Bayer Leverkusen pode garantir amanhã o primeiro troféu de campeão e superar traumas que persistem há duas décadas
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O panorama dificilmente poderia ser mais favorável e prometedor, mas o adepto mais pessimista do Bayer Leverkusen ainda andará esbaforido a apelar à calma e à prudência, passando a palavra de que nada está garantido. Os traumas têm destas coisas e no futebol alemão dificilmente haverá alguém mais traumatizado do que os “farmacêuticos”, esfarrapados de tantas e inexplicáveis desfeitas. Em 2000 e 2002, eles sabem-no bem, também parecia tudo bem encaminhado, mas o que ficou foram falhanços a tal ponto monumentais que, desde aí, o clube passou a ser conhecido por “Neverkusen”, uma alcunha maldosa, embora à medida de quem parecia incapaz de arrecadar títulos mesmo quando o mais difícil era isso não acontecer. Amanhã, é a altura de exorcizar esse fantasma: ou seja, de ser, finalmente, campeão.
Em 1999/2000, o Bayer chegou à última jornada a depender apenas dele para ser campeão: o empate chegava, mas um autogolo da estrela Michael Ballack anunciou a derrota e a “Salva de Prata” foi para o Bayern; duas épocas depois, o cenário foi ainda mais vantajoso e a desilusão ainda maior, com os “farmacêuticos” a desperdiçarem uma vantagem de cinco pontos nas últimas três jornadas, perdendo o título para o Dortmund. Dias depois, foi-se a Taça da Alemanha (4-2, com o Schalke), antes de o Real Madrid dar a estocada definitiva na final da Liga dos Campeões. Os danos na alma e no bom nome de um clube que subiu a pulso na hierarquia germânica e que vinha em trajetória ascendente desde a década de 1980 estavam feitos e pareciam irreversíveis. Depois disso, o Leverkusen não voltou a esboçar sequer uma tentativa de ser campeão e parecia condenado a nunca mais reaver uma oportunidade como aquelas, resignando-se pelo caminho a essa existência mais ou menos mediana.
Assim, aquilo que lhe surge agora adiante é mais do que um simples título inédito, que será garantido com uma vitória amanhã, na receção ao Werder Bremen (16.30 horas) ou em qualquer uma das cinco jornadas seguintes, graças ao avanço de 16 pontos em relação ao segundo classificado. Em jogo está também um rótulo perdedor que a equipa de Xabi Alonso tem colocado em causa ao longo da temporada - 41 jogos, 36 vitórias, cinco empates e zero derrotas -, e erradicar um trauma que tem raízes profundas. O Leverkusen está ainda na final da Taça da Alemanha e nos quartos de final da Liga Europeu, podendo terminar 2023/24 com três troféus ganhos, tantos quantos ganhou... nos 120 anos anteriores.