Fernando Pimenta admite a possibilidade de competir nos Jogos Rio2016 por outro país, mas a federação diz que essa pretensão é "difícil" e carece igualmente da sua aprovação.
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"A concretização dessa possibilidade é um processo burocrático altamente complicado. Em primeiro lugar, tem de obter a respetiva nacionalidade. Posteriormente, depende do país disponível para isso, da autorização das federações nacionais e ainda da própria federação internacional", alerta o Chefe de Missão de Portugal a Londres2012 e futuramente no Rio2016, Mário Santos.
Fernando Pimenta, que a Lusa tentou, em vão, contactar, assumiu publicamente a possibilidade de representar outra nação nos Jogos Olímpicos - "se isto não se resolver, vou ver se há propostas, se algum país está interessado e quais as condições que me oferece" -, possibilidade que "choca" o presidente da federação.
"É mais uma forma de procurar na praça pública apoios que manifestamente não recolhe nas regras que regem a modalidade neste momento", disse Mário Santos.
Fernando Pimenta, vice-campeão olímpico em K2 1000 com Emanuel Silva, tem visto a federação recusar o seu desejo de apostar em K1 e foi isso que o levou a admitir mudar de país, algo que perturba Mário Santos, Chefe de Missão de Portugal a Londres2012 e futuramente no Rio2016.
"Para quem vive intensamente o desporto como eu, que dedica parte significativa do seu dia-a-dia, de forma benévola, ao desporto e foi atleta e é dirigente, o facto de um atleta - cuja notoriedade resulta de investimento público e trabalho de toda uma equipa que o tornaram num dos representantes mais mediáticos da modalidade - admitir essa possibilidade com essa facilidade toda, é evidente algo que me choca", critica.
O Comité Olímpico de Portugal (COP) preferia que o "melindre" do tema fosse tratado com "reserva e intimidade" e lamenta que Pimenta "procure ganhar razão com espaço na comunicação social", pois entende que "publicitando as questões, torna-se muito difícil fazer a gestão do processo".
"Lamento que se tenha chegado a esta situação e, sobretudo, que tenha havido esforço público de apoio à preparação do atleta em disciplinas em que ele agora não quer participar. É um direito que lhe assiste, mas ele também está sujeito a regras estabelecidas no âmbito da atividade federativa e seleções nacionais", advertiu o presidente do COP, José Manuel Constantino.
A este propósito, o presidente do COP acrescenta: "É um atleta de nível 1 por ter sido medalhado. Usufrui por isso de apoio para preparar a competição durante dois anos. Isso só será revisto caso a federação o entenda. Até lá mantém-se, mas não deixa de ser evidente que o atleta adquiriu direito a este apoio no âmbito de disciplinas desportivas nas quais agora não se dispõe a continuar a participar. É assunto que a federação tem de avaliar no seu seio".
O secretário de Estado do Desporto e Juventude, Emídio Guerreiro, preferiu não comentar o tema, remetendo para um comunicado da véspera, no qual apela ao "entendimento" e à "defesa do interesse das representações desportivas nacionais em geral e da canoagem em particular".
"Mantenho, no respeito da autonomia da federação portuguesa de canoagem, seja no domínio disciplinar e da organização da participação das seleções nacionais, seja no domínio técnico, sobre o qual não me pronuncio, um prudente silêncio no sentido de não aumentar o ruído que toda esta situação tem vindo a criar", resume o governante, cuja intervenção no processo foi solicitada pelo próprio atleta.
Sobre esta polémica, Mário Santos recordou ainda que lidera um projeto federativo que nos últimos nove anos foi responsável por 72 medalhas internacionais de um total de 93 na história da canoagem portuguesa e que o melhor resultado de Fernando Pimenta no seu desejado K1 "foi o oitavo lugar no Mundial 2011, que não valeu o apuramento direto para Londres2012".
"O atleta é apoiado pelo resultado do K2 nos Jogos Olímpicos. A federação determinou essa tripulação para este ano, ele participou assim em várias provas e a um mês do campeonato do Mundo afirmou que não pretendia competir. Se a FP Canoagem alterar as suas regras e passar a ter cada atleta a competir como quer, com quem quer e quando lhe apetecer, o seu papel ficaria reduzido a agência de viagens e não é essa a sua missão", ironizou.
A concluir, referiu o seu relatório de Missão em Londres2012 para recordar que os países com mais medalhas em Jogos Olímpicos "são os que gerem resultados com consistência e não em gerações espontâneas", sendo esse o objetivo da sua gestão, "com a federação a assumir o número medalhas que pretende conquistar, os resultados que se propõe atingir".