Adepto ferveroso do San Lorenzo e fã incondicional de futebol, o Papa Francisco, que aterrou hoje em Portugal para participar nas Jornadas Mundiais da Juventude, é um home de fé, dentro e fora das quatro linhas.
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Desde cedo, Jorge Bergoglio, natural de Buenos Aires, desenvolveu uma paixão pelo futebol que ainda hoje o carateriza. Em criança, passou muito do seu tempo livre a correr atrás de uma bola na companhia dos amigos e aos domingos eram “sagradas” a idas, com o pai e os irmãos, ao mítico Estádio Pedro Bidegain, eternizado como Gasómetro, para apoiar o clube do coração, o San Lorenzo.
Com apenas 10 anos, viu os "cuervos" sagrarem-se campeões da Argentina, um momento que nunca esqueceu. No entanto, nem só de histórias pacíficias se faz a ligação do adepto mais famoso do mundo ao clube que lhe arrebatou o coração. Em 1998, o então treinador do San Lorenzo, Alfio Basile, impediu a sua presença nos treinos, bem como as até então frequentes idas ao balneário. “Não queria que nada pudesse desconcentrar os jogadores. Se não estavam a ganhar, por que iria deixá-lo continuar a rezar com a equipa? O presidente falou com ele e o rapaz seguiu o seu caminho", recordou o técnico, à estação "Línea de Tiempo".
O rapaz tornar-se-ia Papa em 2014 e há quem diga que não demorou a fazer milagres. Nesse ano, contra as expetativas gerais, o San Lorenzo conquistou a primeira, e até ver única, Taça Libertadores da sua história e Jorge Bergoglio, agora Papa Francisco, recebeu a equipa no Vaticano. Um momento a diversos níveis memorial.
O futebol tem esse condão de marcar a vida de quem se abre a ele, e Bergoglio viu nele um meio de marcar o seu consulado no Vaticano. Em 2017, numa entrevista à “Renascença”, Roberto Alvarez, vice-presidente do San Lorenzo, referiu que, “para o Papa, o futebol é um instrumento de paz”, ideia que o próprio Sumo Pontífice reforça a cada Jogo pela Paz, iniciativa que junta vários nomes importantes do futebol mundial para um encontro de cariz solidário. “São pequenos gestos, mas são sementes de paz, capazes de mudar o mundo”, partilhou o Papa Francisco, na edição do ano passado do evento.
Nas ruas de Almagro, bairro de Buenos Aires onde cresceu, a sua figura surge em vários murais ao lado de lendas do mundo da bola, como Diego Armando Maradona, a quem muitos devotos da bola apelidam de Deus.
"Sacrilégios" como esse foram tema de reflexão do Papa Francisco em 2019, quando foi questionado se poderia ser considerado um pecado atribuir um estatuto divino a outro nome sagrado do futebol argentino, Lionel Messi. “Em teoria é um sacrilégio, é algo que não se pode dizer, mas eu não acredito que seja Deus. As pessoas podem chamar-lhe Deus, tal como podem dizer que me adoram, mas só Deus pode ser adorado e venerado. É a maneira de as pessoas se expressarem. Dizem que ele é Deus com a bola nos pés quando está dentro de campo”, comentou ao jornal “The Guardian”.
Para aquele que é visto como o adepto mais famoso do mundo, os resultados devem ser vistos à luz de um interesse superior. “O mais importante não é ganhar ou perder, é evoluir”, chegou a defender Francisco, “o papa que ama futebol”, tal como o sintetizou de forma perfeita o escritor Michael Part no título de um livro sobre uma paixão que nada nem ninguém pode separar.