Luís Gonçalves: "Quando perdemos a Taça da Liga, as palavras do Sérgio foram um grito de alerta para todos"
Luís Gonçalves, diretor geral do F. C. Porto, foi o entrevistado do programa Universo Porto, do Porto Canal, esta noite de quarta-feira, no qual falou sobre vários temas sobre a época dos dragões, com especial ênfase no treinador Sérgio Conceição e nos "casos" Danilo e Nakajima.
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Na hora da festa, o dirigente portista apontou sem vacilar o obreiro da conquista do 29.º título nacional. "O Sérgio Conceição foi fundamental para isso, pois nunca desistiu. A palavra que tivemos sempre no nosso balneário foi a de que nós vamos ser campeões. Em todos os momentos isso foi dito e sentido e empenhámo-nos todos para o conseguir", salientou Luís Gonçalves, reconhecendo, contudo, que o caminho foi árduo.
"Foi muito difícil. Fazendo a história do que foi o campeonato, começámos no Gil Vicente com um jogo que não nos correu nada bem, perdemos, depois tivemos a segunda mão da eliminatória com o Krasnodar e também perdemos, fomos eliminados e foi uma das coisas que nos marcou profundamente", referiu o diretor geral dos azuis e brancos, acrescentando: "A eliminação foi muito má. A competição em que o F. C. Porto gosta de estar é a Champions, por direito próprio, porque tem sido melhor, porque já ganhou, consegue excelentes resultados e joga praticamente olhos nos olhos com as melhores equipas europeias. Portanto, para nós foi mesmo uma frustração. Serviu para que percebêssemos que tínhamos de nos unir para atingir o objetivo que queríamos de ser campeões, pois no ano anterior soube-nos muito mal o que aconteceu".
O campeonato também foi analisado. "Ganhámos 4-0 ao V. Setúbal em casa e depois brincaram com a nossa dignidade. O rival tinha ganho a Supertaça ao Sporting por 5-0, e pensaram que iam brincar connosco e fazer de nós bonecos. Mas saiu-lhes o tiro pela culatra, pois mostrámos que somos a melhor equipa, fizemos uma exibição de gala, não me lembro do nosso adversário ter tido uma oportunidade de golo. Fizemos uma daquelas exibições em que toda a gente foi obrigada a tirar o chapéu. Custou-lhes imenso, tiveram de engolir em seco e tiveram imensos problemas para aceitar que um clube que eles diziam que ia levar cinco, ter chegado lá e ter vencido de uma forma categórica e marcado uma posição clara num período que não era fácil", prosseguiu.
"A partir daí tivemos alguns momentos menos bons, mas nunca na nossa cabeça trespassou a ideia que não éramos capazes de chegar ao título e estamos aqui a falar dele", acrescentou Luís Gonçalves, apontando dois momentos-chave em diferentes alturas na época: "O jogo da Luz foi o momento determinante porque aí percebemos que íamos fazer a diferença e que seríamos capazes. Estávamos no início e começamos aí a construir a equipa. Depois, aquele momento em Braga também foi marcante. Quando perdemos a Taça da Liga da forma, aos 90+5, quando ninguém esperava que acontecesse, as palavras do Sérgio no final do jogo foram um grito de alerta para todos. Todos perceberam que era necessário estarmos unidos, os sócios e simpatizantes não podiam deixar de apoiar a equipa, pois só unidos é que conseguiríamos vencer. Nesse momento voltamos ao caminho e conseguimos chegar ao que queríamos chegar e somos campeões".
O treinador mereceu vários elogios do diretor geral dos azuis e brancos. "Não sei se o Sérgio é o treinador com mais poder. O que sei é que se ele tem poder é porque o conquistou e o merece. Quando um treinador tem poder, tem muita competência e é isso que o Sérgio tem. Isso vê-se no dia a dia e na forma como nos relacionamos com ele. Não é fácil, no princípio senti dificuldades, mas dou graças a Deus por ter continuado a acreditar que com ele tudo é possível", frisou.
Para Luís Gonçalves, "o mau-feitio do Sérgio tem a ver com exigência". "Acho que ele nem dorme. A maioria das pessoas não tem noção do quanto o Sérgio trabalha para o bem do F. C. Porto. O melhor treinador não é só aquele que consegue ganhar títulos, mas aquele que consegue também projetar jogadores", salientou, lembrado o trabalho de recuperação de alguns jogadores na estreia do técnico no comando dos dragões.
"Na primeira época ninguém dava nada por nós, tínhamos um plantel que recuperou o Marega e o Aboubakar, o Ricardo Pereira voltou e construímos uma equipa que mudou o paradigma do futebol em Portugal. O F. C. Porto jogava de outra forma, era uma equipa europeia, deixou de estar neste cantinho e passou a ser uma equipa europeia. Fomos eliminados nos oitavos de final pelo Liverpool, que foi só o finalista vencido da Champions para o Real Madrid, em Kiev, e que ganharia no ano seguinte quando fomos eliminados nos quartos de final", enumera o diretor geral.
E continua: "Isso quer dizer muito. O Sérgio 'ganha' todo este poder pela sua competência, capacidade e mérito e quando se tem um presidente como o Jorge Nuno Pinto da Costa é mais fácil que o treinador possa ter esse poder, pois há uma ligação umbilical entre os dois. Isso é decisivo". Sobre o papel que tem junto da equipa, o dirigente atira: "Eu tenho de fazer o que é importante: saber ser discreto, estar nos momentos todos, ajudar para que as coisas possam fluir e tentar ser a solução e não um problema".
Os "casos" Danilo e Nakajima não passarem em branco na entrevista ao diretor geral. "O que se passou com o Danilo são situações que podem acontecer em qualquer família e resolvemos como deveríamos ter resolvido. Antes do jogo com o Krasnodar ele e o treinador tiveram uma reunião, falaram e as coisas resolvem-se conversando e não temos de andar fora a falar sobre isso. Os problemas internos são nossos e somos nós que os resolvemos. Foi sempre assim e vai continuar a ser", justificou.
Já sobre o jogador japonês, explicou que a recusa em treinar se deveu a questões familiares. "O caso Nakajima é difícil de explicar, tem a ver com a forma como reagiu à covid-19. É um problema mais familiar, na minha opinião, do que cultural. O Nakajima teve alguns problemas por causa da esposa. Ela tem asma e lembro que tivemos uma reunião com ele, através da internet, com o doutor Nélson Puga e o empresário dele e estivemos para aí 40 minutos a tentar convencê-lo de que tínhamos reunidas todas as condições para que não houvesse qualquer problema. Mas nem assim. Talvez fosse algum problema com a língua que se tenha perdido por não perceber bem. Mas é um problema que existe e vamos tentar resolver. Ele é um jogador do F. C. Porto e vamos ver o que vai acontecer na próxima época. Ele está a treinar e, neste momento, não há nenhuma situação complicada", contou.
O trabalho realizado na formação de promoção de talentos como Fábio Silva, Fábio Vieira, Diogo Costa e Vitinha também mereceu destaque, com o dirigente a recordar os títulos na Premier League Internacional Cup em 2016/17 e 2017/18 e da UEFA Youth League em 2019.