A assembleia eleitoral do Leixões Sport Club realiza-se este sábado, 22 de março, entre as 13 e 19 horas, no Estádio do Mar. Jorge Moreira, atual presidente do clube de Matosinhos, é o único candidato. Ao JN, em entrevista exclusiva, revela as linhas mestras para o futuro.
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O professor, de 49 anos, respira fundo antes da entrevista ao JN. A conversa é feita numa pausa, entre aulas, e decorre com grande entusiasmo por parte do atual presidente. O ADN Leixões corre-lhe nas veias. Foi o líder da claque "Máfia Vermelha" e, num abrir e fechar de olhos, tornou-se presidente do mítico clube de Matosinhos, que conta com 117 anos. O desafio é o próximo quadriénio.
É o candidato único às eleições para o próximo mandato, de quatro anos, no Leixões Sport Club. Qual é a principal motivação? O que está por fazer?
Não diria motivação, mas sim um estímulo e compromisso de continuar a honrar o ADN leixonense, fortalecer a ligação à cidade e projetar o clube para um futuro de crescimento e sucesso, que garantam a sustentabilidade financeira, económica e desportiva do Leixões, alicerçado nos valores cultivados desde 28 de novembro de 1907. Findo mais um mandato, ficámos com a sensação que o tempo voou e que havia espaço para fazer mais e melhor, daí considerar que às premissas preconizadas no passado recente (rigor, proximidade e transparência), devemos acrescentar a ambição e a cultura às gerações vindouras.
Preferia ter concorrência neste ato eleitoral?
Genuinamente, sim. Gostava de ter o gosto de discutir o Leixões, perceber a motivação e a visão de quem está de “fora” e sentir o palpitar dos sócios. Mais do que um desafio, encaro a concorrência como um estímulo pessoal e algo determinante para a vitalidade e democraticidade do clube, pois acarreta apresentação de programas, medidas, ideias e facilita a promoção de espaços de debate. Sinceramente, na minha modesta opinião, a ausência de candidatos deve-se ao reconhecimento da gestão atual, à exigência e responsabilidade que o cargo acarreta.
O que propõe atingir neste quadriénio? Quais os sonhos e ambições realistas?
Um dos grandes objetivos, a curto prazo, é recuperar a utilidade pública e levantar as hipotecas existentes sobre o Estádio do Mar, criando condições ímpares para a requalificação e rentabilização do estádio e áreas contíguas. Ao nível das finanças e administração, esperamos atingir um equilíbrio no clube alicerçado na redução progressiva da dívida financeira e respetivos encargos, aumentar a captação de sócios e aumentar as receitas de quotização, permitindo um maior investimento nas modalidades, e com isso, maximizar também a captação de parceiros e sponsors. Vamos continuar a ser transparentes com os nossos associados e pretendemos reforçar o vínculo com os sócios, adeptos e comunidade, através da dinamização de várias iniciativas, tais como, o dia do Leixões, a criação de podcast e um jornal digital.
Modalidades? O voleibol tem estado em destaque: há alguma possibilidade de um dia sonhar com o título nacional? O futsal pode cimentar-se nas principais divisões nacionais? Futebol feminino?
O voleibol é uma modalidade impactante no clube e na cidade. O Leixões continua a ser uma referência no panorama nacional e tem alcançado resultados satisfatórios, na variante sénior, fruto de um projeto sério e de muito trabalho, o que nos permite sonhar e acreditar que este é o caminho para a conquista de títulos, porém temos de ser realistas e constatar que o paradigma do voleibol nacional mudou com a entrada dos ditos grandes, ditando orçamentos dantescos, os quais são incompatíveis com a nossa realidade. Não obstante o nosso ADN e mentalidade vencedora, necessitamos de mais apoio do tecido empresarial matosinhense para montar equipas equilibradas e competitivas, cimentando a nossa presença regular nas decisões. Esta máxima aplica-se também ao ao futsal, uma modalidade criada há seis anos, a qual tem vindo gradualmente a crescer e a afirmar-se no panorama regional. Esta época, temos o privilégio de ter uma excelente equipa, a qual tem contrariado e desafiado o destino, encontrando-se em condições de subir à 2.ª nacional. No que respeita ao futebol feminino, vamos criar equipas de formação para alimentar a equipa sénior. Queremos um Leixões com equipas competitivas em todas as frentes.
Futebol de formação. O que está previsto desde a academia até aos sub-19? O Leixões Sport Club, conhecido como viveiro de jovens talentos e os famosos bebés, arrisca-se a ficar apenas com uma equipa, os sub-17, nos Campeonatos Nacionais. O Leixões orgulha-se de ter o maior número de atletas inscritos na Federação, mas esse modelo tem produzido resultados desportivos?
O Leixões tem pergaminhos no futebol de formação e uma alcunha “Bebés do Mar” que temos obrigação de honrar e perpetuar. Nos últimos anos, investimos no processo de certificação, o qual aportou melhorias em vários departamentos técnicos e de apoio (médicos, fisioterapia, nutrição, psicologia, escolar e social), aumentamos o número de atletas e logramos orgulhosamente liderar o ranking de atletas federados. Porém, em termos desportivos, excetuando os sub-17, os quais se encontram a disputar a fase final da categoria, temos apresentado resultados muito aquém do expetável, especialmente nos sub-19. As principais razões derivam da pouca profundidade dos plantéis e na extrema dificuldade em reter e captar novos talentos, pois estamos a competir com outras realidades que facilmente pescam no nosso “Mar”. Estes constrangimentos podiam ser colmatados com a atribuição plena da verba da UEFA para o desenvolvimento do futebol de formação. Atualmente o clube tem direito a receber 25% da verba.
