Taxa de ocupação dos recintos na primeira jornada foi de 56%. Horários e legislação dificultam.
Corpo do artigo
A FIFA promoveu o Mundial de Clubes como um dos maiores espetáculos de futebol da história e vendeu a ideia aos adeptos que seria uma competição de sucesso imediato. Mas logo após a primeira semana, vê-se que não é bem assim. Quem tem acompanhado os jogos repara que o ambiente nos estádios é morno, mesmo em partidas com equipas sul-americanas, conhecidas por terem adeptos fervorosos e apaixonados. De acordo com as contas feitas pelo JN, na primeira jornada os estádios tiveram apenas metade da lotação, uma vez que a taxa média total de ocupação dos recintos situa-se nos 56,26%. Se compararmos com o último Mundial de seleções, em 2022, os números são ainda mais alarmantes já que há três anos os estádios estiveram quase lotados com um preenchimento de 93,12% e num país como o Catar, cheio de regras para os estrangeiros.
Olhando para os 16 primeiros jogos do Mundial de Clubes registam-se cerca de 400 mil lugares vazios, em cerca de 900 mil disponíveis, o que representa uma dura machadada nas expectativas da FIFA que tenta contornar a ausência de espectadores com alguns truques nas transmissões televisivas. Quem vê os jogos à distância não se apercebe das clareiras nos estádios, que se verificam estrategicamente na bancada onde estão colocados os operadores de imagem. Mas quem tem acesso a fotografias divulgadas nas redes sociais depara-se com uma realidade bem diferente, podendo ver várias clareiras em determinados sítios.
FIFA tenta resolver
Nos últimos dias, a FIFA distribuiu muitos bilhetes e implementou um sistema de preços dinâmicos e acessíveis para tentar atrair mais adeptos e assim minimizar os estragos de uma realidade crua e dura, pois metade dos 16 primeiros jogos do Mundial de Clubes, que decorre nos Estados Unidos, teve uma taxa de ocupação inferior a 50%. Segundo os dados divulgados pelo organismo, a primeira jornada da prova registou um total de 556 369 espectadores, uma diferença significativa em relação ao Mundial 2022 com a presença de 703 052 adeptos nos estádios.
Se analisarmos mais ao detalhe, o jogo com menos público aconteceu entre os sul-coreanos do Ulsan HD e os sul-africanos do Mamelodi Sundowns, duas equipas sediadas em países muito longe dos Estados Unidos, e que apenas atraiu 3412 adeptos a um estádio com capacidade para 25 mil espectadores, o que representa uma taxa de ocupação de 13,6%. Mesmo assim, a FIFA não foi capaz de criar uma campanha ou até distribuir bilhetes junto da população local para que o recinto tivesse uma moldura humana significativa. No Mundial de 2022, o jogo com pior assistência foi o Suíça-Camarões com 39 089 adeptos no Al Janoub Stadium e potenciou uma taxa de ocupação de 88,21%.
A decorrer nos Estados Unidos, um país onde o futebol não é o desporto mais popular, os horários também dificultam a presença dos espectadores nos recintos, porque muitos jogos começam às 15 horas locais para serem transmitidos em horários decentes no continente europeu. Além disso, são disputados sob temperaturas de 30 graus o que causa constrangimentos aos jogadores e também ao público.
Por outro lado, as rusgas da polícia norte-americana aos trabalhadores imigrantes na Califórnia apertaram a legislação e impossibilitaram milhares de adeptos de conseguir o visto para entrar no país. Houve simpatizantes do Benfica que sentiram na pele estas medidas restritivas que a FIFA pouco ou nada fez para tentar contornar. Por isso, há muitas cadeiras vazias num Mundial de Clubes que está longe de agradar. Ao público e aos treinadores.
Daniel Sá, diretor do IPAM: “FIFA pode estar contente, mas não deve celebrar um sucesso que ainda não existe”
No seu entender, porque o Mundial de Clubes não está a ter muita aceitação do público?
A FIFA está a lançar uma competição nova que ainda vai aperfeiçoar. É como qualquer empresa quando lança um projeto novo, não se pode esperar um sucesso imediato. As assistências são consequência disso, porque as pessoas não estão habituadas a esta prova.
Isto pode preocupar a FIFA para o próximo Mundial no continente americano?
Não, porque será tripartido entre os Estados Unidos, México e Canadá, e é uma prova diferente. Os adeptos já estão habituados e movimentam-se com antecedência.
Do ponto de vista do marketing, o que correu mal?
A FIFA não falha em muitas coisas básicas como a bilheteira e a experiência do adepto. Mas faltou vender bem o conceito dos melhores contra os melhores, porque os critérios de classificação soaram a distorcidos. O Barcelona está de fora e há uma equipa praticamente amadora [Auckland City] a perder por 10-0. Foi uma fase de apuramento mais confusa que o Mundial de seleções. Parece haver um desequilíbrio grande entre equipas e tudo isto deixará o organismo a pensar e a aprender para a próxima edição.
E o que correu bem?
Estão em competição 32 clubes, muitos deles dos maiores a nível mundial e de vários continentes, imagine-se a aventura negocial que terá sido, sobretudo pelo dilema do excesso de competições, com equipas em fim de época, outras no início e outras a meio. Combinar isto tudo, a FIFA pode estar contente, mas não deve celebrar um sucesso que ainda não existe. Os antigos Mundiais de Clubes geravam receitas de 30 milhões de euros e tudo aponta para que esta edição resulte em mil milhões.