Basta um empate no jogo de hoje, no campo da Udinese, para o Nápoles ser campeão em Itália. O título foge-lhe desde 1990, quando pontificava Maradona. Desde aí tudo aconteceu: descida de divisão, uma grave crise financeira e a recuperação graças à mão de um cineasta.
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Trinta e três anos depois, o Nápoles está à beira de voltar a conquistar o título italiano. Os alicerces de um clube, que há 19 anos estava falido e ainda chorava a memória de Diego Maradona, está sob os ombros do cineasta Aurelio de Laurentis, um dos homens mais ricos do país, que reabilitou financeiramente a estrutura. Durante a presença do astro argentino, que deu expressão e personalidade ao emblema cuja cor principal é o azul em homenagem ao Mar Tirreno, que banha a costa oeste italiana, o Nápoles foi pela primeira vez campeão - festejou dois títulos (1986/87 e 1989/90) -, conquistou uma Taça de Itália, uma Supertaça italiana e, na Europa, ganhou o primeiro e o único troféu da sua história, a Taça UEFA, em 1988/89.
Quatro temporadas de ouro que deram status, orgulho e reconhecimento ao clube e à cidade e que elevaram Maradona à condição de "Deus" em Nápoles. Porém, depois de uma subida à montanha, o clube desceu a um nível que poucos consideraram ser possível: atravessou uma crise desportiva e financeira praticamente sem precedentes que deixou os adeptos, cerca de 35 milhões, em depressão. O auge da queda ocorreu em 1998, com a descida à Série B, vergonha que não era vivida em Nápoles há 35 anos. Ainda assim, os simpatizantes do clube, o quarto mais representativo em Itália, nunca deixaram o Nápoles à deriva: muitos jogos, no período mais negro, foram acompanhados por mais de 40 mil pessoas, no Estádio San Paolo.
Em agosto de 2004, o Nápoles entrou oficialmente em bancarrota e Laurentis, hoje com 73 anos, pegou no rumo do clube, sendo obrigado, numa primeira fase, a mudar o nome para Nápoles Soccer, e a começar quase na estaca zero no futebol italiano, na Série C1, correspondente à 3.ª Divisão. O sonhado regresso ao escalão principal ocorreu em 2007/08, já com o antigo nome outra vez, e a equipa ficou no oitavo lugar. Três épocas mais tarde, fez terceiro, garantindo, pela primeira vez o acesso, à Liga dos Campeões.
Uma ascensão fulgurante alicerçada em contratações que se tornaram, mais tarde, em lendas no clube. O internacional belga Dries Mertens, recrutado ao PSV, tornou-se no melhor marcador da história, com 148 golos, ultrapassando Maradona, já Marek Hamsik, um semi-desconhecido eslovaco que chegou transferido do Brescia por 5,5 milhões de euros, transformou-se no jogador que mais vezes vestiu a camisola do Nápoles, com 520 jogos.
Outras aquisições deram muito ao clube, como as das super estrelas Edinson Cavani e Gonzalo Higuain, seguindo-se ainda jogadores cruciais como Lavezzi, De Sanctis, Insigne e Pepe Reina. Entre portugueses, Rolando esteve no clube e Mário Rui ainda hoje é o dono da lateral esquerda na equipa. Em 2017/18, apesar da equipa ter batido o recorde de pontos (91), não conseguiu ser campeão, ficando atrás da Juventus.
O clube, que não tem camisola 10 em memória de Maradona e cujo nome do estádio foi mudado para o de "El Pibe", em 2020 (o ano da sua morte), chegou finalmente ao apogeu nesta temporada. Além de ter chegado pela primeira vez na sua história aos quartos de final da Liga dos Campeões, domina com total tranquilidade a liga italiana desde as primeiras jornadas, tendo alcançado uma vantagem que ultrapassou os 20 pontos sobre o segundo classificado.
Liderados por Victor Osimhen, contratado ao Lille por 70 milhões de euros, a aquisição mais cara de sempre do clube, e por Kvaratskhelia, a equipa tornou-se uma máquina fiável e competitiva, desafiando outra vez de frente os clubes ricos do Norte de Itália, um dos ódios de estimação de Diego Maradona. No banco, Luciano Spalletti vai conseguir o que alguns dos seus antecessores, como os consagrados Carlo Ancelotti e Rafa Benitez, não conseguiram: ser campeão.