As impressões iniciais da nova moto da Prima Pramac Yamaha ainda são poucas, pois só fez meia dúzia de voltas, mas a esperança é muita e a vontade de conseguir bons resultados também, porque há sonhos a realizar e uma época na qual quer somar muitos pontos para ficar, pelo menos, entre os dez primeiros do Mundial'2025.
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Foi de jaleca vestida que Miguel Oliveira esteve aos comandos de uma placa de indução a cozinhar bacalhau à Brás, numa ação da cerveja Estrella Galicia, que patrocina o português no MotoGP, no restaurante Cacau Wine Terrasse, na Boavista. O piloto, que na próxima temporada estará aos comandos de uma Yamaha da Prima Pramac, abordou a época que aí vem com um misto de otimismo e realismo, consciente das dificuldades que pretende transformar em oportunidades. “É um projeto muito ambicioso, que está no seu início e algo também inédito feito pela marca, porque teremos pela primeira uma equipa externa à Yamaha oficial, mas com motos e apoio igual às de fábrica. É um sinal claro de que os tempos estão a mudar. Existe muita ambição de chegar ao topo”, assumiu.
Numa equipa nova, com um projeto novo, as dificuldades são naturais, mas Miguel Oliveira preferiu abordar a questão de outra forma: “Olho para tudo como uma oportunidade, um desafio. Vamos beneficiar de três dias de testes adicionais face ao resto, exceto a Honda. Ainda temos os três "rookies" que subiram à categoria este ano, portanto, são oportunidades para que possamos preencher um bom espaço e sermos bons candidatos a vencer, esperamos ser a segunda melhor marca a seguir à Ducati. É o início de um projeto novo, um arranque e uma fase de que queremos fazer um trampolim para que, em 2026, se a Yamaha entender, a nova mota esteja pronta para vencer”.
É claro que a meses de completar 30 anos, Miguel Oliveira não desiste do sonho de ser campeão mundial de MotoGP e a questão não ficou na gaveta. “Vou fazer 30 anos em janeiro. Estaria a mentir se dissesse que é o timing natural, não é. Não é o que temos vindo a ver no desporto, mas, por outro lado, se as coisas ligarem bem e estando conectado com a equipa e com a mota, acredito que posso ser campeão do mundo”, rematou.
Enquanto a cebola dourava no tacho e acrescentava o bacalhau e mais um fio de azeite, Miguel Oliveira partilhou algumas das experiências que o ajudaram a fazer-se homem mais cedo e a amadurecer para a vida, obrigado a desenrascar-se por causa de uma emancipação que chegou cedo para acompanhar o ritmo de uma carreira que o levou até ao MotoGP.
“Vou cozinhando em casa, estou habituado a alimentar a minha família”, assegurou, enquanto a desenvoltura com que pegava numa faca para picar salsa comprovava a sua afirmação. “Ontem, fiz uma tarte com frango que tinha de uma refeição anterior e estava muito bom”, riu-se para a plateia, que descobriu um outro ângulo do piloto.
Ainda que longe de ser "chef", o português reconheceu a importância que tem saber viver com toda uma equipa que o apoia ao longo da temporada. “É decisivo, porque trabalhamos todos para o mesmo e temos de saber lidar com as diferenças de cada um, mas faz parte, porque sabemos que vamos ter de passar muito tempo juntos”, justificou, enquanto dava mais uma volta ao bacalhau para não agarrar no fundo do tacho.
Miguel Oliveira não se esquivou quando colocado perante a crise que ameaça a KTM e que vai obrigar a equipa a conter despesas para poder competir e evitar ser engolida por um buraco financeiro de milhões de euros. “É sempre complicado, mas a marca é tão forte que acredito que vão sobreviver. Mas é uma realidade, aliás tivemos o exemplo da Suzuki, que há uns anos ainda arrancou, fez duas ou três corridas e teve de desistir”, lembrou.
Era hora de partir uns ovos, separar uma gema de uma clara e bater tudo com um garfo, seguindo-se um compasso de espera para não desviar o foco, mas o piloto deu boa conta do recado, ele que gabou a cozinha portuguesa, o país, que diz ter tudo para seduzir quem vier de férias. Garante que não há comidinha boa como a portuguesa, ainda que em Itália, onde vive atualmente, não tenha muita razão de queixa. “Na Áustria, onde passei uma fase da minha carreira, fugia para os restaurantes italianos, porque lá não se come nada de jeito. Mas os italianos têm boa comida, não é só pizzas e massa. Têm um cozido com um molho que dá para molhar o pão, que é uma delícia”, contou.
Estava na hora de finalizar o bacalhau à Brás, empratar estilo “gourmé”, com um paté de azeitona por cima da batata palha que tinha sido acrescentada entretanto. É claro que para trás tinham ficado declarações cheias de “suminho” sobre a próxima temporada, na qual a estratégia será tentar tornar a Prima Pramac Yamaha numa espécie de equipa-sensação do pelotão de MotoGP, onde uma posição entre os dez primeiros seria bem recebida, consciente de que o projeto está a arrancar. “Estar dentro do top 10 no final do campeonato seria bom. Este ano, vamos ter menos duas Ducatis, sabemos que, a nível de consistência aos domingos, são as motas a bater. Seja com qualquer piloto, todas elas acabam por lá estar. Temos de tirar proveito disso, tirar proveito dos pilotos a adaptarem-se às novas motas, podemos talvez limar algumas arestas com alguns dias de testes, mas num campeonato tudo tem a ver com a consistência. Sobretudo nestes fins de semana em que se pontua bastante tanto ao sábado como ao domingo. Para isso acontecer, é preciso sermos rápidos e isso vem do rendimento da mota na qualificação”, explicou.
Era tempo para uma pose de prato na mão, antes de tirar uma cerveja para completar a ação promovida pela Estrella Galicia, que não poupou no cenário que embrulhou umas horas de boa disposição e momentos que deram a conhecer um pouco mais o Miguel Oliveira que todos têm acompanhado colados às televisões como nunca, desde que um piloto português começou a vestir a pele do “falcão”, com o número 88, o mesmo número que viralizou com Jorge Jesus. Já agora, o Miguel pronunciou-o muito bem, “mas como o Jorge Jesus, só ele, é inigualável!”, riu-se o piloto.