José Armando Sá resolveu último dérbi: "Eram jogos com campo cheio e de grande intensidade"
Feirense e Lourosa voltam a defrontar-se em jogos oficiais, 37 anos depois, para o playoff de acesso à Liga 2. O último duelo foi decidido por José Armando Sá, que recorda dérbis de lotação esgotada que eram vividos com muita intensidade, dentro e fora das quatro linhas.
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Há 37 anos que o concelho da Feira não via um duelo, de cariz oficial, entre Feirense e Lourosa. O último, em dezembro de 1986, a contar para a Taça de Portugal, foi resolvido por José Armando Sá, então "um miúdo quase a fazer 19 anos e com uma grande ambição". Foi da sua cabeça, na sequência de um pontapé de canto, que surgiu o golo que valeu o triunfo ao Feirense (1-0), à entrada do último quarto de hora, que decidiu um jogo que "estava a ser equilibrado, com várias oportunidades de parte a parte".
Aquele foi um momento especial, até porque "quem marcasse naqueles jogos, sempre de campo cheio, era falado durante uns dias". "Entre duas a três semanas, andei a ser falado entre amigos. Foi uma grande festa, estava muita gente no estádio. Jogos entre Feirense e Lourosa tinham sempre campo cheio, mesmo nas camadas jovens. Eram vividos com grande intensidade", acrescenta.
"No dia seguinte, um adepto do Feirense convidou-me para irmos tomar um café. Para meu espanto, levou-me às piscinas de Lourosa, para mostrar às pessoas quem tinha marcado o golo no dia anterior, só para as "picar" um bocadinho", lembra, entre sorrisos, sublinhando que "a rivalidade existia apenas dentro do campo, porque tinha imensos amigos e colegas a jogar do outro lado".
Nesse jogo, os seus dotes cativaram até o então selecionador nacional dos sub-21, António Oliveira, que estava no Estádio Marcolino Castro para observar Zé Pedro, jogador do Lourosa. "No fim, um diretor do Feirense disse-me que ele gostou do jogo que eu fiz", recorda.
José Armando Sá conta que sempre teve queda para marcar em partidas frente ao Lourosa. Já tinha acontecido, por exemplo, num jogo da fase de apuramento de campeão de juniores. "O campo estava cheio e eu entrei a 10 minutos do fim, com o resultado em 0-0. Da primeira vez que toco na bola, faço golo. Foi de fora da área, sem deixar cair a bola, metia-a no ângulo. Toda a gente disse que eu tinha tido sorte. Também achei, mas na altura dizia que o mérito era meu", diz, sempre em tom animado.
O desfiar da memória faz com que as histórias se sucedam numa cadência fluída. "Em Lourosa, numa equipa em que jogavam o Martelinho, que foi campeão nacional no Boavista, e o Caetano, o Feirense precisava de ganhar. Estivemos a ganhar 2-0, o Lourosa marca o 2-1 e, no último minuto, faz o 2-2. Acabou o jogo e houve invasão de campo. Tivemos de fugir do campo, com a ajuda dos diretores do Lourosa. São recordações que ficam", nota.
Nesta história de rivalidade e de "jogos imprevisíveis", segue-se o playoff por uma vaga na próxima edição da Liga 2. "Hoje, não há a mística de antigamente, mas o transportar daquele calor humano das pessoas que estão do lado de fora vai fazer com que os jogadores sintam que este é um grande dérbi de Santa Maria da Feira", acredita José Armando Sá, hoje com 56 anos e a viver nos Açores, que remata: "Gosto muito do Lourosa, mas quero que o meu Feirense vença".
A experiência de uma vida no Brasil
A carreira de José Armando Sá, enquanto jogador, foi passada por Aveiro, em clubes como o Feirense, o Arrifanense, o Cucujães, o Esmoriz, o Bustelo, o Valecambrense e o já extinto Amigos do Cavaco.
Foi já como treinador, em 2007, que decidiu embarcar para a experiência de uma vida, rumo ao Brasil. "Tinha o sonho desde criança de conhecer o Maracanã e de sentir o que é o futebol brasileiro. Quando tive a oportunidade, fui. Corri o Brasil quase todo, menos o sul, sempre como treinador principal. Consegui também montar duas academias de futebol, em duas cidades de Minas Gerais. Uma tinha 780 alunos e a outra 500. Foi maravilhoso", recorda.
"Os estaduais são uma festa do povo e também estive na Copa do Brasil e nas séries C e D. Já tive a oportunidade de voltar ao Brasil, mas com esta idade quero estar mais tranquilo e sossegado. A ilha de São Miguel, nos Açores, é boa para isso", acrescenta o atual treinador do Benfica Águia.
José Armando Sá atravessou o Atlântico quando muito poucos o faziam tendo como perspetiva fazer carreira como treinador. Hoje, a Série A brasileira está repleta de técnicos portugueses, entre os quais o bicampeão pelo Palmeiras, Abel Ferreira. José Armando Sá não se mostra surpreendido.
"Os treinadores brasileiros não quiseram estudar, pararam no tempo. Eu via os meus jogadores admirados com os treinos que eu dava, porque nunca tinham treinado assim. Não me admirou nada que os treinadores que chegaram lá depois conseguissem o sucesso que estão a ter. E mais treinadores vão para lá", acredita.
Histórico de equilíbrio
A rivalidade entre Feirense e Lourosa remonta à década de 1930. Já se disputaram 52 partidas oficiais entre ambas as equipas, com os lusitanistas a vencerem 23 e os fogaceiros 22, registando-se ainda sete empates. O "fator casa" tem pesado bastante no histórico do dérbi. Resta saber como será no playoff de acesso à Liga 2, que arranca no próximo domingo, em Lourosa (11 horas).