Vinte anos depois do brilhante terceiro lugar no Inglaterra 1966, Portugal voltava ao grande palco do futebol mundial. Em 1985, o "milagre de Estugarda", que é como quem diz o pé direito de Carlos Manuel frente à República Federal da Alemanha, abrira as portas do Campeonato do Mundo de 1986 e a presença no México escreveu uma das páginas mais polémicas da história do desporto-rei português.
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A novela começou ainda antes de a comitiva embarcar. Um controlo antidoping positivo deixou António Veloso em terra e motivou a fúria de outros jogadores, que acreditavam na inocência do lateral do Benfica - rezam as crónicas que a contra-análise deu negativo quando já Bandeirinha se tinha juntado à equipa -, mas nem este primeiro sinal de instabilidade fazia adivinhar a tempestade prestes a surgir entre o sol mexicano. Os rumores já se faziam ouvir na pequena localidade de Saltillo onde a equipa ficou instalada - o campo de treinos estava inclinado, o hotel não tinha condições e o primeiro jogo-treino foi contra uma equipa formada por funcionários do hotel -, mas a bomba explodiu a 25 de maio, relatada, no dia seguinte, pela pena de Frederico Martins Mendes, o enviado-especial do JN ao México.
"Infantaria revolta-se e bombardeia FPF com exigências. Falta de comparência ao jogo - uma jogada perigosa", eram os título e antetítulo apresentados sobre a conferência de imprensa promovida pelos jogadores e o comunicado lido pelo capitão de equipa, Bento. "Preparado desde há dias tanto em reuniões secretas como em desabafos privados, o ato de insubordinação consumou-se ontem de manhã com a leitura do comunicado oficial dos infantes amotinados", acrescenta o repórter que, alguns anos mais tarde, assumiria o cargo de diretor do JN.
Em causa estavam os prémios pedidos pelos futebolistas. "Por portas travessas averiguámos que as exigências financeiras não especificadas no comunicado [lido por Bento] incidem na diária de 3500$ [ndr: 17,5 euros], nos prémios de vitória durante os jogos da primeira fase (300 e tal contos) [1500 euros] - que passariam para o dobro - e na fixação de um prémio de consolação de 100 contos [500 euros] para as derrotas", detalhava Frederico Martins Mendes, que, dois dias depois, noticiava: "A infantaria rendeu-se de madrugada (...) morreu a revolução, viva o Mundial". Depois de tantas peripécias, Portugal ganhou à Inglaterra, mas as derrotas com a Polónia e Marrocos ditaram a eliminação e Saltillo entrou para a história pelos piores motivos.
O caso foi chamado à primeira página do JN. "Revolta da infantaria. Jogadores exigem mais dinheiro" foram o título e o pós-titulo escolhidos a 26 de maio