Matheus Pereira, ex-Sporting e Chaves, revela carreira de problemas com drogas e bebida
Matheus Pereira, ex-jogador do Sporting e Chaves, revelou ao "The Players Tribune" a vida atribulada com droga, bebida e pensamentos suicidas. Luís Castro, técnico do Al Nassr, foi um dos que tentou guiar o brasileiro no melhor caminho.
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Em Portugal, Matheus Pereira fez formação no Sporting e conta episódios caricatados vividos em Portugal. "“Não. Hoje eu não quero droga”, falei para os rapazes, que se riram de mim. “Amanhã tem jogo contra o Benfica e eu quero jogar bem”. No dia seguinte, acabei o jogo e fui sorteado para o antidoping. Imagina! Se fosse em qualquer outra partida da temporada ia dar m.... Naquela, não".
O Sporting emprestou o jovem ao Chaves de Luis Castro, treinador que lhe deu ensinamentos para a vida, após Matheus ter ido falar com ele, comentando que o peito ia explodir devido a más exibições. "Miúdo, na vida, às vezes, quando a gente não consegue sozinho, tem que deixar outro guiar-nos. Fica calmo. Sempre haverá estrelas iluminando o céu, mesmo que não as vejas por causa dos dias nublados", contou.
Na segunda divisão inglesa, o brasileiro viveu o melhor momento da carreira com a ajuda do ex-Benfica Krovinovic, que facilitou a adaptação. "Nas duas temporadas, fui destaque do West Brom. Joguei com uma regularidade que nunca havia tido. Mas isso não impediu que a equipa voltasse para a segunda divisão", comentou.
Com a pandemia, apareceu uma proposta irrecusável do Al-Hilal, mas as coisas não correram bem. "Achei que seria uma boa ideia voltar a beber, beber muito". Depois, mudou-se para Abu Dhabi, contra a vontade do próprio e foi aí que podia ter acontecido uma tragédia.
"Um dia, abri a janela do apartamento, com uma vista espetacular, e só não me mandei porque a minha esposa foi mais rápida. Ela agarrou-me, puxou-me para dentro e ficámos muito tempo a chorar abraçados ali no chão da sala, sabendo que não era o fim, nem o meu, nem o do meu sofrimento”, relatou a primeira vez em que tentou tirar a própria vida.
A terapia ajudou, mas a vontade de morrer não desapareceu rapidamente. "Numa noite de recaída em casa, eu peguei a chave do carro e saí a correr. Não me importava o destino, desde que ele fosse o fim. Toca o meu telemóvel. Era a minha irmã mais nova. Atendi a chorar. “Eu não aguento mais, eu não aguento mais, eu não aguento mais. Eu quero me matar. Eu preciso me matar.” Ela tinha me ligado para dividir comigo a notícia mais feliz da vida dela: ela ia ser mãe. E eu ali a estragar tudo", lamentou.
Apesar das novidades a vontade de suicídio não desapareceu. "Assim que desliguei o telemóvel, quis ir para ponte Hudariyat. E se eu me jogar dali? É isso. Eu vou me jogar dessa ponte. Pronto. Acabou. Tentei mas o carro não ligou. Tentei de novo. Nada. Passei uns 10 minutos a tentar fazer o carro funcionar e não conseguia. Insisti de todas as formas, mas não pegava. Parecia que tinha algo a travar-me. Até que a minha esposa aparece, abre a porta do carro e me dá um abraço".
Foi no clube do coração que encontrou a estabilidade na vida. "No Cruzeiro eu reencontrei mais do que paz. Eu me reencontrei. Parece brincadeira, mas não é. Porque no meio da escuridão, e eu andei muito por lá, a coisa mais difícil que tem é a gente se reconhecer. E isso piora demais uma situação que já está má. A gente não sabe mais quem é", destacou.