Kundananji tornou-se a primeira africana na história a quebrar um recorde de transferências no futebol feminino. Do país Natal para o Cazaquistão, encontrou a melhor forma em Madrid e vai agora viver o “American Dream” no Bay FC, que pagou 800 mil euros por esta avançada.
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Nas ruas da Zâmbia tudo acontecia em segredo, enquanto a mãe trabalhava duramente nas minas, Racheal ia com os rapazes jogar futebol com bolas feitas com plástico e algodão dos sacos de farinha: ”A minha família pensava que ia para casa da minha amiga,” revelou a jogadora à BBC. Depois da descoberta, os pais pensavam que era só um passatempo que rapidamente ia passar. Kundananji afirma que este tipo de julgamento e opressão ainda acontece muito em toda a África.
O sucesso não foi imediato e passou por alguns percalços. O caminho começou no Indeni Roses, um dos nomes mais fortes do futebol feminino na Zâmbia, e aos 18 anos foi jogar para o Cazaquistão a receber cerca de 1500 euros mensais com alojamento incluído, o que na altura satisfez a jogadora. Passou três anos no BIIK Kazygurt, a melhor equipa do campeonato cazaque, ao mesmo tempo que ajudou a sua seleção a chegar aos Jogos Olímpicos de 2020.
Seguiu-se Espanha, no Eibar fez apenas uma época onde participou em 21 jogos e assinalou oito golos. A sua qualidade não passou despercebida ao Madrid CFF, para onde se mudou e realmente se destacou. Num período de 18 meses marcou 33 golos juntamente com seis assistências em apenas 46 jogos.
As dificuldades não ficaram na juventude de Kundananji. Em 2022, foi impedida de participar na CAN pelo dirigente da própria federação da Zâmbia, justificando com razões médicas por não passar nos “critérios de género”. No Mundial, já foi permitido as jogadoras participarem, mas a polémica não desapareceu, desta feita o selecionador Mwape foi acusado de assédio por uma jogadora: ”Se quiser dormir com alguém, tens que dizer que sim”.
Mayra Ramírez, que saiu do Levante para o Chelsea por meio milhão de euros, era a transferência mais cara no mundo do futebol feminino, mas o Bay FC, deu ao Madrid CFF valores que chegam aos 800 mil euros pelos serviços da internacional zambiana, que possui agora um contrato de cinco anos onde vai receber 2,5 milhões de euros divididos por época. A equipa americana só se vai estrear este ano na NWSL (principal liga de futebol feminino nos EUA), e está a apostar forte na sua entrada no campeonato, contratando a ex-defesa do Arsenal Jen Beattie e a avançada nigeriana Asisat Oshoala, ídola de Racheal que afirma :”muitas de nós em África tentamos jogar como ela”.
A avançada da Zâmbia, de 23 anos, revela que ainda não contou à mãe que é a transferência mais cara do futebol feminino, apenas disse que vai ser algo grande. Kundananji vai passar de jogar na capital espanhola, num estádio com apenas três mil lugares, para um de 18 mil espectadores em San Jose, na Califórnia. A jogadora promete “ dar tudo para que os adeptos (do Bay FC) gostem de me ver jogar e marcar golos”.