O deputado socialista Pedro Marques considerou, esta quinta-feira, que a resolução do Parlamento Europeu (PE) sobre o Catar constitui um "mensagem clara" à Federação Internacional de Futebol (FIFA) de que "os direitos humanos não são negociáveis".
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Pedro Marques, um dos redatores da resolução, disse à Lusa em Estrasburgo (França) que o PE também "convoca as autoridades do Catar para reformas profundas que salvaguardem os direitos dos trabalhadores, das mulheres e da comunidade LGBTQ+".
"Toda a pressão internacional vai produzindo resultados, essa é a lição do passado. Assim foi após a forte condenação da situação inicial na construção dos estádios para este Mundial", disse Pedro Marques sobre o efeito da mediatização da situação no Catar com a realização do campeonato.
"Mas muito mais tem que ser feito, para que no Catar sejam assegurados os direitos humanos de todos, e não apenas de alguns", afirmou.
O eurodeputado do PS disse esperar que a pressão internacional que tem sido exercida sobre o Catar, incluindo por equipas que participam no campeonato mundial, possa gerar mudanças no país.
"Esperamos ver contínuas reformas relativamente aos direitos dos trabalhadores, o apoio às famílias dos milhares que sofreram acidentes de trabalho no Catar, o fim de qualquer legislação que tolere a tortura ou certamente a pena de morte", disse.
"Mas também a grave discriminação das mulheres ou a criminalização das pessoas LGBTQ+ são prioridades que esperamos venham a ser reconhecidas e objeto de ação pelas autoridades do Catar", acrescentou.
O PE pediu hoje ao Catar e à Federação Internacional de Futebol (FIFA) que compensem as famílias de milhares de trabalhadores migrantes que morreram no país desde que começou a construção de infraestruturas do campeonato mundial.
Na resolução aprovada no plenário em Estrasburgo (França), o PE também assinalou que o Catar ganhou a corrida à organização do campeonato mundial "no meio de alegações credíveis de suborno e corrupção".
Os eurodeputados descreveram a corrupção na FIFA como "desenfreada, sistémica e profundamente enraizada" e lamentaram que o processo de atribuição do Mundial ao Catar não tenha sido transparente.
A FIFA "prejudicou gravemente a imagem e a integridade do futebol a nível mundial", consideraram os eurodeputados na resolução, em que apelaram para reformas no organismo internacional.
Os eurodeputados defenderam também a "implementação rigorosa de critérios de direitos humanos e sustentabilidade para os países de acolhimento" dos torneios.
O PE defendeu também que os eventos desportivos internacionais "não devem ser concedidos a países onde os direitos fundamentais e humanos são violados e onde a violência sistemática de género prevalece".
Na resolução, o PE reconheceu que o Catar atribuiu 320 milhões de dólares (mais de 307 milhões de euros, ao câmbio atual) às vítimas de abusos salariais, através do chamado "Fundo de Apoio e Seguro dos Trabalhadores".
No entanto, muitos trabalhadores e as suas famílias foram excluídos da aplicação do fundo, pelo que os eurodeputados defenderam o seu alargamento a todos os afetados desde o início dos trabalhos relacionados com o Catar2022.
* A agência Lusa viajou para Estrasburgo a convite do Parlamento Europeu *