Manuel José, treinador que já liderou o Sporting e o Benfica, explica como se motiva uma equipa nestes jogos.
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Quem vai estar em campo nos jogos do título ainda não era nascido quando o Sporting goleou o Benfica, em Alvalade, por irrepreensíveis 7-1, em 1986/87. O treinador dos leões era Manuel José, um nome sonante do futebol português e que na década seguinte orientou o Benfica num período muito conturbado das águias. Desligado do futebol, continua a acompanhar a Liga com a paixão que lhe merece, sempre com um olhar crítico perante as várias adversidades que os dois rivais de Lisboa foram sentindo ao longo da prova.
“Não me lembro de uma equipa ser campeã com tantos pontos perdidos. O campeão tem sempre mérito, mas este será um campeão sem grande glória. Não são só os títulos que entusiasmam as pessoas”, disse ao JN Manuel José, de 79 anos, considerando que tanto o Sporting como o Benfica “pareciam que andavam a combinar, um com o outro, quando perdiam pontos”. Por isso, com alguma ironia à mistura, atira: “Venha o diabo e escolha”, respondeu, quando questionado sobre quem terá mais mérito na conquista do troféu que será entregue esta tarde no Sporting-V. Guimarães, em Alvalade, ou no Braga-Benfica, no Minho.
Neste jogos, qual é o papel do treinador? “Rui Borges tem de dizer aos jogadores que nada está ganho e que têm de vencer para serem campeões. Não há cá euforias. Deve tentar que eles ponham a cabeça no sítio, que vai ser um jogo difícil e terão de estar moralizados e sem excessos de confiança”. Do lado do Benfica, Manuel José aconselharia a equipa a refletir sobre a pressão que o Sporting tem nos ombros: “Os níveis de confiança não estão tão elevados, mas o Benfica vai-se matar para ganhar. O maior estímulo seria dizer que o V. Guimarães é uma boa equipa e que o Sporting tem muita responsabilidade, porque, antes de jogar, parece que já é campeão”.
Mas há ainda outro fator: “As picardias entre Rui Borges e o antigo clube [V. Guimarães] podem motivar os jogadores para surpreenderem o adversário”. O Braga, conclui, poderá não estar tão “moralizado” por não ter vencido nos últimos três jogos. De qualquer forma, acredita que “quem perder a Liga irá menos estimulado para a final da Taça de Portugal”.