O avançado português é pretendido pelo Al-Nassr. Arábia Saudita tem em curso um plano para renovar a imagem do reino a nível desportivo, social e económico. CR7 faz parte da estratégia.
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Cristiano Ronaldo tem em mãos uma proposta astronómica, que pode fazer dele o futebolista profissional mais bem pago do planeta, se aceitar o contrato de 500 milhões de euros, por duas épocas e meia, que o Al-Nassr, da Arábia Saudita, lhe fez chegar. Para se ter uma ideia, o contrato proposto ficaria mais caro do que o investimento no Newcastle, adquirido em 2021 por um fundo de investimento público saudita, liderado pelo príncipe Mohammed bin Salman, por cerca de 350 milhões de euros. A confirmar-se, o negócio levaria ainda o contrato do internacional português a valer mais do que a cotação da totalidade dos clubes da liga saudita avaliada pelo Transfermarkt em 343,54 milhões de euros.
Desde que a Arábia Saudita lançou o plano "Visão 20/30", os investimentos em vários setores têm-se intensificado e o futebol é uma das apostas para levar ao Mundo uma imagem moderna do país. Em 2021, a compra do Newcastle foi uma das primeiras operações financeiras e uma das que teve maior impacto a nível mundial e insere-se na política definida pelo reino. Na entrevista à Skysports, Abdulaziz bin Turki Al-Faisal também foi confrontado com investimentos em clubes como Manchester United e Liverpool, à venda, e não fechou portas. "Só iríamos beneficiar com investimentos desses, pelo que os investidores privados são sempre bem-vindos. São negócios desses que nos permitem desenvolver parcerias como as que já temos com o Newcastle", respondeu. "O esforço que estão a fazer para tentar trazer Ronaldo é sinónimo de poderio financeiro, mas também vai no sentido da competitividade que vão acrescentando à liga a cada ano. Fora da Europa, a liga saudita já é uma das mais vistas", comentou, ao JN, Pepa, treinador do Al-Tai, da liga saudita.
O antigo treinador do V. Guimarães não esconde que com CR7 no campeonato, o futebol local só iria beneficiar. "Estamos a falar de um dos três melhores jogadores do Mundo de todos os tempos. Qualquer negócio que o trouxer para o futebol saudita vai chamar a atenção para esta Liga. Seria bem-vindo por todos os clubes, porque ia ajudar a promover o futebol saudita e o próprio país, conforme disse o príncipe", declarou o treinador português. "Aqui cada vez se aposta mais. A liga está cada vez melhor. Além disso, ainda podem contar com profissionais muito bons ao nível da fisioterapia, da medicina desportiva, etc. Isso explica que os clubes sauditas vençam muitas vezes as competições internacionais nesta zona, porque são os mais competitivos e mais bem apetrechados. Não param de crescer", argumentou.
"Visão 20/30" vai mudar a face do país
Se aceitar o contrato, Ronaldo será a cereja no topo do bolo para os sauditas, nomeadamente para os investimentos no futebol que se fazem há já vários anos. Os tais "projetos" a que Abdulaziz bin Turki Al-Faisal, príncipe e ministro dos desportos saudita, se quis referir recentemente, há muito foram lançados. "Eles têm em marcha o "Visão 20/30" com vários investimentos em curso e o futebol é um deles", garantiu, ao JN, Jorge Teixeira, empresário que trabalha há anos com mercado saudita.
A verificar-se, a contratação de CR7, esta até poderia ser inserida no "Visão 20/30", que pretende renovar a imagem do reino. Com mais de 767 milhões de seguidores nas redes sociais, Ronaldo seria o veículo ideal para levar ao Mundo a imagem que o país do Médio Oriente pretende.
"Com ele, a Arábia Saudita andaria nas bocas do Mundo. Ia contribuir para melhorar a liga e abrir portas a outras estrelas. Embora a liga saudita seja a mais competitiva daquela zona", explicou Jorge Teixeira. A quantidade de jogadores e treinadores estrangeiros contratados nos últimos anos tem ajudado a fazer evoluir o futebol saudita. Para a vitória sobre a Argentina (2-1) na primeira jornada do Grupo C do Mundial também contribuiu uma iniciativa inédita da Federação. "Há uns anos patrocinaram a saída dos melhores jogadores dos clubes da liga para a Europa. Em Espanha chegaram a pagar cinco milhões de euros a alguns clubes para os incorporar de modo a acelerar a sua evolução", acrescentou ainda o empresário. "Aumentaram o número de estrangeiros de três para oito, em cada clube. Se contratarem Ronaldo vão envolver outras entidades, como a Casa do Rei, para terem mais recursos", garantiu Pepa.
Mas o "Visão 2030" da Arábia Saudita vai muito para lá dos investimentos no futebol e pretende revolucionar o país a vários níveis, começando por reduzir a dependência económica do petróleo, explorando atividades económicas alternativas para se tornar numa potência de investimento global, promover uma imagem mais leve do que a imagem secular do país, sem abdicar do estatuto de país central do mundo árabe e islâmico; estabelecer metas para diversificar e melhorar a competitividade, investimentos em urbanismo, cultura, abertura do emprego às mulheres, criação de fundos de investimento estrangeiros, maior envolvimento do setor privado, quer um governo mais racional na gestão e virado para a digitalização, entre outros objetivos.