Vencedor do Grande Prémio JN e da Volta a Portugal passou por momentos difíceis no início do ano, mas recuperou uma confiança que desconhecia.
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O ciclista uruguaio, de 27 anos, é figura do ano do pelotão nacional, superando várias contrariedades de saúde no arranque da temporada para conseguir vencer duas das mais importantes provas do calendário. Após o recente sucesso no Grande Prémio JN, Mauricio Moreira garantiu ser um atleta bem mais confiante nas suas capacidade e ainda se emociona quando fala do apoio que teve dos companheiros de equipa da Glassdrive/Q8/Anicolor para conseguir a melhor época desportiva, em termos de resultados, da carreira.
Se lhe dissessem há uns meses que ia vencer o Grande Prémio JN e a Volta a Portugal, o que responderia?
Se me falassem destes êxitos, diria, de certeza, que estavam malucos [risos]. Há uns meses não acreditava que isso era possível. Ganhar duas importantes provas é uma alegria tão grande, que me dá uma confiança nas minhas capacidades que nunca consegui ter.
Sentia responsabilidade de vencer o Grande Prémio JN, ou vinha para desfrutar da corrida?
Não parti com a responsabilidade de vencer. Vinha, sobretudo, para ajudar os meus companheiros. Mas como a prova começou com um contrarrelógio, onde é cada um por si, ter feito um bom tempo nesse crono colocou-me em boa posição para vencer. Mas era algo que, confesso, não esperava.
Depois de ter vestido a camisola amarela logo no início, sentiu pressão para a manter?
Fui riscando os dias com tranquilidade, porque sabia que o António Carvalho estava numa forma muito boa, que se eu tivesse um dia mau, ou um percalço, ele estava lá para assumir o meu lugar. E isso foi muito reconfortante para mim e para a equipa. Soubemos que estávamos um pouco mais seguros.
Ainda assim, confessou que manter a liderança neste Grande Prémio JN não foi fácil...
Sem dúvida. Às vezes para quem está de fora pode parecer que é fácil, mas não é assim. Há muito stress e exige muito sacrifício. São mais de 100 ciclistas no pelotão, que treinaram muito para conseguir bons resultados e estão em equipas que também querem vencer. Até ao último momento todos querem dar melhor. Por isso, digo sempre que as corridas só estão ganhas no final da última meta.
A nível pessoal, foi uma época difícil, com várias contrariedades. Isso torna mais saborosos os sucessos conquistados?
O mais saboroso foi ganhar a confiança de que posso fazer uma boa época e que, mesmo depois dos problemas, consigo recuperar a forma. Esta minha época afirma que quando acontece alguma coisa, nem que seja má, é por um motivo. Agora, sinto que superar os problemas de saúde que tive deixaram-me mais forte, sobretudo a nível psicológico. Aprendi a acreditar mais em mim.
Palavra especial para a equipa, que foi essencial nestes êxitos?
É algo que estou sempre a dizer, e sinto-o mesmo no coração. A verdade é que nenhum ciclista, por mais forte que seja, pode ganhar uma corrida por etapas sozinho. Se a tua equipa não está unida, e os companheiros não têm a bondade de te ajudar, é muito difícil venceres. Na Glassdrive/Q8/Anicolor quando é para trabalhar para alguém, todos o fazem sem pensar nos seus objetivos pessoais. Quando vejo os meus colegas puxarem até determinado ponto da etapa, e perceber na cara deles que estão completamente esgotados, é uma responsabilidade grande, mas também uma enorme alegria. Se fizeram isso por mim, é porque têm muito apreço pelo que sou. Na nossa equipa não existe a palavra egoísmo. Emociono-me muito quando os meus companheiros, no seu país, nas suas corridas, estão sempre prontos a ajudar um outro atleta, que, como eu, veio de fora, para tentar afirmar-se.
Este ano de 2022 foi o melhor da sua carreira desportiva?
Pelos resultados sim, com vitórias que nunca consegui, e que nunca tinha imaginado. Mas o ano passado também não vou esquecer. Vinha com o estatuto amador e queria demonstrar que era válido para ser profissional. Sinto que consegui mostrar o meu talento.
Tem tido felicidade nas provas organizadas pelo JN, com a vitória no GP Douro Internacional, em 2021, e agora no GP JN. São corridas que motivam?
Sim, são corridas muito bem organizadas, que toda a gente quer vencer, e que são muito competitivas. Além disso, dão um destaque muito grande à nossa modalidade. Os atletas e as equipas precisam desse mediatismo.
Agora que a época está prestes a terminar, o que vai fazer nas suas férias?
Neste momento, o que quero é passar tempo de qualidade com a minha família, com a minha namorada, e retribuir-lhes o apoio que sempre me dão. Os meus pais estão aqui desde a Volta a Portugal, mas desde então, com os treinos para este Grande Prémio JN, não consegui dar-lhes muita atenção. Agora, felizmente, vou ter uns dias para poder desfrutar deles. A minha rotina nas férias é tranquila, prefiro relaxar do que ir a festas. Quero aproveitar para passear com a minha namorada, conhecer coisas diferentes, ou mesmo ficarmos em casa sossegados e ver, por exemplo, um filme.
Como está a lidar com a fama e o carinho do público, ao ser cada vez mais reconhecido?
Dizer que é gratificante é pouco para descrever o que sinto. Nem no meu país falavam tanto de mim, ou tinha crianças e adultos a quererem ter uma foto ou um autógrafo. Sinto que o público merece da minha parte exatamente o mesmo carinho que demonstram por mim. Nunca fujo a esse contacto e tento responder a todos.
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