O Mundial de Basquetebol, que irá decorrer no Japão, Filipinas e Indonésia, arranca na sexta-feira, às 8 horas, com o embate entre Angola e Itália. Os olhos estão postos nos Estados Unidos, que partem de orgulho ferido e procuram desforrar o vergonhoso sétimo lugar de 2019.
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Quatro anos após uma edição entusiasmante, na China, e com triunfo dos espanhóis, voltou o Mundial de Basquetebol. Falando em favoritos, os Estados Unidos são o forte candidato ao triunfo e à reconquista do troféu, partindo, de longe, a par daquilo que já se tornou frequente nestes palcos, na "pole position" da grelha de partida.
Os americanos procuram dar uma resposta ao humilhante sétimo lugar da edição anterior, após derrota frente à França (70-89), nos "quartos", e com a Sérvia (94-89), num duelo para ver quem avançava para o jogo do quinto e sexto lugar. Na liderança está um treinador bem conhecido do público, o majestoso Steve Kerr, campeão da NBA por nove vezes - cinco enquanto jogador (três nos Chicago Bulls, ao lado de Michael Jordan, mais duas nos San Antonio Spurs) e quatro enquanto treinador dos Golden State Warriors, criando, desta forma, uma dinastia em São Francisco.
Ao dispor contará com uma segunda linha, no que concerne à realidade do basquetebol norte-americano. Contudo, o suficiente para intimidar. Dos eleitos, o destaque recai em Anthony Edwards, um dos semblantes da mais recente geração da NBA, obtendo a ajuda de uma diversidade de jogadores de requinte: Ingram (Pelicans), Jaren Jackson Jr (Grizzlies), Brunson (Knicks), Mikal Bridges (Nets), Haliburton (Pacers), Kessler (Jazz), Banchero (Magic), Austin Reaves (Lakers), Cam Johnson (Nets), Bobby Portis (Bucks) e Josh Hart (Knicks).
A estreia está marcada para sábado, diante da Nova Zelândia, seguindo-se a Grécia, na segunda, e a Jordânia, na quarta, para fechar o Grupo C. Não se pede menos do que o pleno de vitórias, ainda mais diante uma Grécia sem Giannis (a ser falado mais para a frente), esperando-lhes, com o desenrolar, desafios mais duros na fase a eliminar. Posto isto, a teoria vale do que vale, e os norte-americanos terão de mostrar essa superioridade dentro do campo.
Ameaças ao título americano
Na perseguição, enquanto possíveis ameaças a uma reconquista do título por parte dos Estados Unidos, partem duas seleções europeias: França e Espanha.
Os franceses surgem com um conjunto de jogadores interessantes, tanto no plano defensivo como ofensivo. Proveniente da NBA, destaca-se Rudy Gobert, dos Minnesota Timberwolves - por três vezes jogador defensivo da Liga (2018, 2019 e 2021) e por outras três vezes escolhido para o All-Star (2020, 2021 e 2022). Dentro da mesma linha, há também Nicolas Batum (Clippers) e Evan Fournier (Knicks). A jogar na Europa, especial atenção para Nando de Colo e Ouattara, dos franceses do ASVEL e Monaco, respetivamente, ou até Yabusele, do Real Madrid. Num conjunto compacto e dotado de jogadores da mais alta craveira europeia. Têm um confronto duro, logo na fase de grupo, diante do Canadá, o que, no ponto de vista analítico, servirá para tirar a prova dos nove.
Já a Espanha, um pouco mais fraca a nível qualitativo (quando comparada a outras edições), demonstra um poder coletivo capaz de fazer superar qualquer adversidade. Sergio Llul e Rudy Fernández, ambos do Real Madrid, são os líderes de um elenco que conta com os jovens Aldama (Grizzlies), Garuba (Rockets), Parra (Joventut Badalona) e Núnez (Ratiopharm Ulm). Para além destes, a formação completa-se com os irmãos Juancho e Willy Henangómez (Panathinaikos e Barcelona) e Alex Abrines (Barcelona), este último com capacidade de ferir no tiro exterior. De notar a ausência de Rubio (MVP da última edição), que, num anúncio inesperado, revelou afastar-se dos pavilhões, pelo menos nos próximos tempos, para tratar da saúde mental.
