Luís Cirilo Carvalho, de 65 anos, sócio 586, é candidato pela lista A à presidência do V. Guimarães, no ato eleitoral agendado para 1 de março. O dirigente, com passado no clube, apresentou algumas das suas ideias e não poupou nas críticas à atual direção.
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O Luís Cirilo é um homem com história na vida do Vitória e decidiu avançar, este ano, com uma candidatura à presidência do Vitória. O que o levou a tomar essa decisão?
Estou no Vitória há 52 anos como associado e 60 como adepto. Fiz parte de quatro direções, da Mesa da Assembleia Geral, fui presidente da comissão que comemorou os 75 anos e coordenei durante alguns meses a comissão do centenário. Tenho um longo passado no Vitória e fui construindo uma ideia e uma visão do que deve ser o Vitória. Se calhar, esta candidatura podia ter aparecido mais cedo, mas também não apareceu por diversos fatores. Numa das eleições, fiz uma coligação com a candidatura do Júlio Mendes e apresentamos uma lista conjunta. Depois, em 2015, 2018, 2019 e 2022, tinha outras atividades. Estava até a residir em Lisboa, fruto do trabalho que tinha na altura. Agora, tenho essa disponibilidade, tenho essa vontade, reuni um bom grupo de vitorianos e cá estamos.
O que entende que está mal?
Se estivesse moderadamente satisfeito, não me candidataria. Candidato-me porque entendemos que temos uma proposta melhor do que tem sido a gestão destes últimos três anos. Acreditamos no que queremos fazer e foi, por isso, que nos candidatamos em primeiro lugar e estamos a fazer sessões de esclarecimento por todo o concelho. Entendemos que os sócios merecem isso e é um ato de respeito fazer campanha eleitoral. A direção cessante devia fazer o mesmo. Devia explicar aos associados o que foi feito e o que querem fazer.
O que tem de diferente o seu projeto?
O Vitória tem vivido mergulhado em aparências nestes últimos três anos. Fala-se muito numa grande gestão financeira, mas a verdade é que o passivo aumentou substancialmente. Era de 46 milhões em junho de 2022 e está em 67 milhões em junho de 2024 e o passivo consolidado já está nos 72 milhões. Fico admirado quando alguns consideram uma gestão de sucesso aumentar o passivo em 26 milhões de euros. É uma situação preocupante e a ideia de que as coisas estão a melhorar, não passa de aparência. Depois, há a aparência dos grandes negócios. A atual direção, desde que tomou posse, teve como única solução, além de pedir empréstimos, que disse que não o faria, vender jogadores obsessivamente. E tem vendido muito abaixo do real valor. De que vale ter cláusulas de 20, 30, 40 ou 50 milhões, e depois se vende por milhão e meio, dois ou três milhões por desespero, por ausência de soluções. Na última campanha, o atual presidente disse que tinha uma almofada financeira, que até apresentou, mas depois percebeu-se que não tinha nenhuma. E foi fazer um empréstimo, que se saiba com uma taxa de juro ruinosa. Além disso, há uma aparência de estabilidade, mas vejo uma debandada em todos os setores. Entre órgãos sociais eleitos, dirigentes intermédios e responsáveis técnicos, já saíram largas dezenas de pessoas. Aconteceu com esta direção, o que nunca tinha acontecido, que foi o Conselho Vitoriano ter-se demitido em bloco. Foi o scouting que se demitiu todo, dos quatro vice-presidentes de 2022, dois já saíram há muito e outro não se recandidata. O presidente da Assembleia Geral não se candidata e o mesmo acontece com o presidente do Conselho Fiscal, que termina funções com fortes críticas. Já pedimos um vasto conjunto de esclarecimentos contabilísticos, financeiros e sobre a V Sports, para sabermos se é ou não parceiro. Se a V Sports estiver interessada em investir no Vitória, será um parceiro preferencial porque já cá está, embora tenha lido uma entrevista do presidente a dizer que a V Sports não veio para investir. Veio para quê, então? Para emprestar dinheiro? Para isso há bancos. Se não quiser, outros investidores irão aparecer. Não estamos preocupados.
Mas tem soluções para combater o elevado passivo?
Além da entrada de investidores, seja a V Sports ou outro, desde que ajudem a resolver problemas, vamos querer implementar um programa de redução do passivo, que já existiu, e que não mexa com a competitividade. Depois, iremos negociar com um parceiro credível o naming do estádio. O D. Afonso Henriques é intocável, porque foi atribuído por votação dos sócios, mas pode ser D. Afonso Henriques com o nome do investidor. A exemplo do que fazem outros clubes europeus, gostava de criar uma Fundação Vitória Sport Clube, virada para a ação social, para a cultura e educação, que permita ao Vitória prestar mais serviços à comunidade. E, como Fundação sem fins lucrativos, terá acesso a determinados fundos europeus. Claro que terá de ser com investidores, porque obriga a um capital social mínimo. Não poderá ser só o Vitória, nem é desejável que seja só o Vitória
E para o futebol?
