Os bastidores da criação da camisola mais popular do desporto nacional
Símbolo da liderança da Volta a Portugal, a camisola amarela é feita por uma empresa de Barcelos que utiliza a tecnologia e a experiência para planear e executar o mais ambicionado símbolo do ciclismo.
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A camisola amarela da Volta a Portugal é um dos mais icónicos símbolos do desporto nacional, e para cumprir, novamente, o seu papel de elemento central da corrida, foi desenvolvida, nos últimos meses, com todos os pormenores, por uma empresa sedeada em Barcelos. A Pacto, fundada em 2009 pelos ex-ciclista Afonso Azevedo e Pedro Cardoso, tem recebido, já há alguns anos, essa responsabilidade, concebendo e executando, além da amarela, todas as outras camisolas dos prémios da corrida, mas também os equipamentos de várias equipas do pelotão nacional.
"Começamos a fazer preparação das camisolas de um ano para outro, e depois vamos ajustando conforme o processo vai sendo aprovado. No caso das camisolas para esta prova, a parte de confeção em si começou a ser feita no final de junho, cerca de um mês antes da corrida, para que tudo esteja pronto a tempo", explicou, ao JN, Afonso Azevedo.
Apesar do desenho, e das escolhas dos materiais, ser feito em Portugal, na sede da empresa, a confeção das camisolas é executada em países como Espanha e Itália, mas a Pacto acredita que nos próximos anos o produto final poderá ser 100 % nacional. "Várias matérias-primas já são feitas cá, mas a parte da confeção ainda temos de fazer no estrangeiro. Mas tem havido um grande desenvolvimento na indústria nacional desta área, e várias peças já produzimos em Portugal, o que há alguns anos era impensável", partilhou Afonso Azevedo.
A evolução técnica dos materiais, dos tecidos e até da parte estética das camisolas tem sido uma constante, obrigando estes "alfaiates da Volta" a frequentemente introduzirem melhorias nas peças. "Este ano, as camisolas dos líderes e de algumas equipas são feitas com um tecido mais ligeiro e fresco, com uma espécie de rede na parte da frente, para que o ciclista se adapte melhor ao calor", explicou o responsável.
O facto de ter sido um ex-ciclista dá a Afonso Azevedo uma melhor perceção sobre as necessidades dos atletas durante a corrida, garantido, por isso, que não há muitos "pedidos especiais" sobre as camisolas. "Uns querem uma camisola mais curta, outros uns calções mais longos, ou vice-versa, e agora há uma moda de a manga bater quase no cotovelo. São pormenores, mas aos quais estamos atentos, pois queremos que estejam confortáveis e apenas focados na corrida", partilhou.
Sobre a possibilidade dos equipamentos serem mais resistentes numa situação de queda, de forma a minimizar danos físicos nos atletas, Afonso Azevedo lembrou que já há algumas soluções de tecidos nesse sentido, mas que ainda não são definitivas. "Pela nossa experiência enquanto ex-ciclistas, sabemos que, quando são quedas àquela velocidade, não há tecido que aguente...", atirou.
Se nos últimos meses a tarefa da Pacto se centrou no planeamento e execução dos equipamentos, assim que a Volta a Portugal parte para a estrada, os dois empresários também seguem na caravana, transportando quase uma centena de camisolas para as diferentes situações de corrida, onde nenhum pormenor pode faltar.
"Durante a prova levamos três tipos de peças. As camisolas de corrida, as camisolas do pódio, e os fatos contrarrelógio. E como não sabemos se quem as vai utilizar é um ciclista pequeno ou grande, temos de levar vários tamanhos desde XXS até ao M", explicou Afonso Azevedo.
Em plena corrida, o frenesim aumenta, porque todos os dias é preciso colocar o estampado com o nome e o símbolo das equipas nas camisolas dos corredores que sobem ao pódio, num processo feito "na hora" através de uma máquina que segue no veículo da Pacto. "Logo após o término da etapa, temos um elemento a ver as classificações, esperamos que o comissário as valide, e logo a seguir sublimamos [estampar] as camisolas para que o ciclista vá devidamente identificado à cerimónia do pódio", explicou.
Afonso Azevedo reconhece que a visibilidade que a Volta a Portugal dá aos equipamentos da Pacto tem ajudado a empresa a crescer, mas também nota que "há mais gente a praticar a modalidade e mesmo os ciclistas amadores procuram vestuário adequado". Além de fornecer as camisolas das diferentes classificações para a organização, a Pacto também as vende ao público, e além da icónica amarela, a novidade deste ano é camisola das bolinhas, um modelo inspirado na indumentária que na Volta a França distingue o líder da classificação da montanha, e que, pela primeira vez, vai ser implementado na Volta a Portugal.