Jorge Mendes é uma das referências no agenciamento de jogadores e treinadores, mas em Portugal há outros agentes em destaque como Bruno Carvalho, Carlos Gonçalves e Artur Fernandes.
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O passado dia 1 de setembro marcou o término de mais uma janela de transferências em Portugal. A FIFA já divulgou o relatório anual do mercado e Portugal foi um dos países mais movimentados neste verão, muito em parte devido ao papel de empresários e intermediários. De acordo com o organismo que tutela o futebol mundial, as comissões pagas por clubes a agentes desportivos chegou aos 506,65 milhões de euros no plano internacional. O valor, aliás, tem vindo a subir nos últimos dez anos. Segundo o mesmo relatório, a comissão paga em percentagem do valor da transferência subiu de 6,6%, em 2012, para 9,9%, em 2022.
A contabilização do organismo que tutela o futebol mundial coloca Portugal como o quinto com mais entradas de jogadores (350), e o terceiro com mais saídas (419), apenas superado por Inglaterra e Espanha. Os gastos dos clubes portugueses ultrapassou os 172,57 milhões de euros e as receitas cifraram-se em 481,85 milhões, um saldo positivo de mais de 300 milhões de euros.
Jorge Mendes é o nome responsável pela gestão de vários dos principais ativos do futebol português: Cristiano Ronaldo, José Mourinho, Bernardo Silva, Rúben Dias ou Rafael Leão, para nomear alguns, mas há outros nomes em Portugal que são responsáveis por muitas das intermediações e pela representação de futebolistas nacionais que estiveram em destaque no verão, além de trabalharem em empresas internacionais que gerem as carreiras de muitos dos principais jogadores mundiais. O JN recolheu testemunhos de alguns dos principais empresários portugueses deste mercado, que contam histórias e peripécias. Além disso, projetam também já o mercado de inverno e, ao mesmo tempo, abrem a porta ao dia a dia de um empresário de futebol.
Bruno Carvalho: Musa e Florentino são trunfos de mercado
Aos 33 anos, Bruno Carvalho é diretor geral da Team of Future, agência de representação de jogadores que tem em carteira nomes como Florentino (Benfica), que esta época regressou à Luz após empréstimo ao Getafe, Rui Silva (Bétis) ou Luís Neto (Sporting) e que trabalhou na colocação de vários treinadores portugueses como Abel Ferreira, Paulo Sousa ou Leonardo Jardim.
Neste mercado, a agência de Bruno Carvalho esteve presente em mais de 30 negócios, mas há um deles que chama a atenção: a mudança do avançado Petar Musa do Boavista para o Benfica, uma transferência que surpreendeu, tendo em conta que o jogador apenas estava há um ano no futebol português. O empresário também tratou da ida de Jackson Porozo dos axadrezados para os franceses do Troyes.
"Senti que este mercado foi diferente. Tive muito trabalho em maio e em junho, depois houve um hiato em julho em que as coisas não andaram muito e os últimos dias foram uma loucura", conta, ao JN, Bruno Carvalho. "Isso acontece, na minha opinião, por causa das competições europeias. Depois, começam os campeonatos em agosto e as equipas sentem que precisam de se reforçar", acrescentou, prevendo um "mercado de janeiro muito forte" depois do Mundial.
Com 13 anos de carreira, começando aos 20 anos quando estava a terminar a licenciatura em gestão desportiva, o responsável pela Team of Future explica que a vida de empresário é "muito stressante" e que nunca vai de férias no sentido literal da palavra. "Tiro férias em fevereiro ou março, mas são as férias do Whatsapp. Vamos de férias, mas ficamos como o Whatsapp ligado", atira.
O sucesso da empresa, que tem como principais mercados a América do Sul, Espanha e Itália, além de Portugal, começa na prospeção de talentos. "Apostámos muito no scouting. É fundamental para chegarmos primeiro que os outros e assinar-mos o jogador. Foi assim que fizemos a diferença", garante.
Todos os mercados trazem peripécias "Negociei um treinador em Fátima no dia de Natal. Foi deste a hora de almoço até depois de jantar".
