Ciclista uruguaio reconheceu as dificuldades sentidas para vencer a Volta a Portugal e emociona-se sempre que recorda o apoio que teve dos companheiros.
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Assegurado o êxito maior da sua carreira como ciclista, Maurício Moreira ainda não está bem ciente que entrou para história do ciclismo nacional, como vencedor da Volta a Portugal 2022. Em entrevista ao JN, o uruguaio de 27 anos ainda se emociona ao recordar o apoio que teve da sua equipa Glassdrive/Q8/Anicolor para garantir a mais desejada camisola amarela, confessando que houve momentos, durante a prova, em que pensou desistir da luta pela vitória. Humilde e grato, Maurício Moreira acredita que este é um êxito que lhe pode mudar a vida, a nível profissional e pessoal.
Já consegue exprimir em palavras o sentimento de vencer a Volta a Portugal?
Ainda não tenho as palavras certas para o descrever. Talvez ainda vá levar uns dias para tomar consciência deste feito. O que posso dizer é que nunca tive tantas mensagens no meu telemóvel, é um sinal da magnitude do que consegui. É a maior conquista da minha carreira, que certamente vai marcar um antes e um depois.
Onde foi buscar a força para se reerguer depois de todas as dificuldades que teve no ciclismo?
Esta é uma modalidade de sofrimento, e ter a motivação para treinar e correr, mesmo nos momentos mais difíceis, é a razão porque adoro o ciclismo. Se assim não fosse, não conseguiria sofrer até ao limite em cada treino ou etapa, mesmo depois das quedas. Nos momentos maus, recordo-me, também, dos bons e das pessoas que estão comigo a apoiar-me.
Como estrangeiro, que sentimento tem ao vencer a prova mais importante de Portugal?
Adoro este país e as suas pessoas. Desde muito novo já vivi em vários países, mas aquele onde me sinto mais confortável é aqui. Sinto-me em casa, não só porque tem muitos costumes parecidos com Uruguai, como também porque desde que entrei nesta equipa senti que já cá estava há muito tempo. E isso nota-se quando havia um candidato português [Frederico Figueiredo] a poder vencer a Volta, mas deram-me essa oportunidade a mim. Jamais vou esquecer.
Esse apoio que teve de Frederico Figueiredo foi fundamental?
Sem dúvida. Na etapa da Senhora da Graça, por exemplo, ele podia ter perfeitamente arrancado para procurar a vitória, mas não o fez. E não foi ordem da equipa, mas sim a vontade dele. Isso diz tudo da pessoa que é o Frederico. Teve a oportunidade de vencer a Volta a Portugal, mas deixou que fosse um estrangeiro a fazê-lo. Fico mesmo muito emocionado sempre que penso nisso.
Mesmo não sendo português, sempre teve um enorme carinho do público. Porque acha que as pessoas gostam de si?
Praticar ciclismo, como desporto que é, mais tarde ou mais cedo vai acabar, porque o teu corpo não te permite continuar, mas a pessoa que és vai ficar para sempre. Podes ser o melhor ciclista do mundo, mas se não és boa pessoa, não adianta nada e quando a carreira acabar ficarás sozinho. Quero que quando o ciclismo acabar por mim, o público continue a sentir carinho por aquilo que sou.
Na Volta do ano passado estava fisicamente mais forte, mas não venceu, e desta vez, apesar de algumas debilidades, conseguiu ter sucesso. Qual foi a diferença?
É verdade que este ano sofri mais do que em 2021, mas talvez porque não consegui chegar a esta Volta com tanta confiança. Os meses anteriores foram muito difíceis, com lesões e infeções com covid-19. Os dados físicos e as sensações até eram boas, mas não tinha essa confiança que é tão importante. Durante a prova, tive dias muito complicados, mas, felizmente com o apoio da equipa, consegui superar, e disso estou muito agradecido.
Sabe melhor saborear esta vitória partilhando o êxito com os seus companheiros?
Sim, pois quando começo a recordar cada momento e cada etapa, sei que houve momentos em que pensei "chega, não tenho mais força, nem quero sofrer mais". Na etapa em Miranda do Corvo disse ao Frederico para ele arrancar, que eu já não tinha mais nada para dar, e senti que tinha acabado para mim, que tinha de parar. Mas aí, estava o António Carvalho ao meu lado, a dizer-me para ir com ele e que íamos os dois chegar ao fim. Se não fosse esse momento, talvez não estivesse a dar esta entrevista.
E por outro lado, em que momento sentiu que podia mesmo vencer esta Volta?
Sinceramente, só mesmo quando cruzei a meta final, e ouvi a dizerem que eu era o vencedor. Sabia que tinha mais capacidades do que o Frederico no contrarrelógio, mas no ciclismo tudo pode acontecer, inclusive uma queda. Só pensava no apoio que os meus colegas me tinham dado para chegar até este ponto. Felizmente, quando saí, para o crono percebi que estava bem, sentia-me com segurança a fazer o percurso, mas, como disse, podia acontecer um problema.
Sente que esta vitória lhe vai mudar a vida, e dar-lhe mais oportunidades a nível profissional?
Acredito que sim. Marca um antes e um depois na minha carreira. Nunca tinha ganho algo tão importante, e acho que vai-me permitir colocar objetivos maiores e até dar-me mais confiança em mim mesmo.