Estamos fartos dos anos zero. É inaceitável, em janeiro, despachar seis ou sete jogadores, mais os que já tinham sido vendidos com a época a decorrer, como Jota Silva e Ricardo Mangas. E já vamos no terceiro treinador. Não é forma de gerir um plantel e um clube. O Tomás Ribeiro foi dado ao Farense para depois contratar-se um jogador ao Portimonense. Gosto muito do Algarve, mas o clima algarvio não é suficiente para justificar estes maus negócios. É preciso ter um diretor desportivo que o seja de fato e não apenas de nome, e um treinador que fique três, quatro ou cinco anos, como ficaram Rui Vitória ou Mário Wilson, nos anos 1970. Com o atual presidente, em três anos, já tivemos 9 treinadores, a contar com os interinos. É inaceitável. O Pepa nem começou a época e o Moreno fez uma época e na seguinte saiu ao fim do primeiro jogo. O Álvaro Pacheco saiu pela rábula do jantar em Lisboa, que o presidente sabia e depois disse que não sabia. O Rui Borges certamente foi auferir um melhor salário, mas não acredito que o salário explicasse tudo. Uma das razões para ele aceitar sair, talvez, foi saber que ia haver esta debandada em janeiro. E o Rui Borges disse que não pediu para sair do Vitória. O Vitória é que, se calhar, teve interesse em fazer uma venda apressada. E não é aceitável contratar um treinador e despedi-lo ao fim de três jogos. Quando o presidente contratou o Luís Freire, disse que era um treinador que estava há muito tempo no radar. Então, porque não o contratou a seguir ao Rui Borges. Estava desempregado na altura. O que posso garantir, e é um compromisso que assumo, é que o próximo ano será de investimento a sério na equipa principal e na equipa B, que queremos que suba de divisão. Vamos tentar que, num curto prazo, suba à segunda liga. A equipa B foi criada por mim, na direção do Júlio Mendes, para jogar na segunda Liga.
E o forte investimento será com que objetivo?
Gostava de dizer que era para sermos campeões, mas não vou dizer isso. O Vitória é o quarto clube com mais presenças na 1.ª Divisão, é o quarto com maior assistências e tem de ser o quarto em termos classificativos. Não quer dizer que seja sempre, pois temos de reconhecer friamente que o Braga está em muitos itens à nossa frente, porque tem uma estabilidade diretiva verdadeira. Mas não é nada que não se resolva rapidamente. Uma direção que saiba o que é o Vitória, estou convencido que o projetará, numa primeira fase, para ser o quarto clube em termos classificativos, como foi nos anos 80 e 90. Depois, criará os caminhos, e não quer dizer que seja essa direção a percorrê-los, para que o Vitória, a médio-prazo, possa ambicionar lutar pelo título. No futebol e nas modalidades, é para sermos competitivos. E não teremos novas modalidades, nomeadamente o futsal, por razões financeiras e logísticas.
Diz que se for eleito será o presidente do Vitória e não do futebol?
Na direção do Júlio Mendes era vice-presidente para o desporto e tinha o futebol e as modalidades. Fui um vice-presidente presente junto das modalidades. Sempre que podia marquei presença no pavilhão e muitas vezes nas piscinas para ver o polo aquático. Sempre me interessei pelas modalidades. Terão sempre uma atenção especial e vamos empenhar-nos para que tenham mais espaços de treino. Há promessas da Câmara Municipal para construção de espaços, promessas que se arrastam há bastante tempo, como há a história do novo complexo desportivo, que já se fala há 15 anos. Depois admiram-se que o Braga esteja a construir uma cidade desportiva em poucos anos, que serve o futebol e as modalidades. Queremos manter o complexo para a formação e acabar o miniestádio para que a equipa B tenha o seu espaço, mas precisamos de outro espaço, fora da cidade, para a equipa profissional.
E para os sócios?
Os sócios são a alma e o sangue do clube. Mas há algo importante a fazer, que é a revisão estatutária. Os estatutos estão desatualizados. É importante contemplar novas possibilidades. E introduzir, o que caberá aos associados decidirem, a questão da antiguidade para ocupar cargos nos órgãos sociais. Ter apenas um ano de sócio e poder candidatar-se a presidente é muito pouco. Deve existir uma antiguidade mínima. Para ser presidente do Vitória deve ter no mínimo dez anos de associado.