Kamelan Mamadou, jogador do Vila, confirmou a existência de insultos racistas vindos da bancada, no jogo com o Lixa, a contar para a fase de apuramento de campeão da Divisão de Honra (A. F. Porto). Presidente do emblema de Vila Nova de Gaia negou as acusações da líder do Lixa.
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O defesa, de 20 anos, estava a cumprir a estreia pela equipa de Vila Nova de Gaia quando lhe aconteceu uma situação inédita enquanto jogador de futebol. "Fui eu que cometi o penálti, que permitiu à equipa adversária ficar à frente do marcador. Durante os festejos, olhei para a bancada e foi percetível que estavam a fazer gestos de macaco. Inicialmente, não estava a perceber a situação, porque não falo bem português e não lhes fiz nada. Mas entre os gestos e ter ouvido a palavra 'macaco'' vinda dos adeptos, rapidamente me apercebi que se estavam a dirigir a mim", explica Kamelan.
O canadiano ficou bastante surpreso com a atitude. "Claro que não fez o mínimo sentido porque não lhes fiz mal nenhum. Quando me apercebi do que se estava a passar até me virei para eles a perguntar o que lhes tinha feito para merecer aquilo. Obviamente fiquei muito triste, mas temos de seguir em frente e não me vou deixar afetar por pessoas que não merecem", concluiu o defesa.
O presidente do Vila, António Coelho, ficou revoltado com a situação e ordenou à equipa para sair de campo. Garante que os insultos eram dirigidos a Kamelan e não a Pedro Oliveira, como explica a presidente do Lixa, Paula Sousa, e nega as acusações de ter ameaçado os adversários.
"Aquilo que se passou foi um ato de racismo. Podem dizer o que quiserem, mas eu vi o que se passou e o que ouvi. Várias pessoas estavam a chamar 'preto' e 'macaco' ao Kamelan e isso não admitimos. Só queremos ganhar dentro de campo e, se não tivesse a certeza do que estou a dizer, não tínhamos saído de campo. Quanto às acusações, a única coisa que disse, e foi em conversa com um jogador do Lixa, foi que, depois do que aconteceu em campo, é normal que o ambiente no jogo da segunda volta seja 'de cortar à faca'. Não ameacei ninguém", garante o dirigente, que ainda acrescenta que Kamelan fez queixa na polícia e que o Vila está a preparar uma exposição para mandar à A. F. Porto.
Além de todas estas situações, que em nada valorizam o futebol distrital, houve, alegadamente, mais um incidente com o jogador do Vila, Álvaro Rocha, conhecido por Djaló no mundo do futebol. "Quando estávamos a conversar dentro de campo, houve um GNR que estava muito agressivo e a tratar os jogadores do Lixa pelo nome. Veio na minha direção, pisou-me o tornozelo e meteu-me o cotovelo no pescoço", conta o jogador.
Lixa conta versão diferente
Segundo Paula Sousa, presidente do Lixa, a história não será bem assim e os sons oriundos da bancada, eram uma resposta à provocação do defesa do Vila, Pedro Oliveira, momentos antes do golo do Lixa. "Tudo começou quando o jogador do Vila ganhou um lance disputado e se dirigiu à bancada com uma expressão de força, sem aparente maldade. Obviamente, quando marcamos o golo, os nossos adeptos estavam a responder a esse som e a provocá-lo a ele. Nunca foi uma questão racial, até porque o jogador que provocou a bancada é branco. Isto a mim parece-me uma cabala para nos rotularem de algo que não somos. Não acredito que A. F. Porto vá por aí", revela Paula Sousa.
A dirigente acrescenta ainda acusações graves aos elementos do clube adversário. "No final ainda houve elementos da Direção do Vila que disseram que, quando fôssemos jogar a Vila Nova de Gaia, seríamos esfaqueados à saída do autocarro. Não pondero deixar de ir a esse jogo, porque queremos um campeonato sério, mas isto é muito grave e vamos fazer uma exposição dos factos", concluiu a presidente.
Recorde-se que tudo aconteceu após o golo, de penálti, do Lixa, aos 88 minutos. Nos festejos os adeptos terão insultado racialmente Kamelan - jogador que causou a grande penalidade - o que despoletou esta situação e levou a equipa do Vila a abandonar o jogo.
Entretanto o caso já chegou à Autoridade para a Prevenção e Combate à Violência no Desporto (APCVD), que comunicou ter instaurado um processo para apuramento dos factos e responsabilidades daí decorrentes.
Veja aqui o vídeo:
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