Depois de ser o primeiro estrangeiro a ser campeão na África do Sul, pode tornar-se no segundo português a vencer a Champions africana.
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Em Maio de 2021, Miguel Cardoso deixou o Rio Ave e passou os anos seguintes quase exilado, a reabilitar-se, mais ou menos incógnito e sem grandes alaridos, quem sabe na tentativa de se desligar do futebol europeu, depois de três experiências consecutivas que passaram a correr (oito jogos no Nantes, 15 no Celta de Vigo e quatro no AEK) e que deixaram marcas negativas num percurso que pouco antes parecia ascendente. Aqueles últimos tempos nos bancos também ficaram marcados por um gesto obsceno no Estádio do Bessa, pelo que talvez fosse preciso desaparecer por algum tempo. Assim fez. O regresso ao ativo demorou, dando-se apenas em janeiro de 2024, e no ano e meio seguinte Miguel Cardoso dedicou-se a construir uma história de sucesso em África, que pode culminar na conquista da Liga dos Campeões local, à frente do Mamelodi Sundowns.
O duelo decisivo (este sábado, às 18 horas), referente à segunda-mão da final com o Pyramids FC, clube egípcio fundado apenas há 17 anos, será o 59.º jogo de Miguel Cardoso no futebol africano e as 37 vitórias registadas já lhe valeram dois títulos de campeão, os primeiros na carreira. Primeiro no Espérance de Tunis (Tunísia) e mais recentemente no Mamelodi, que vem dominando o futebol sul-africano e vai em oito títulos consecutivos. Este feito no emblema de Pretória aparenta ser uma formalidade, mas faz do português, de 53 anos, o primeiro treinador estrangeiro a ser campeão na África do Sul. Para além disso, os “brasileiros” – assim conhecidos desde que, no final da década de 1980, o presidente da altura Zola Mahobe impôs como equipamento oficial um igualzinho ao do Brasil – bateram o recorde de pontos e golos marcados na competição, e por isso chegam a este jogo decisivo moralizados para repetir o feito alcançado em 2016.
Depois do empate a um golo na primeira mão, o Mamelodi Sundowns tem que ganhar ou empatar por dois golos para ser coroado campeão africano pela segunda vez na história e fazer valer a pena a viagem de cerca de oito mil quilómetros até ao Cairo. Para Miguel Cardoso é a possibilidade de vingar a final perdida na época passada, ainda no Espérance de Tunis, e outra oportunidade de se juntar a Manuel José, ainda o único treinador português a ganhar a Liga dos Campeões de África quase 20 anos depois da última de quatro (2001, 2005, 2006 e 2008) pelo Al Ahly.