José Couceiro: "Pretendemos que a Liga 3 seja uma competição transparente, credível e íntegra"
Diretor técnico e vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol explica ao JN como vai ser o novo terceiro escalão do futebol português. Arranca já na próxima temporada.
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No fim de semana que marca o arranque da fase de acesso à Liga 3, prova que se estreia na próxima temporada, José Couceiro enaltece a maior competitividade que ela trará, possibilitando aos clubes uma melhor preparação na última etapa competitiva antes dos campeonatos profissionais. O vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol e Diretor Técnico Nacional ressalva os esforços feitos para garantir a integridade da competição e lembra que este é apenas mais um passo, tendo em vista o crescimento e a consolidação da modalidade, em Portugal.
Em plena pandemia, sente-se aliviado por estar a ser possível cumprir o calendário previsto para o Campeonato de Portugal?
Não é tanto aliviado, isso seria se tivesse receio. Diria mais que estamos satisfeitos por estar-se a conseguir com que a competição se realize. É bom que possamos chegar ao fim, num ano muito difícil. Só é possível porque toda a gente tem feito um esforço fantástico, desde os clubes às associações, à Federação e à nossa direção de competições.
Com a desistência de algumas equipas, os vários casos de covid e até pelas questões financeiras que afetam os clubes, temeu que o Campeonato de Portugal pudesse não chegar ao fim?
Esteve sempre sobre a mesa a possibilidade de não o podermos terminar. Aliás, ainda está e não vai deixar de estar. Temos de continuar a ter cuidado e cumprir as regras e os protocolos definidos. Por outro lado, percebemos que tínhamos de ter um modelo diferente. Na época passada, as equipas que chegassem ao último encontro teriam de fazer 39 jogos, agora fazem apenas 29. Houve uma redução considerável e isso foi feito com essa intenção.
Entramos na fase das decisões, com a novidade da Liga 3 no horizonte. Este novo campeonato permitirá uma maior competitividade?
Claro que sim. Esta decisão não foi uma consequência da pandemia, já estava a ser preparada antes. Chegámos à conclusão de que o Campeonato de Portugal era uma competição muito desequilibrada e não preparava da melhor forma as equipas para o acesso às competições profissionais. Ao mesmo tempo, não era o espaço ideal para o crescimento dos próprios jogadores, dos treinadores e dos árbitros. Criando um nível de competência superior, a Liga 3, estamos a resolver esse problema.
Falou nos jogadores, nos treinadores...
...E nos árbitros também. Não há bons jogos de futebol sem boas arbitragens. Também somos responsáveis pela formação dos árbitros.
Cada equipa terá de inscrever 13 jogadores formados localmente em cada ficha de jogo. Porquê?
Há aqui várias componentes importantes. É necessário criar condições para que não haja nenhum descalabro económico e financeiro na competição. Tem de haver equilíbrio na forma de gerir tudo isso e apostar nos jogadores formados localmente é uma forma importante de o conseguir.
Quanto aos treinadores, o nível III é o exigido, mas os técnicos de clubes promovidos que tiverem apenas o nível II podem assumir o comando das equipas. Porquê esta abertura?
Um treinador que sobe de divisão, e se continuar nessa equipa, tem de ter a possibilidade de continuar ligado a ela e de poder aceder ao seu nível do curso. É uma questão de justiça para com alguém que teve mérito.
Com a Liga 3 será possível potenciar receitas?
Pretendemos potenciar a prova a um nível mais elevado, para depois os clubes poderem adquirir esse conhecimento. Sabemos que, hoje, a Federação tem um know-howsuperior e vamos pô-lo ao serviço desta Liga 3, porque essa é a nossa função. Posteriormente, pretendemos transferir essa tarefa para os clubes, mas nesta primeira fase sabemos que a Federação terá um papel importante em ajudá-los a ter essa estrutura. Tanto a disciplina financeira como a promoção da estabilidade são objetivos claros para a competição, para além de a potenciar ao nível comercial.
Outro dos aspetos que a FPF define como prioritário prende-se com o escrutínio relativamente aos donos das SAD. De que forma ele será feito?
Isso tem a ver com a integridade e a transparência da competição. Os clubes têm um conjunto de obrigações que têm de cumprir. Pretendemos que a competição seja completamente transparente e credível, que seja íntegra. Não podemos permitir que haja dúvidas.
O Campeonato de Portugal já foi palco de algumas situações complicadas a esse nível. Sente que o combate a este problema está a surtir efeitos?
Percebeu-se que esta época já foi diferente da anterior. Temos condições diferenciadas a todos os níveis, e sentimos isso. Mal de nós que não trabalhássemos para evoluir para melhor.
É também por isso que surge a obrigatoriedade de os clubes terem de apresentar declarações de não dívida e atestar que os jogadores não recorreram ao fundo de regularização salarial?
Queremos ajudar os clubes a serem estáveis, a terem equilíbrio e a cumprirem as regras. Não há outro caminho que não seja o da seriedade. Queremos uma concorrência leal entre as diversas equipas. Haverá alguém que vai ganhar a competição, mas terá de ser por mérito desportivo.
A Liga 3 é a resposta para as necessidades atuais?
É uma das respostas. Temos de continuar a perceber a evolução, inclusivamente nos escalões de formação que, em grande parte, vão alimentar esta competição superior. É preciso perceber que estas reformas não se conseguem fazer de um dia para o outro, mas, pelo feedback que temos de clubes e associações, acreditamos que esta prova vai ser um sucesso.