A alimentação dos ciclistas durante uma corrida é tão ou mais importante do que a preparação física. Devido ao elevado gasto calórico e à desidratação, as equipas fazem uma gestão milimétrica da ingestão de hidratos de carbono, o "combustível" essencial para que as pernas não falhem.
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Em apenas algumas horas de corrida, um ciclista pode queimar o dobro das calorias do que num dia normal. É, por isso, fundamental fazer um cálculo milimétrico do "combustível" necessário para vencer os quilómetros, num desporto onde a alimentação é tão ou mais importante do que a preparação física. "Há abastecimento à partida, a meio e no final da etapa, sempre fazendo contas para que o corredor consiga repor aquilo que perde. Logicamente, há sempre défice", constata José Azevedo, diretor desportivo da Efapel Cycling, indicando que o gasto pode chegar às cinco mil calorias, por dia, só na estrada. O cuidado nutricional começa dois dias antes, com um reforço nos hidratos de carbono, o garante da energia dos ciclistas. “A proteína tem a sua importância, mas não é o mais essencial. É nos hidratos que está o maior aporte energético”, realça o antigo atleta.
Para que as pernas não falhem, cada corredor ingere 120 gramas de hidratos de carbono por hora. É esta a "medida" de referência comprovada cientificamente. "Depois de um pequeno-almoço que inclui arroz cozido e ovos, durante a etapa temos uma combinação de barras, sais e géis", explica Francisco Pereira, da Feirense-Beeceler.
Além da nutrição, a hidratação não pode ficar esquecida. Na 5.ª edição do Grande Prémio Douro Internacional, que percorre o território que é Património Mundial da Unesco, o calor aperta, mas até nos dias mais amenos é preciso beber água. "O problema está quando passa muito tempo, durante uma prova. Se eles se esquecem de beber e entram num processo de desidratação, já não consegue recuperar. É difícil porque mesmo que se vá bebendo depois, aquilo que se perdeu não se recupera", alerta José Azevedo.
Um bidão de água por hora
Porém, entre o esforço da corrida e o foco no objetivo, nem sempre se pensa na hidratação. Entre muitas outras funções, cabe aos diretores desportivos o papel de relembrar os atletas que está na hora de abastecer. "Às vezes, com o esforço não nos lembramos, mas é bastante importante manter-nos hidratados porque a performance reduz drasticamente se não o fizermos de forma correta", adverte o Francisco Pereira, apontando para, no mínimo, um bidão de água por hora. "Num dia de muito calor, sentimos a necessidade de beber dois ou três", complementa.
Apesar de ser imprescindível minimizar as perdas, o equilíbrio é a chave, já que os exageros podem ter o efeito inverso. "O corpo tem um limite de absorção. Não se pode dizer ‘bebe, bebe, bebe’ porque chega a um ponto que é prejudicial", avisa Azevedo. "O equilíbrio é importante para minimizar as perdas na corrida porque quando o corpo entra em perda, o rendimento vai baixar".
O diretor da Efapel considera que para evitar os problemas gastrointestinais – muito frequentes nos corredores – é necessário variar entre líquidos e sólidos. Hoje em dia, com cada vez mais produtos alimentares e suplementos no mercado, não é difícil permitir aos corredores um "almoço" diferente na estrada. "Qualquer um de nós, num dia normal, gasta entre 1800 e 2000 calorias. Eles em quatro ou cinco horas, gastam 5000. Fora o resto. Ou seja, eles se calhar, num dia, gastam 7000 calorias e têm de as repor. Como? Não é comendo um quilo de arroz ou de carne, porque isso vai trazer-lhes peso e também não é isso que a gente quer. Daí existirem esses suplementos. A nutrição evoluiu muito", esclarece José Azevedo.
E nas equipas, há sempre miminhos preparados para os corredores, como arroz-doce, aletria ou gomas, fontes de hidratos de carbono mais doces para encorajar quem vai a pedalar. "Os nossos massagistas fazem um excelente trabalho. Não sentimos que seja uma obrigação", assegura Francisco Pereira, adepto do arroz-doce com bolachas Oreo feito na Feirense-Beeceler.