Casos no Benfica-Sporting reabriram discussão sobre os lances de mão na bola. Não se vislumbram soluções para calar a histeria
Corpo do artigo
É mão! Mas foi um ato deliberado? E houve um movimento do braço em direção à bola? E o jogador podia ter evitado o contacto ou a bola apareceu-lhe à frente de repente? Numa fração de segundo, e sem acesso a milhentas repetições, é, basicamente, isto que os árbitros têm de analisar para (tentarem) interpretar o que acabam de ver. É que quando se fala de lances de mão na bola, ou vice-versa, a palavra-chave é mesmo interpretar.
"É dos assuntos mais debatidos no seio da arbitragem, mas são lances de difícil análise e sem um critério definido porque depende sempre da interpretação de cada um", revela ao JN fonte ligada à arbitragem. E não é preciso recuar muito para se perceber a falência legislativa para estes casos e a subjetividade que os mesmos têm. No último dérbi, os sportinguistas gritaram por dois penáltis por mão na bola, enquanto os benfiquistas torceram o nariz à possibilidade de existir mesmo motivo para falta.
A polémica está muito longe de ser nova. Basta recordar que a rédea dada aos futebolistas já foi tão curta que os jogadores quase que foram obrigados a abordar lances com as mãos atrás das costas para evitar qualquer penalização: "Não concordo nada com essa postura, porque essa não é a posição natural dos braços", explica um ex-árbitro. A culpa, reclama-se, é da lei, mas a verdade é que não se vislumbram soluções para, pelo menos, minimizar os danos e abafar o ruído. "O que se tenta fazer é aproximar a uniformidade do critério, porque, honestamente, não vejo que haja algo a fazer em termos de lei", assume outra fonte.
Nesse sentido, os árbitros são entupidos de informação, de maneira a estarem o mais bem preparados possível para estes lances e, ao mesmo tempo, desejam que exista um fio condutor de raciocínio entre todos, evitando-se, assim, decisões diferentes para lances iguais. "Mais do que prático, o treino que se faz para estes lances é teórico, com recurso a vídeos", adianta a fonte ligada à arbitragem.
Do alto do radicalismo, e para acabar de vez com a histeria, há até quem defenda que seja assinalada falta sempre que a bola bater na mão. Afinal, já dizia Paulo Bento: "Andebol... mão; futebol... pé".
O que diz a Lei
Escrutinar a lei que diz respeito aos lances de mão na bola leva-nos à página 80 das Leis de Jogo da International Board da FIFA, que estão disponíveis para visualização no site da Federação Portuguesa de Futebol. No capítulo 12 do calhamaço, que se refere às faltas e incorreções num jogo de futebol, pode ler-se que, para começar, "tocar a bola com as mãos implica um ato deliberado em que o jogador toma contacto com a bola com as mãos ou com os braços".
No entanto, na hora de decidir se há motivo para falta, o árbitro deve ter em conta "o movimento da mão na direção da bola (e não a bola na direção da mão)", a "distância entre o adversário e a bola (bola inesperada)" e que "a posição da mão não pressupõe necessariamente uma infração". Também existe infração por mão na bola no caso de "o contacto com a bola ser feito com um objeto que se tem na mão (peça de vestuário, caneleira, etc.) e também no caso de "o contacto com a bola ser feito através de um objeto lançado (bota, caneleira, etc)