Seleções que podem surpreender
O Canadá, impulsionado pelo desenvolvimento do basquetebol nos últimos anos no país, aparece nesta competição com um vasto número de jogadores integrados na NBA. O destaque, claro, vai para a estrela Shai Gilgeous-Alexander (Thunder), numa ascensão tremenda, que o levou a ser candidato a MVP da liga norte-americana na temporada passada. Dillon Brooks (Rockets), RJ Barret (Knicks) e Lu Dort (Thunder) são outras nomes a ter em conta, numa equipa que terá de lidar com as ausências de Jamal Murray, campeão pelos Denver Nuggets, e Andrew Wiggins (Warriors), duas peças importantes. Os canadianos defrontam a França na fase de grupos, naquele que será um teste à força de ambas as seleções.
Perto do perfil dos "canucks", a seleção australiana, tradicionalmente competente nestas andanças, salta à vista pela qualidade evidente no plantel, de onde ressaltam nomes como: Giddey (Thunder), Patty Mills (Nets), Thybulle (Blazers), Exum (Partizan), Josh Green (Mavericks) e Joe Ingles (Bucks). As medalhas, certamente, não serão uma miragem.
Há ainda a Eslovénia, de Luka Doncic, campeã europeia em 2017; a Sérvia de Bogdan Bogdanovic (Hawks), Guduric (Fenerbahçe), Jovic (Zaragoza) e Pokusevski (Thunder); a Alemanha de Schroder (Raptors), Theis (Pacers), Mo e Frank Wagner (Magic). Fora isto, existe sempre a curiosidade em ver como atua Towns (Timberwolves) pela República Dominicana, Kyle Anderson (Timberwolves) pela China, Markkanen (Jazz) pela Finlândia, Vucevic e Simonovic (Bulls) pelo Montenegro, Watanabe (Suns) pelo Japão e Jordan Clarkson (Jazz) pelas Filipinas.
Ausências de peso tiram brilho
Várias têm sido as estrelas que cancelaram a presença neste mundial por motivos físicos. Em parte, um dos motivos poderá incidir no cansaço, acumulado pelo excessivo e desgastante calendário da NBA, onde atuam muitos jogadores. São 82 jogos só na temporada regular, por vezes com embates marcados para dias consecutivos, num ritmo frenético, pautado por viagens extenuantes ao longo de todo o território dos EUA. Face a todo o desgaste, os jogadores abdicam do Mundial, resguardando o esforço para um evento ímpar: os Jogos Olímpicos, a realizar no próximo ano.
Um problema bicudo e que não permite ao Mundial atingir o nível esperado, embora, de um ponto de vista geral, o basquetebol, nestes últimos anos, apresente uma evolução bastante apreciável em todo o globo. De fora, pr exemplo, ficam: Nikola Jokic, da Sérvia; Giannis, da Grécia; Ben Simmons, da Austrália; Kristaps Porzingis, da Letónia; Domantas Sabonis, da Lituânia; Victor Wembanyama e Joel Embiid (recentemente naturalizado), da França. Todos eles se enquadram num grupo de atletas que, ora por condições físicas (desgaste e lesões), ora de modo a não afetaram a preparação para a próxima época da NBA, abdicaram de competir pelo próprio país.
Os países de língua portuguesa
Por fim, este Mundial contará com três representantes da Língua Portuguesa: Brasil, Angola e Cabo Verde. Os angolanos, aliás, irão abrir o torneio, diante a Itália, na sexta-feira, às 8h de Portugal. Destes, nove atletas, entre Angola (5) e Cabo Verde (4), atuam em território luso. Pelos angolanos irão a campo João Fernandes e António Monteiro (Sporting), Leonel Paulo e Dimitri Maconda (Sangalhos) e Eduardo Francisco (Benfica). Por sua vez, os Cabo-Verdianos levam Ivan Almeida e Betinho Gomes (Benfica), Keven Gomes (F.C. Porto) e Kévin Coronel (Portimonense).