Esteve para ser dispensado pelo Sporting na formação, mas só começou a voar, quando baixou de extremo para lateral esquerdo. Um dia, o melhor jogador da Liga das Nações meteu um desconhecido dentro de casa que lhe abriu a porta da felicidade.
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Nuno Mendes chegou ao Sporting com 11 anos e esteve para ser dispensado ao fim de quatro temporadas, por tardar a afirma-se. Só quando baixou de extremo para lateral, nos sub-15, é que voltou ao de cima o talento que tinha evidenciado no FC Despertar. “Alguns acabam por desmotivar, por não irem a este o àquele torneio, mas o Nuno não. Treinava da mesma maneira e era uma criança feliz, sempre com a mesma atitude, competitivo, não se deixava ir abaixo”, recordou, ao JN, João Plantier, treinador do defesa na formação do Sporting. “Teve sempre a capacidade e a resiliência para fazer o caminho dele até conseguir ser escolhido”, acrescentou. A tenacidade compensou-o: foi considerado o melhor jogador da Liga das Nações, além de ter sido fundamental na conquista do título da seleção portuguesa na competição, após ter vencido a Champions pelo PSG.
Terá sido esta atitude que levou Nuno Mendes a afirmar-se como um dos melhores laterais esquerdos do Mundo. “O que me seduziu nele foi a relação com bola. Era natural num jogador de futebol de rua, apesar de franzino e pequeno”, recordou, ao JN, Akil Momade, antigo olheiro do Sporting, que o descobriu no FC Despertar. “Apanhei-o à saída da escola, e perguntei-lhe se não gostaria de jogar no Sporting. Fomos até casa, o pai estava no café, a mãe estava a trabalhar, e ele abriu-me a porta. Fui à cozinha buscar um copo de água e tinha lá uma faca, peguei nela e apontei-a. Disse-lhe ‘então metes em casa uma pessoa que não conheces de lado nenhum?’ O Nuno ficou assustado e mostrei-lhe que não devia ter feito aquilo. Depois conversamos, disse-lhe que tinha qualidade para ir treinar ao Sporting”, contou.
Assinar contrato de formação foi fácil. “Rebentou com tudo, logo no primeiro treino”, recordou, “mas durante as quatro épocas seguintes esteve sempre na lista dos dispensados”, acrescentou. “Um dia ligaram-me do Everton, propuseram-me uma comissão se os levasse a casa dele. Estranhei porque não era aposta do Sporting e perguntei onde é que o tinham visto. Responderam que tinham ficado impressionados com ele na seleção”, partilhou. Foi por essa altura que se deu um salto decisivo. “Era extremo, mas só quando recuou para lateral é que começou a mostrar-se, precisava de espaço. Quando o Leonel Pontes pegou nos sub-23 e passou a apostar nele nessa posição, o Nuno foi crescendo ao lado de Tiago Tomás, Quaresma e Gonçalo Inácio”, sublinhou. “É um jovem humilde, sofredor, que nunca desistiu. É uma lição de vida para jogadores que não são aposta inicial, mas ele, com a sua qualidade, chegou lá”, rematou.