Michele Kang obrigada a conciliar a vontade de revolucionar o futebol feminino com a missão de tirar o clube francês de uma crise profunda.
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Não foi assim há tanto tempo que o nome Lionel Messi nada dizia a Michele Kang. O futebol era apenas algo que lhe soava a qualquer coisa, tão empenhada estava em fazer da Cognosante, a empresa tecnológica virada para a saúde que criou, algo relevante. Essa foi a primeira grande missão de vida que engendrou e foi concluída com sucesso, como prova a posterior venda, ao que consta, por um bilhão de dólares. A segunda começou em 2019, após um encontro com a seleção dos Estados Unidos. Kang ficou impressionada com a falta de condições e de apoio que as mulheres, mesmo as melhores do Mundo, lidam para jogar futebol e então meteu na cabeça que haveria de mudar isso. Hoje é dona de três equipas e lidera a primeira organização global dedicada ao futebol feminino. Estava tudo a ir bem, mas eis um percalço: o Lyon está em apuros e é Kang quem tem que salvar o clube francês recentemente despromovido por problemas financeiros.
Surge, portanto, um intervalo forçado na segunda grande missão de vida que move Michele Kang, sul-coreana de 66 anos, que se mudou para os Estados Unidos ainda jovem e que nos tempos de estudante chegou a ser a única mulher na turma. Tornou-se bilionária e tem investido balúrdios para mudar o tal paradigma desolador no futebol feminino. Comprou uma equipa (Washington Spirit) em 2020 e mais duas em 2023 (Lyon e London City Lionesses). Também já investiu na Federação de Futebol dos EUA, não olhando a meios para atingir os fins. “Estou numa missão de provar que o futebol feminino é um bom negócio. Isto não é caridade, mas um investimento a sério”, afirmou ao The Guardian. Assim, de não saber nada de futebol a tornar-se na primeira mulher presidente de um clube da liga francesa foi um ápice, sucedendo a John Textor não só na presidência do Lyon como também na liderança do grupo Eagle Football, que ainda detém o Botafogo (Brasil), o Molenbeek (Bélgica) e o Crystal Palace (Inglaterra).
Salvar o clube sete vezes campeão francês é agora a prioridade de Kang. O Lyon vai recorrer da descida administrativa, mas mesmo com um desfecho favorável há outra revolução a fazer para tornar sustentável o clube e fortalecer a equipa orientada por Paulo Fonseca. Mas se é de uma revolução que o Olympique Lyonnais precisa, então dificilmente podia estar em melhores mãos.