Milheirós da Maia: quando o Milan está ao peito mas o coração bate pelo Dragão
AC Milheirós foi inspirado no adversário italiano do F. C. Porto na Champions. Ainda sem estádio próprio, quer partilhar o recinto usado pelo rival Inter.
Corpo do artigo
São quase dois mil os quilómetros que separam Milheirós de Milão, mas tal como na cosmopolita cidade do norte de Itália, no concelho da Maia também há um Inter e um AC e uma rivalidade que, não tendo muitas décadas de história, começa a ganhar espaço na maior associação de futebol do país.
A visita do Milan ao Estádio do Dragão, na próxima terça-feira para a terceira jornada da fase de grupos, justifica a viagem às origens do AC Milheirós, criado em 2016 por um grupo de dirigentes e sócios que estavam descontentes com o rumo seguido pelo então único clube da freguesia. E do Inter, fundado em 1975, nasceu o AC, opção explicada na primeira pessoa.
"Sempre gostei do Milan, já era o meu clube em Itália, mesmo antes da cisão [com o Inter] e de fundar o AC Milheirós. E, depois, um amigo da Direção sugeriu este nome e fez todo o sentido. Se Milão tem um Inter e um AC, Milheirós também podia ter", conta, ao JN, Doro Guedes, presidente e fundador da Associação Clube de Milheirós, que curiosamente, ainda não teve qualquer contacto com o "padrinho".
"Ainda não o fizemos, mas a ideia é dar a conhecer o nosso projeto e propor uma parceria. Pode ser que o Milan nos ache graça e até dê uma ajudar em relação ao nosso grande problema", explica o antigo jogador do AC, e também do Inter.
Municipal para dois
O problema, esse, é não ter casa própria. Milheirós tem um campo municipal, mas a exploração do mesmo está entregue ao Inter, realidade que Doro Guedes espera mudar em breve. "Acho que temos direito a usá-lo e que isso vai ficar resolvido esta época. A Câmara tem de se impor, porque há respeito entre os dois clubes, apesar da rivalidade. Só precisamos de quem nos abra a porta do municipal, depois tratamos do resto", pede o presidente do AC que, na próxima terça-feira, não estará minimamente com o coração dividido. "Sou nascido e criado na Sé do Porto, sou sócio do F. C. Porto e fiz parte dos Super Dragões. Claro que só posso torcer por um clube", diz Doro, enquanto vê o treino da equipa no campo do S. Pedro de Fins, orientado por José Ferreira, também ele adepto dos dragões.
"Sou simpatizante do Milan desde os tempos do Maldini e do Baresi e, quando o meu amigo Doro me convidou para vir para o AC, achei piada. Acredito que o F. C. Porto pode discutir e ganhar o jogo, porque sempre mostrou competência na Champions. Os três pontos ficam na Invicta", diz o técnico. Está feito o prognóstico.
A varanda e a ligação familiar
Manuel Granja conhece como poucos a realidade dos dois clubes de Milheirós. Trabalhou no Inter, agora é diretor do AC e até tem uma vista privilegiada sobre o rival, ou não vivesse paredes meias com municipal da freguesia e visse o terreno de jogo desde a varanda de casa. O coração, esse, também bate, e muito, pelo F. C. Porto. "Fui sócio durante muitos anos, mas andei a trabalhar no estrangeiro e deixei. Se não o tivesse feito, acho que o meu número de sócio andaria pelos seis ou sete mil. Terça-feira? Vamos ganhar, o Sérgio [Conceição] só tem de pôr toda a carne no assador", diz Manuel Granja, que tem um filho [Vítor Granja] que é fisioterapeuta na Dragon Force.