Avançado do Real Madrid tem sido alvo de palavras, atitudes e ações discriminatórias ao longo da temporada.
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Sempre que o racismo acontece lá surgem as desculpas que colocam a responsabilidade no insultado e minimizado. Com Vinícius Júnior é igual. Porque finta muito, porque faz habilidades com a bola, porque festeja a dançar, porque provoca os adversários... O internacional brasileiro tem sido o alvo de jogadores, treinadores, comentadores, adeptos e a evidente caça ao homem só se tem acentuado, o que também se justifica com a inação da liga espanhola em identificar e punir os que recorrem à primitiva reação racista para melindrar e tentar prejudicar o jogador do Real Madrid.
O Estádio Son Moix, em Palma de Maiorca, foi o último a dar palco a cenas e a palavras deploráveis. Seguindo o mau exemplo da época passada, em que foram bem audíveis coisas como "vai apanhar bananas", a aversão a Vinícius Júnior ganhou outra pujança. Os assobios sempre que tocava na bola não seriam relevantes se os mesmos não fossem apenas direcionados para ele, mas o pior foram os gritos de "macaco, macaco" que a transmissão televisiva fez questão de não esconder. A hostilidade, contudo, também se mostrou no relvado, com jogadores da equipa insular a provocarem o brasileiro, quase sempre resumindo-o a um chorão: "Quando lhe chamam provocador, Vinícius usa o racismo", defendeu-se Raillo. Tal como na época passada, a Liga espanhola abriu uma investigação para apanhar os adeptos que mancharam esse jogo; se o resultado for o mesmo, o caso acabará arquivado.
Mas Maiorca não está só. Barcelona, Bilbao, Valladolid e Madrid contribuem para a onda de ódio contra Vinícius Júnior. Até o presidente da Associação Espanhola de Agentes de Futebol (AEAF), Pedro Bravo, meteu o bedelho: "Se quer dançar, que vá para o sambódromo. Aqui tem de respeitar os companheiros de profissão e deixar de fazer macacadas", disse num programa televisivo. O caso mais inacreditável aconteceu em janeiro, antes de Real e Atlético se defrontarem para a Taça do Rei. Um boneco com a camisola número 20 dos "merengues" - o de Vinícius - foi exibido com uma corda ao pescoço numa ponte da capital. Coincidência, ou não, dentro do campo também se tem passado das marcas com o jogador brasileiro, o que mais faltas sofre nos principais campeonatos europeus, algumas a roçar a agressão, como a de Gabriel Paulista, do Valência, que pontapeou o... compatriota. "O racismo é um problema do futebol espanhol", considera Carlo Ancelotti, técnico do Real Madrid. Mas vai tendo em Vinícius Júnior um grande adversário.