Lens impôs a primeira derrota ao PSG, ganhou todos os jogos em casa e sonha com o título. Em 2020, estava na 2.ª Divisão
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Até 2016, Joseph Oughourlian e Arnaud Pouille não tiveram quase nada a ver com futebol. O primeiro estudou e sempre se interessou mais pelo mundo financeiro; o segundo dedicou-se ao râguebi, ultrapassada a panca futebolística dos primeiros anos.
Mas hoje, são, respetivamente, o presidente e o diretor-geral do RC Lens, o surpreendente segundo classificado da liga francesa que superou problemas financeiros e administrativos, que distribui lucros pelos funcionários e que na semana passada impôs a primeira derrota da época ao Paris Saint-Germain (3-1).
Quem ajuda a explicar tamanho brilhantismo dentro do campo é Franck Haise, ele que - talvez por se reverem num passado comum e pouco indicador de êxito no futebol - foi escolhido, em 2020, por Oughourlian e Pouille, apesar da escassa experiência como treinador e de uma carreira quase irrelevante.
O RC Lens só foi uma vez campeão francês (1998), tem mais uma Taça da Liga, mas não ganha nada de importante há mais de duas décadas.
Há três épocas, estava no segundo escalão. Assim já se percebe melhor a euforia que envolve o Estádio Bollaert-Delelis, cuja capacidade é superior à população total da cidade . Semana sim semana não, são cerca de 30 mil adeptos que praticamente enchem as bancadas; em dia de jogo, Lens é uma não-cidade.
Claro, são considerados dos mais fervorosos do futebol francês e também têm uma quota de responsabilidade no recente sucesso desportivo da equipa que conta com o luso-francês David Costa: frente ao PSG, o Lens disputou o nono jogo em casa e festejou a nona vitória, registo ímpar, que até supera o do campeão. Com a primeira volta a terminar, o Lens empatou quatro vezes, só perdeu uma e chega à 18.ª jornada com 40 pontos, o máximo de um segundo classificado desde 1960.
Esse fervor foi, aliás, o ponto de partida de Joseph Oughourlian para revitalizar o emblema mais a Norte da Ligue 1, a par do vizinho e maior rival Lille. Ao mesmo tempo que resolvia os graves problemas financeiros, o proprietário e presidente tornou (muito) acessíveis os preços dos bilhetes para os jogos em casa, chamando para a luta os adeptos que, nesses tempos, faziam questão de mostrar o descontentamento com o rumo dos acontecimentos. E o RC Lens começou a acordar.
Ganha dentro do campo e tornou-se exemplar fora dele, com as finanças a entrarem nos eixos, ao ponto de distribuir parte dos lucros gerados pelos funcionários. No defeso, perdeu três dos jogadores mais importantes, mas a vida seguiu. E ainda melhor.