Quando era criança, Paulo Bento adorava futebol. E não só. Gostava de hóquei em patins e basquetebol. E já era um líder. Na adolescência, trabalhava no Pomar de Alvalade e nunca virou a cara à luta. Uma vez, fez nove quilómetros a pé só para não faltar a um treino.
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Hoje, todos o conhecem. Seja pelas qualidades de quem fez carreira como futebolista ou pelas aptidões de treinador. Paulo Bento, 41 anos, é o seleccionador nacional, sucede a Carlos Queiroz na equipa das quinas e estreia-se, depois de amanhã, no Dragão, frente à Dinamarca. Mas, há cerca de 30 anos, era um desconhecido. Vivia em Alvalade, em Lisboa, onde já mostrava um talento invulgar para o desporto. Seja em que modalidade fosse. Jogava futebol e basquetebol à porta do restaurante Pomar de Alvalade, do qual os pais eram proprietários, onde até se dava ao gozo de praticar hóquei em patins. Era assim que se entretinha depois das aulas. Porque estudar não era muito com ele.
“A porta ao lado do restaurante servia de baliza, o aro do toldo de cesto e a escada do armazém era a baliza para o hóquei em patins. À custa disso, partia algumas garrafas”, recorda Carlos Martins, o actual dono do restaurante e, na altura, empregado da família. Mas o miúdo tinha outras aptidões. Era comunicativo, expansivo e extrovertido: “Era uma criança muito inteligente e avançada. Gostava de falar com os adultos e parecia uma grafonola”. Mas também era muito trabalhador.
Paixão pelo Benfica
Já adolescente, dava uma ajuda nas horas de maior aperto. Servia à mesa durante o almoço e, ao final da tarde, treinava no Futebol e Benfica. “Levava-o de carro. Quando não podia, ia sozinho de autocarro. Uma vez, houve uma greve dos transportes públicos e o Paulo fez nove quilómetros a pé só para não faltar ao treino. Isso revela muito da personalidade dele”, conta o tio Rogério Gomes. Só deixou de trabalhar no estabelecimento dos pais quando se transferiu para o Estrela da Amadora. Até essa altura, foi sempre um exemplo de mangas arregaçadas.
Anos antes, tinha um passatempo interessante ao fim-de-semana. Já cultivava um gosto exacerbado pela bola e nutria uma paixão pelo Benfica. “Vivia para o desporto”, recorda Carlos Martins, que se lembra do miúdo que também adorava marisco: “Ao sábado, saía de manhã para ver os juniores. Depois ia ver o andebol, o hóquei e o basquetebol”. Nessa altura, tentou a sorte nos treinos de captação do Benfica, do Sporting e do Sacavenense, mas nunca convenceu. “Era bom tecnicamente, a bola quando saía dos pés tinha olhinhos. Mas era muito franzino. Só ganhou corpo depois dos 16 anos”, lamenta-se Fernando Sobral, o seu primeiro treinador.
Capitão no Matraquilhos
Aos nove anos, já tinha sonhos bem definidos. Começou a jogar futebol no Matraquilhos, um pequeno clube de bairro, onde mostrava qualidades na posição de médio centro e se distinguia pela personalidade forte de quem adorava vencer. Depois, representou o Académico de Alvalade. E, em ambos, jogou sempre no escalão acima da idade e com a braçadeira de capitão.
“Aos dez anos era um líder. Quando o colocava numa posição diferente, acatava mas questionava-me. Uma vez, no intervalo de um jogo com o Atlético, perdíamos por seis ou sete golos. Os miúdos estavam de cabeça baixa, mas ele era o único que mantinha a esperança. Disse-lhes que íamos dar a volta e vencer. Tal como hoje, era incapaz de desistir seja do que fosse”, conta Fernando Sobral, técnico do Matraquilhos.
Nessa altura, o gosto pelo futebol também era fomentado pelas colecções de cromos. “Sabia de cor a idade dos jogadores, a altura e o peso. É como eu costumo dizer, o Paulo casou com o futebol”. Também por isso é o seleccionador nacional.