Português é o novo treinador do Tottenham, na próxima semana já joga para a Liga dos Campeões e só tem que ganhar um jogo para passar aos oitavos de final. No campeonato inglês, equipa de Londres está pior: segue em 14.º lugar, ainda muito longe da Europa.
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José Mourinho chegou e não vai ter tempo sequer para se sentar: tem apenas quatro dias para preparar o primeiro jogo, que é a contar para o campeonato inglês, em casa do West Ham. É já no sábado, ao meio-dia e meio pela hora portuguesa.
Será um jogo de aflitos. O Tottenham, do norte de Londres, está em 14.º e a equipa em que milita o defesa português Gonçalo Cardoso, no leste de Londres, está ainda mais abaixo, 16.º, já a escassos dois lugares do pânico da despromoção.
Para se classificar para Champions do próximo ano (Inglaterra tem direito a colocar quatro equipas na competição europeia e mais uma na Liga Europa), o Tottenham vai ter que pedalar: está dez lugares abaixo desse patamar de acesso. Mesmo uma classificação direta para a próxima Liga Europa parece nesta altura difícil: a nova equipa de Mourinho é obrigada a pular nove lugares na classificação.
Embate lusitano à vista
Será três dias depois desse jogo na Premier League que os "hotspurs" de Mourinho têm um jogo fundamental para as suas atuais aspirações europeias, que nesta altura serão mais relevantes do que a possibilidade de ganhar o campeonato inglês - a razoabilidade dirá que as ambições caseiras do clube do galo serão só chegar aos lugares europeus.
Esse jogo crucial é já na terça-feira, 26 de novembro, em que o Tottenham recebe em casa o Olympiacos, da Grécia, em jogo decisivo da Liga dos Campeões da UEFA. O embate terá tempero lusitano: nas cadeiras de treinador sentam-se agora dois portugueses, Mourinho de um lado e Pedro Martins do outro.
Nesta altura, o vento é mais favorável ao primeiro: com apenas dois jogos para fechar o calendário desta fase de grupos da Champions, ao Tottenham, que está em 2.º com sete pontos (o 1.º é o Bayern, com 12) bastará ganhar esse jogo e apura-se logo para a próxima fase, os oitavos de final da prova. O Olympiacos, que soma apenas um ponto na prova, já só pretenderá chegar ao 3.º lugar, que dá passagem à Liga Europa (é um sonho possível: no último jogo da prova, a 11 de dezembro, recebe em casa o Estrela Vermelha de Belgrado, que é o seu concorrente direto pelo 3.º lugar).
Duas champions e duas ligas da Europa
O outrora "Special One" (foi assim que se apresentou em 2004 quando chegou ao Chelsea do milionário russo Roman Abramovich) já ganhou por duas vezes a Liga dos Campeões. A primeira foi na época 2003-04, na célebre final de Gelsenkirchen em que venceu o Mónaco do francês Deschamps por 3-0, com Deco em esplendor na relva.
A segunda foi depois na temporada de 2009-10, em que torna a erguer a taça de melhor clube europeu, agora ao serviço dos italianos do Inter de Milão, com 2-0 frente ao Bayern de Munique, dois golos de Diego Millito (o argentino conhecido como "El Principe", já tem entretanto 40 anos e já pendurou as chuteiras).
Com um total de 25 títulos na carreira internacional de treinador, Mourinho também já venceu por duas vezes a Liga Europa: em 2002-03 com o FC do Porto (vitória por 3-2 frente ao Celtic, da Escócia) e em 2016-17 pelo Manchester United (2-0 contra os holandeses do Ajax).
Entre as suas melhores medalhas contam-se ainda duas ligas italianas (2008-09 e 2009-10, ambas com o Inter), três campeonatos em Inglaterra, todos pelo Chelsea, que vivia em jejum de títulos há 50 anos (2004-05, 2005-06 e 2014-15, este último na segunda vez em que treinou os "Blues"), uma liga espanhola (2011-12, pelo Real Madrid ainda com Cristiano Ronaldo) e foi ainda duas vezes campeão em Portugal, sempre com o FC do Porto (2002-03, com 11 pontos de vantagem sobre o 2.º, que foi o Benfica, e 2003-04, oito pontos à frente do mesmo Benfica).
Um salário de milionário
Mourinho é o segundo português a treinar o Tottenham, após a passagem inglória de André Villas-Boas pelo clube do galo. Contratado em julho de 2012, o treinador ruivo, que na altura tinha 35 anos, aguentou-se apenas um ano e meio na cadeira (tinha contrato de três anos), tendo sido despedido em dezembro de 2013, com surpresa geral, depois de perder 5-0 em casa, humilhado pelo Liverpool.
Mourinho, que fará 57 anos a 26 de janeiro e estava há quase um ano no desemprego, assinou contrato com os "spurs" até 30 de junho de 2023 e volta à Premier League após duas passagens pelo Chelsea (2004 a 2007 e 2013 a 2015) e uma pelo Manchester United, que o despediu em 17 de dezembro de 2018.
O seu salário no Tottenham é de milionário: Mourinho vai ganhar 15 milhões de libras por ano (17,5 milhões de euros), que é exatamente o dobro do que ganhava o anterior treinador dos "Spurs", o argentino Maurício Pochettino, despedido no dia anterior à chegada de Mourinho.