João Félix: "Nunca senti muito a pressão. Se vais fazer uma coisa em que sabes que és bom..."
João Félix, internacional português, falou sobre a carreira no podcast "Geração 90", do jornal "Expresso". O criativo lembra a passagem pelo F. C. Porto, a transição para o Benfica, a transferência milionária para o Atlético de Madrid e a forma como lida com a crítica.
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João Félix, nascido em Viseu, desde muito novo cativou a atenção do mundo do futebol pela qualidade que exibia. O talento permitiu-lhe integrar a formação do F. C. Porto, entre os 11 e os 15 anos. No entanto, os primeiros tempos não foram nada fáceis e o internacional português lembra a primeira noite fora de casa e a conversa que teve com o pai.
"Ele deixou-me lá e passada uma hora liguei-lhe a chorar, pedi para me ir buscar. Tinha saudades dos meus pais, do meu irmão... Ele disse-me que se me fosse buscar naquele dia não me voltava a levar. Disse que ia sempre custar um bocadinho e que haverá sempre momentos em baixo, em que terei de me levantar. E eu percebi que se quisesse continuar a jogar no Porto não podia vir embora, então disse-lhe para não me ir buscar. Desde aí, nunca mais tive o sentimento de que não conseguia. Quando és mais novo, passas tempo em casa com os pais e queres sair, mas quando sais pela primeira vez é assustador e foi esse clique que me deu", lembrou ao podcast "Geração 90", do "Expresso".
O internacional português fala, ainda, um pouco sobre a exigência que acaba por ser colocada nos mais novos: "Vejo muitos pais a pressionar os filhos para serem o próximo Ronaldo, os putos às vezes nem querem, os pais é que querem isso, mas deves fazer o que te faz feliz", referiu.
A dado momento da conversa, João Félix explora um pouco mais o campo da pressão associada à profissão: "Nunca senti muito isso da pressão. Se vais fazer uma coisa em que sabes que és bom, em que tens confiança, não tens necessidade de sentir pressão. Se te sentires pressionado, as coisas vão sair pior. Outra coisa é ansiedade. Já senti mais, hoje em dia lido bem e com o tempo vais percebendo", relatou.
Após a passagem pelo F. C. Porto, o avançado foi para o Benfica, em busca de procurar mais tempo de jogo. Por lá escalou na hierarquia, chegou à equipa principal, brilhou e foi vendido ao Atlético de Madrid por 127 milhões de euros. A exigência sempre foi muita e, a certa altura, andou muito por empréstimos, até ter sido transferido para o Chelsea no último mercado de transferências. Durante este processo o valor da transferência para os espanhóis sempre foi badalado.
"Para ser sincero, tive uma fase em que sentia ‘posso tudo’, ser intocável, e é normal dado tudo o que aconteceu, mas foi rápido, abriram-me os olhos. O meu pai diz o que tem a dizer. E costumo dizer que quero que os meus filhos tenham a educação que eu tenho. Do valor? Nunca me passa pela cabeça, só me lembro se me falarem. Não estou na cama, antes de adormecer, a pensar que custei 126 milhões. Não é coisa que me passe na cabeça", afirmou.
Por fim, abordou, ainda, a crítica: "Hoje em dia não me afeta nada. Muita gente não percebe que um jogador, ou pessoas muito expostas, têm família, amigos. Temos sentimentos, emoções. Por acharem que ganhamos muito dinheiro temos de lidar com isso, mas temos vida pessoal e se não estivermos a render pode estar a acontecer alguma coisa, algo não está bem. Mas temos de saber lidar, se não pode entrar a depressão, como alguns jogadores já vieram a público admitir que tiveram, outros se calhar nunca disseram… não gosto que me vejam em baixo, guardo para mim", concluiu.