica e o melhor para todos, achei por bem que esta decisão fosse a melhor"
O processo de desgaste arrastava-se já há algum tempo e foi acelerado pelo incidente com Pizzi, que recebeu o apoio dos outros capitães, André Almeida e Rafa. O treinador colocou o lugar à disposição de Rui Costa, num telefonema rápido, ainda na noite de segunda-feira, no qual ficou logo definido o fim da linha. E, na terça-feira, as duas partes formalizaram a rescisão.
A novela da saída de Jesus começou no final do jogo da Taça de Portugal, no Dragão, quando Pizzi se dirigiu ao plantel, inconformado com uma derrota humilhante (3-0), e disse que os jogadores deviam dar mais em campo, assim como a própria equipa técnica. O discurso quente motivou um desentendimento com um adjunto, episódio apenas sanado pela rápida intervenção de Luisão. O antigo jogador criticou a postura de Pizzi e lembrou-lhe que também fazia parte do plantel.
Jesus, que não esteve no balneário desse jogo, por estar castigado, soube do incidente na viagem para Lisboa e interpelou o jogador no regresso aos trabalhos, afastando-o do treino. A decisão motivou reações negativas de alguns jogadores, casos de André Almeida e Rafa, que colocaram em causa a decisão do treinador. Rui Costa teve mesmo que interferir para sanar o caso, mas o incidente foi a gota de água para o treinador, que sentiu não ter mais autoridade sobre o plantel.
"Não era o desfecho que ambicionávamos. Mas, com a mesma frontalidade de sempre, chegámos à conclusão de que este dia acabou por ser o melhor para ambas as partes"
Além deste episódio, sabe o JN, o técnico também não sentia o apoio por parte dos dirigentes e da estrutura do futebol - a relação com Rui Pedro Braz, diretor-geral, estava deteriorada. Terça-feira, após a saída do técnico estar consumada, Pizzi foi aplaudido pelos adeptos quando chegava ao Seixal.
Evitar 7,5 milhões de euros
A saída do treinador foi estabelecida por mútuo acordo, com a SAD a pagar o vencimento do técnico e restante equipa (cerca de 333 mil euros mensais líquidos) até junho, quando termina o contrato. No máximo perto de dois milhões de euros limpos, exigência que se extingue caso o técnico vá para outro clube com um vencimento igual ou superior. O acordo amigável fez cair por terra uma cláusula que previa o pagamento de 7,5 milhões de euros, que podia ser reclamada caso houvesse uma rescisão sem justa causa.
Resolvido o problema, Rui Costa apresentou aos jogadores Nélson Veríssimo, promovido da equipa B. Será ele o técnico até ao final da época e estreia-se amanhã frente ao F. C. Porto, no Dragão. Para já, a SAD ainda não escolheu o treinador para a próxima época, mas há uma premissa: será alguém que aposte na formação. Aquilo que Jesus não fez.
Atlético mineiro
Regresso ao ativo pode mesmo passar pelo Brasil
As fintas do destino podem mesmo proporcionar o regresso de Jorge Jesus ao Brasil, não para treinar o Flamengo mas sim o Atlético Mineiro, que se sagrou campeão brasileiro. A equipa onde alinha Hulk, ex-F. C. Porto, perdeu o treinador Cuca, e Jesus, que já esteve na lista do "Galo" noutras ocasiões, é a prioridade. A imprensa brasileira diz mesmo que já houve contactos.
Raio-X
83 jogos
Na segunda passagem pelo comando encarnado, Jesus somou 52 vitórias, 17 empates e 14 derrotas. Não conquistou qualquer título.
3.º lugar na Liga
O Benfica está a quatro pontos do F. C. Porto e Sporting, ambos na liderança. A equipa já foi eliminada da Taça de Portugal.
4,63 euros
Após a saída de Jesus, as ações do Benfica subiram na bolsa 1,54% para 4,63€. Na véspera, as ações tinham caído 1,51% para 4,56€.
Dezembro marcante
Desastre no dérbi
No início do mês, a má exibição e a derrota na Luz, 3-1, com o Sporting, reabriu feridas com os adeptos. Jesus viu lenços brancos e nem a vitória seguinte com o D. Kiev (2-0), que deu os oitavos da Champions, aliviou o ambiente.
Flamengo em casa
Jesus recebeu a visita de uma comitiva do Flamengo, em casa, e esse encontro também não foi visto com bons olhos por parte do universo benfiquista, quando se estava em contagem decrescente para o jogo com o F. C. Porto.
Derrota no Dragão
Na bancada, devido a castigo, Jesus assistiu à derrocada frente ao F. C. Porto (3-0) que valeu o afastamento na Taça de Portugal. O jogo decidiu-se na primeira meia hora, com três golos dos dragões.
Conflito com Pizzi
Um dos elementos mais influentes no grupo, Pizzi insurgiu-se no balneário contra um adjunto de Jesus. O técnico quis afastá-lo do plantel, mas o grupo defendeu o capitão. Foi a gota de água para Jesus.