Carlos Gonçalves: David Carmo é a joia da coroa de um verão muito agitado
Responsável máximo da ProEleven, Carlos Gonçalves é o representante de jogadores como Diogo Dalot (Manchester United), Ricardo Horta (Braga) ou David Carmo (F. C. Porto), este último o nome que protagonizou a maior transferência interna de sempre do futebol português, ao trocar o Braga pelo clube azul e branco por 20 milhões de euros. O jogador assume-se como uma das joias da coroa da empresa.
Num mercado em que o futebol começa a recuperar os efeitos negativos da covid-19, a Proeleven foi responsável por 45 transações na última janela, entre jogadores representados diretamente pela agência e intermediações. Destas 45, há alguns negócios que merecem destaque, além do caso de David Carmo. A empresa esteve na transferência de Leonardo Buta para a Udinese; Aurélio Buta do Antuérpia para o Eintracht Frankfurt; e Eduardo Quaresma do Sporting para o Hoffenheim. Aliás, a ProEleven privilegia o mercado alemão, italiano, inglês, espanhol, norte-americano e coreano ou não representasse os treinadores Marco Silva (Fulham) e Paulo Bento (seleção da Coreia do Sul) e os jogadores Tiago Tomás (Estugarda), Gonçalo Paciência (Celta de Vigo), entre outros. Até à ida de Julian Nagelsmann para o Bayern Munique e de Graham Potter para o Chelsea, Carlos Gonçalves liderava a maior transferência de sempre de um treinador, quando André Villas-Boas trocou o F. C. Porto pelo Chelsea, em 2011, por 15 milhões de euros.
A ProEleven é, de resto, a agência que mais negócios realizou em Portugal nos últimos cinco anos - sem contabilizar com a última janela de verão -, basta consultar os documentos colocados à disposição pela Federação Portuguesa de Futebol. A empresa realizou 78 negócios, à frente da Positionumber (63), Pacheco & Teixeira (59) e da Gestifute (40), do empresário Jorge Mendes.
Carlos Gonçalves agencia mais de 100 jogadores, em conjunto com o irmão Vítor Gonçalves (CEO), Simão Coutinho e Vasco Casquilho e tem instalações em Lisboa e em Vila do Conde. Tudo começou nas lojas de pronto-a-vestir do pai, até se transformar num dos grandes agentes do futebol português.
Artur Fernandes: portas abertas para o Mundo a partir de Portugal
Um caso distinto da maioria dos agentes nacionais é o de Artur Fernandes. Presidente da Associação Nacional de Agentes de Futebol, é diretor internacional do Stellar Group, uma das grandes empresas mundiais de agenciamento que tem mais de mil jogadores em carteira e com dez escritórios em outros tantos países, um deles em Portugal e na cidade do Porto. Entre vários craques, a empresa agencia Gareth Bale, jogador que trocou no verão o Real Madrid pelos Los Angeles FC, da Liga norte-americana.
Este verão, a Stellar Group fez mais de 300 negócios - só no dia 1 de junho, quando abriu o mercado, fechou 31 transferências - e Artur Fernandes participou em cerca de 10% do total, distribuídos pelo mercado português, francês, inglês, italiano, espanhol e brasileiro. Esteve, por exemplo, no processo de empréstimo de Tiago Gouveia (Benfica) ao Estoril e nos negócios de Fausto Vera (Corinthians), Joe Rodon (Rennes) e Rui Fonte (Famalicão).
Ao JN, o agente descreve como é fazer parte de uma empresa desta dimensão. "Há que fazer da gestão de escritórios sobre jogadores que estão em determinados mercados que podem encaixar noutros, num cruzamento de interesses e de vontades. Tenho de fazer a junção desses mesmos mercados, normalmente de um mercado para outro, ou de um escalão muito inferior para um superior no mesmo mercado", começa por explicar, resumindo posteriormente: "É tentar perceber pela nossa habilidade bem portuguesa de negócios e de perspicácia onde é que o jogador A pode encaixar no mercado B", atira.
Artur Fernandes considera que este mercado de transferências até teve alguma contenção por parte dos clubes, motivada, acredita, pelo Mundial. "No mercado generalizado houve uma preocupação grande porque sendo um ano desforme, acaba por deixar as pessoas um bocadinho na insegurança com um Mundial a meio da época. Vai ser um 2023 de grande investimento, logo em janeiro e depois no verão", projeta.
A vida de agente desportivo leva a que esteja sempre "com a mala feita, nunca de porão porque normalmente essas perdem-se".