No mundo do futebol não é segredo que o desempenho dos treinadores é avaliado com base nos resultados desportivos, sendo que essa responsabilidade recai frequentemente numa só pessoa.
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Segundo um estudo do Football Benchmark, nesta época, que está prestes a terminar, vai ser batido o recorde de treinadores despedidos nas cinco principais ligas europeias. Seguindo o raciocínio do relatório, as ligas de Inglaterra, Espanha, Itália, França e Alemanha contrataram 170 treinadores esta época, mais 26% em relação ao ano passado, para os 98 clubes participantes.
Se se analisar as últimas cinco temporadas, vê-se que passaram pelos 98 clubes um total de 320 treinadores diferentes, muitos deles despedidos a peso de ouro. Segundo o Football Benchmark, nesta temporada, a Premier League estabeleceu um novo recorde de treinadores, com um total de 42, sendo que disputam o campeonato 20 equipas. Embora quase um quarto delas tenham sido soluções temporárias, os restantes 33 treinadores "representam um grande salto em relação ao número comparável da temporada passada, que foi de 27".
Na liga inglesa, onze clubes mudaram de treinador durante a atual temporada, quatro a mais do que em qualquer uma das temporadas dos últimos cinco anos. A natureza dos despedimentos na Premier League é igualmente interessante, "já que a maioria dos treinadores despedidos tinha contratos de longo prazo", o que fez com que "os clubes sofressem fortes golpes financeiros" devido ao pagamento de indemnizações milionárias. Um exemplo é Graham Potter, que assinou contrato até 2026/27 em setembro com o Chelsea, mas foi despedido após apenas 31 jogos no cargo. Já Jesse March e Brendan Rodgers tinham contratos até 2025 com o Leeds e Leicester City, respetivamente.
Vários técnicos por temporada
Outro dos fenómenos que aconteceu este ano foi a mudança de treinador mais de uma vez ao longo da temporada. Foi o caso do Chelsea em Inglaterra e outros cinco clubes das principais ligas europeias. O Football Benchmark escreve que, "do ponto de vista dos clubes, a falta de resultados pode explicar as mudanças, enquanto do ponto de vista dos treinadores, os frequentes despedimentos podem dificultar a sua consolidação e o seu estilo de jogo" e alerta que "o nível de segurança no emprego também pode afetar a atratividade de certos clubes, já que os treinadores podem hesitar em aceitar um emprego em uma equipa tem um histórico de despedir treinadores com frequência". Dá o exemplo do Elche, em Espanha, que teve seis treinadores diferentes ao longo da época e, no entanto, não conseguiu sair da última posição da La Liga. Casos semelhantes ao do Southampton, já despromovido, e do Leeds que ainda luta pela permanência em Inglaterra após várias mudanças de treinadores.
O despedimento de Julian Nagelsmann pelo Bayern de Munique serve também como um exemplo de como a pressão de estar no topo pode dar maus resultados. Quando Nagelsmann liderava a equipa, estava a disputar a Liga dos Campeões, a taça alemã e estava no segundo lugar da Bundesliga. Mas a direção do clube tomou a decisão de despedir o treinador em março, alegando acreditar que "ele não era a pessoa certa para o cargo". Contrataram Thomas Tuchel, despedido do Chelsea, e o clube já foi eliminado da Champions, da taça alemã e lidera a Bundesliga por um ponto de diferença em relação ao Borussia de Dortmund a duas jornadas do fim.
Indemnizações milionárias
O estudo também alerta para as implicações financeiras de um despedimento, "pois os clubes podem ser obrigados a pagar indemnizações a vários treinadores em simultâneo". O Football Benchmark refere que "despedir um treinador pode sair caro, especialmente se ele tiver um contrato de longo prazo com um salário alto". Dá o exemplo prático do português José Mourinho que recebeu "mais de 100 milhões de euros durante a sua carreira apenas em pagamentos de indemnizações", acrescentando que embora este seja um exemplo extremo, "os salários dos treinadores - assim como os dos jogadores - provavelmente irão aumentar ainda mais nos próximos anos, especialmente nos clubes maiores e mais ricos".
No entanto, nem tudo é desgraça. Há também exemplos em que a mudança de treinador a meio da época foi muito bem-sucedida. É o caso do espanhol Xabi Alonso, que assumiu o comando do Bayer 04 Leverkusen quando a equipa estava em 17º lugar da Bundesliga em outubro. Atualmente, o clube está em sexto lugar, chegou às meias-finais da Liga Europa sem ter contratado novos jogadores durante a janela de transferências de janeiro. Da mesma forma, Roberto De Zerbi tem sido uma revelação no Brighton, com os colegas da liga inglesa, como Pep Guardiola, a reconhecer as proezas táticas do italiano. O Brighton, pela primeira vez, luta por um lugar nas competições europeias de clubes da próxima temporada.
O Football Benchmark refere ainda o treinador português Paulo Sousa, "que se estreou no Salernitana numa situação difícil e, apesar do valor de mercado da equipa ser relativamente pequeno (103 milhões de euros), conseguiu afastar o clube da descida de divisão".
Só nove equipas acreditam nos técnicos
Nas últimas cinco temporadas, apenas nove clubes das cinco grandes ligas mantiveram a fé no técnico, com Diego Simeone, do Atletico de Madrid, a liderar. "Assim como ele, Christian Streich conduz os destinos do Freiburg (Alemanha) desde 2011, seguido por Olivier Pantaloni, do AC Ajaccio (França)", indica o relatório.
O mandato médio dos atuais 98 treinadores de clubes dos "Big Five" é de 618 dias, com apenas 17 técnicos a terem mais de mil dias no cargo. No outro extremo da escala, 11 clubes empregaram pelo menos oito treinadores nos últimos cinco anos, "com o FC Schalke 04 a atingir um total de 11 técnicos - mais de dois por ano em média".