Vai haver alguma reestruturação? No futuro, é possível ver jogadores “Made in Leixões” a representarem a equipa profissional, sendo esta responsabilidade da SAD?
Temos estado a repensar o projeto formativo e desportivo, pelo que vamos redefinir o organograma, com definição clara de funções e competências, com particular incidência no investimento do departamento de scouting, implementando um modelo de prospeção local, envolvendo as escolas, colégios e outras instituições locais, criando um departamento técnico que vise potenciar o treino específico nos mais diversos escalões, particularmente na base. Paralelamente, e porque considero que temos vindo a perder identidade e mentalidade competitiva, vamos reforçar junto de toda a estrutura o nosso ADN e os nossos valores, os quais deverão estar presentes em todas as equipas da formação. O nosso objetivo sempre foi claro, produzir talentos com ADN Leixões capazes de alimentar a equipa profissional, porém defendo que deve existir uma articulação mais séria e eficaz entre as entidades. Os atletas precisam de sentir que alguém os está a monitorizar e a acompanhar a evolução, pelo que, a chamada regular à equipa de sub 23 e equipa B deverá ser uma realidade.
Relação com a SAD. Como está a parceria e o cumprimento do protocolo?
É uma relação de dependência, paciência e sensibilidade, onde o clube procura equilibrar a razão e o coração. Esta relação está assente num protocolo, o qual está em incumprimento e a impactar negativamente a vida do clube, afetando o cumprimento das obrigações fiscais e sociais. Sabemos que o futebol é a mola, o grande catalisador, e que a SAD envidou esforços para construir uma equipa forte e competitiva, porém necessitamos da colaboração da SAD para que o clube mantenha o firme compromisso de proteger a identidade e o futuro. Acredito que o André Castro vai honrar a palavra e apresentar um plano de pagamentos transparente e claro.
Infraestruturas. O que está previsto para o futuro? Terrenos situados atrás da bancada do Óscar Marques. Um ou dois sintéticos e quando é que serão uma realidade? E a cobertura na bancada do Óscar Marques? Outros projetos?
Em termos de infraestruturas, este mandato ficará para a história! Relativamente ao Estádio do Mar, estamos a ultimar a apresentação do projeto de operacionalização da bancada norte, cumprindo com os formalismos e requisitos da Liga Portugal. No tocante ao Complexo Óscar Marques, a autarquia abriu concurso público para a execução do campo sintético n.º 2, o qual será uma realidade na próxima época desportiva e no que concerne à colocação de cobertura na bancada do campo n.º 1, acreditando na palavra do sr.º vereador do Desporto, dr.º Nuno Matos, a mesma está a ser equacionada para o ano de 2026. Destaco pela importância, a reabilitação da sede social do clube, o pavilhão Siza Vieira, tema que está a ser assessorado por um grupo de notáveis matosinhenses, onde se inclui o arquiteto Siza Vieira, que se prontificou a elaborar o projeto de reabilitação do espaço, que prevê a criação de um museu e de um campo de jogos para a prática desportiva.
Relação/diálogo com Câmara de Matosinhos e entidades/instituições da cidade. Tem havido ligação, nomeadamente, com a autarquia?
A relação com a autarquia é intemporal, tem atravessado gerações e é absolutamente essencial para a promoção do desporto. O apoio da câmara ao nível financeiro, logístico, infraestruturas, instalações desportivas e organização conjunta de eventos, tem permitido ao clube o desenvolvimento da atividade desportiva, inclusive, social e a formação de jovens atletas, mas, obviamente, que atendendo à dimensão do Leixões e ao nosso estatuto de maior potência desportiva do concelho e uma das mais significativas em Portugal, necessitamos de mais apoio do tecido empresarial de Matosinhos.
Para terminar, ao fim destes anos, o que mudou no Jorge Moreira, líder da claque Máfia Vermelha, que se tornou presidente do Leixões Sport Club? Alguma vez se arrependeu de ter tomado a decisão de avançar e agarrar a responsabilidade?
É difícil expressar por palavras essa mudança. No passado recente, sentia-me tão somente a representar as emoções de um grupo muito ligado à cultura do clube e da cidade, atualmente tenho uma perspetiva mais abrangente, que atende aos interesses e necessidades dos dirigentes, treinadores, atletas, sócios, simpatizantes e parceiros. No passado desempenhava um papel e agora dou por mim a representar vários papéis intrínsecos ao cargo de presidente, no contacto com diferentes entidades/parceiros. Ora sou advogado, jurista, arquiteto, contabilista, financeiro, psicólogo, comercial. No fundo à ligação emocional e idealista, acresceu a exigência e responsabilidade sobre a gestão de todos os recursos do clube. Sendo que o meu maior desafio é equilibrar a paixão com a gestão, para garantir a sustentabilidade do projeto a longo prazo. Considero que sempre comandei o meu destino, e o meu destino é servir o Leixões. Durante demasiados anos andei atrás do Leixões e à meia-dúzia de anos sinto que o Leixões anda atrás de mim. Tenho presente que servir o clube representa exigência e uma enorme responsabilidade, mas encaro este sentimento como um compromisso e uma missão que transcende todo e qualquer interesse individual, pois nada nem ninguém está acima do símbolo.