Os Jogos Olímpicos de Inverno, a decorrer em Pequim até 20 de fevereiro, têm três atletas portugueses em prova. Dois deles já competiram e conseguiram ser os melhores lusos na categoria e o último, Ricardo Brancal, volta a entrar em ação nesta quarta-feira.
Corpo do artigo
Costuma dizer-se que depressa e bem, há pouco quem, mas José Cabeça é, definitivamente, a exceção à regra. O atleta, de 25 anos, aprendeu a esquiar em apenas dois anos e já representa Portugal numa grande competição. O atleta nasceu no Alentejo, zona sem grandes condições para praticar esqui, mas tal não o impediu de tentar. José, que também é triatleta, decidiu experimentar esqui de fundo após ver uma prova dos Jogos Olímpicos de 2018 na televisão.
"Desde os seis anos que sonho ir aos Jogos. Quando vi a prova, pensei que seria possível tentar, já que é uma modalidade que corresponde às minhas características. Fui pesquisar sobre a modalidade e, em 2020, comecei a treinar na neve, em França", contou ao JN. O início, esse, não foi fácil. José, que também praticou karaté, via vídeos e treinava sozinho. "Mas sou persistente", disse, bem-disposto. E valeu bem a pena. O triatlo acabou por garantir boas bases, principalmente no que diz respeito à preparação física, e já treina na Noruega, com o treinador: "A evolução tem sido muita".
E o sonho acabou mesmo por se realizar. José Cabeça foi o primeiro português a entrar em ação em Pequim2022 e terminou, na última sexta-feira, a prova de 15 km estilo clássico no esqui de fundo na 88.ª posição, tornando-se o melhor representante português na disciplina nos Jogos Olímpicos de Inverno. O atleta terminou a competição, realizada no Centro Nacional de Cross-Country, na zona de Zhangjiakou, em 49m12,0s, a 11m17,2s do vencedor, entre 99 participantes.
O finlandês Livo Niskanen juntou à medalha de bronze nos 30 km no esquiatlo o título nos 15 km estilo clássico, depois de ter conquistado o ouro em Sochi201, na velocidade por equipas, e de em PeyongChang2018 ter subido ao lugar mais alto do pódio, nos 50 km estilo clássico. Já o russo Alexander Bolshunov, medalha de ouro nos 30 km de esquiatlo, foi medalha de prata nos 15 km na prova de "cross-country" e o norueguês Johannes Hoesflot Klaebo, campeão olímpico na velocidade também em Pequim2022, foi terceiro.
Antes de José Cabeça, participaram na competição de esqui de fundo, nos 15 km estilo clássico, Danny Silva, 94.º classificado em Turim2006 e 95.º em Vancouver2010, no estilo livre, enquanto Kequyen Lam ficou no 113.º lugar em PyeongChang 2018, no estilo livre.
Vanina Guerillot Oliveira tem apenas 19 anos mas já é considerada uma promessa. Filha de mãe portuguesa e um treinador de esqui francês - daí ter começado cedo na modalidade - foi o amor às origens que a fez contactar Federação de Desportos de Inverno de Portugal. Treina quatro horas por dia e já conseguiu um segundo lugar na disciplina de slalom gigante, no Troféu Topolino, em 2016.
A 7 de fevereiro, a atleta terminou a prova de slalom gigante no 43.º lugar, entre 82 participantes, numa competição conquistada pela sueca Sara Hector. Mas não teve tanta sorte nos dois dias seguintes: falhou uma porta no início da segunda manga e não terminou a prova de slalom nos Jogos Olímpicos de Inverno Pequim2022, depois de ter sido 46.ª na primeira descida, entre 88 participantes.
Na disciplina em que se sentia mais confortável, a atleta partiu para Pequim com o objetivo de ficar entre as 30 primeiras no slalom, mas o erro logo à saída da segunda manga na pista Ice River, em Yangqiing, frustrou as expectativas da portuguesa. A eslovaca Petra Vlhová, número um do ranking mundial e vice-campeã do mundo, conquistou o ouro olímpico, com o tempo de 1m44,98s, depois de ter sido oitava na primeira descida e ter sido a melhor na segunda descida.
Ricardo Brancal entra em ação quarta-feira
Ao contrário de José Cabeça, Ricardo Brancal começou a praticar esqui com três anos. "Foi com os meus pais, numa semana de férias. Depois, todos os anos, fazíamos uma semana de férias na neve e fui praticando", contou, ao JN. Ricardo, natural da Covilhã, também praticou ténis e karaté mas o esqui acabou por se tornar um caso sério em outubro de 2020, quando se mudou para Itália para treinar e conseguir garantir a qualificação para os Jogos. E o dia começa cedo: "Se o treino for de manhã, começa às seis da manhã. Treinamos entre quatro ou cinco horas em pista e depois temos a preparação física. A adrenalina e o vento a bater na cara... são as coisas que mais gosto".
Nos tempos livres, além de passear e ver séries, o atleta ainda conseguiu investir na educação. "Passei sete anos na universidade. Tirei uma licenciatura em ciências biomédicas, na Universidade da Beira Interior, fui para Lisboa fazer o mestrado em Engenharia Biológica no Técnico e acabei recentemente uma pós graduação em Business Management, no ISEG".
Agora, em estreia dos Jogos Olímpicos, esquiador português estreou-se, no domingo, com o 37.ª lugar na prova de slalom gigante, a 28,05 segundos do vencedor, o suíço Marco Odermatt. Ricardo conseguiu o objetivo de melhorar o 66.º posto de Arthur Hanse em PeyongChang2018 na disciplina. O atleta, que antes da partida para Pequim considerava um "top 50" um excelente resultado, tendo em conta o nível competitivo, e ambicionava superar o melhor lugar de Arthur Hanse, 38.º no slalom e 66.º no slalom gigante em PeyongChang2018, considerou, à agência Lusa, que podia ter feito ainda melhor, mas salientou ser "um resultado muito bom para Portugal".
Nesta quarta-feira, Ricardo Brancal fecha a participação portuguesa e vai competir, em slalom.