É sabido que o desporto, e o futebol em particular, é um fenómeno social global sobre o qual as pessoas desenvolvem paixões exacerbadas, quase irracionais, sobre equipas desportivas, competições ou atletas. Esta ligação emocional única, representa uma relação simbólica com o resultado desportivo, com o sucesso, e a verdade é que, quase todos nós, individual ou coletivamente, celebramos a conquista e a alegria da vitória, o que acontece de forma expressiva no desporto, mas não em outras áreas sociais ou de atividade económica.
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Esta relação simbólica e emocional com a seleção nacional, constitui assim uma plataforma de consenso e concórdia coletiva, mesmo que temporária, colocando em segundo plano as agruras da agenda social diária como a guerra, a inflação, a corrupção, as alterações climáticas e até a violação dos direitos humanos.
No sábado 10 de dezembro, precisamente no dia da celebração mundial dos direitos humanos, este ano sob o tema "Dignidade, Liberdade e Justiça para Todos", o clima emocional positivo com a seleção nacional foi abruptamente interrompido e Portugal saiu vencido nos quartos de final com dignidade, no quadro da liberdade de escolhas feitas por Fernando Santos, mas com um desfecho final cuja justiça é percecionada de forma diferente por cada um, num País em que o dia 10 de dezembro não encontra respaldo social para ser celebrado.
Recorrendo a uma outra característica ímpar do desporto, o sentimento generalizado de otimismo, já estamos a pensar que podemos vencer novamente o próximo campeonato da Europa e a transferir as nossas conexões emocionais para as competições domésticas de clubes, enquanto deixamos entrar novamente nas nossas vidas a agenda social de temas diários, mais ou menos recorrentes, talvez interrompida com o que resta do Mundial de Futebol.
*Presidente do Instituto Português do Desporto e Juventude