Bernardo Silva, como André Villas-Boas, James Rodriguez ou André Horta, são heróis e vilões num futebol onde, curiosamente, se reclama por falta de amor à camisola.
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Os adeptos dos clubes de futebol vivem num paradoxo: ora lamentam a escassez de amor à camisola, ora revoltam-se com aqueles (poucos e cada vez menos) que não escondem a preferência clubística, a ligação emocional a determinado emblema e a rivalidade que isso alimenta. O benfiquista assumido Bernardo Silva e um "esta (vitória) soube mesmo bem", depois do triunfo sobre o F. C. Porto, em Manchester, são a mais recente amostra disso mesmo, com o internacional português a ser, depois disso, visado, criticado e colocado na prateleira de "persona non grata" no Dragão.
Bernardo Silva, o F. C. Porto e os portistas, no entanto, não estão sozinhos nesse paradoxo.
James Rodriguez, por exemplo, também já ouviu e leu das que não quis por não conseguir, nem sequer tentar, esconder o portismo. Aconteceu em 2018, quando jogou na Luz pelo Bayern Munique e levantou cinco dedos em alusão clara à vitória por 5-0 dos dragões sobre as águias, e sucedeu há poucos meses, numa altura em que se falava do interesse do Benfica nele: aí apareceu nas redes sociais, vestido à... F. C. Porto.
Mas há mais. André Villas-Boas sempre disse que é do F. C. Porto até ao tutano. E voltou a reafirmá-lo há umas semanas quando não se conteve em mostrar que a rivalidade, mesmo saudável, é mais forte do que o patriotismo, muitas vezes disfarçado. "Se o Benfica jogar uma final europeia, espero que perca", declarou o treinador do Marselha. Onde os portistas viram amor à camisola, os benfiquistas viram provocação e ataque.
Nesta categoria entra também André Horta. O jogador do Braga não tem reservas em assumir o benfiquismo. Com palavras e com atos (como aconteceu há duas épocas, em Paços de Ferreira, onde foi apoiar o Benfica mesmo já não estando no clube). Também já disse que "nunca jogaria no F. C. Porto ou no Sporting porque não seria feliz". Logo mereceu críticas dos rivais e aplausos dos das mesmas cores.
Bernardo Silva, James Rodriguez, André Villas-Boas e André Hora. Todos mudaram de clubes e de camisolas, mas levam sempre com eles o amor que os une a um emblema, sem nunca ultrapassar os limites. Não era suposto isso ser uma coisa boa?