O defesa-central acedeu ao convite do JN para revisitar as memórias da conquista da Taça UEFA de 2002/03, no dia em que se assinalam 20 anos sobre uma das maiores finais disputadas pelo F. C. Porto.
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Pedro Emanuel estava na reta final da sua primeira de sete temporadas no F. C. Porto, quando foi chamado por José Mourinho para substituir Jorge Costa, a cerca de 20 minutos para os 90, contra o Celtic, na final da Taça UEFA, em Sevilha, na edição de 2002/03. "Foi, sem dúvida, a final que mais gosto me deu ganhar em termos internacionais, pela emoção do jogo, pela forma como foi disputado, pelo adversário e pelo ambiente envolvente entre duas equipas que já não participavam há algum tempo em finais", contou o antigo defesa ao JN.
A cidade espanhola tinha sido invadida por adeptos escoceses, que encheram tudo o que vendesse cerveja e tivesse uma televisão para ver o jogo, porque a lotação do Estádio Olímpico há muito tinha esgotado. "Tinha prometido à minha família, quer do meu lado, quer do lado da minha mulher, que se chegássemos à final alugava um autocarro e iam todos. E assim foi! Foi engraçado, porque a minha filha tinha acabado de nascer, ainda não teria um ano. Mas foi um convívio muito bom com os adeptos do Celtic, que vi através das fotos que a minha mulher me ia mandando", acrescentou Pedro Emanuel, hoje treinador do Al Khaleej, penúltimo classificado da Liga da Arábia Saudita.
Com temperaturas a rondar os 40 graus, o final da tarde prometia emoções fortes, com os adeptos dos dois emblemas em festa e o jogo não defraudou expectativas. O ambiente dentro do estádio era digno das melhores finais europeias, com os escoceses a cantar no apoio ao Celtic. "Recordo-me da nossa saída do hotel, foi quase um cordão humano de apoio e esperança de que a taça viria para o Porto e do sentimento que tivemos enquanto equipa. Sentimos que era um momento único nas nossas carreiras e o jogo foi extremamente emotivo", comentou. Mas a primeira explosão de alegria foi portista, depois do golo inaugural de Derlei. A vantagem azul e branca durou dois minutos, tempo para que Henrik Larsson fizesse o empate. "O Celtic tinha uma equipa muito difícil e competitiva nessa altura e um ponta de lança como o Henrik Larsson, que nos deu muito trabalho", lembrou o central, que ainda foi a tempo de marcar o sueco.
Alenichev (54) e Larsson, apenas três minutos depois, estabeleceram o resultado (2-2), que levou a final para o prolongamento, até o "ninja" bisar (115) e carimbar a vitória do F. C. Porto. "Essa vitória fica-nos marcada para toda a vida. Por vezes não queremos acreditar que a vida passa depressa e estes momentos são para ser vividos, mas 20 anos depois é que percebemos o verdadeiro impacto da conquista para o clube e nas carreiras de jogadores e treinadores. No ano seguinte viríamos a conquistar a Champions, mas essa conquista já foi vivida de uma forma diferente", sustentou.
O percurso de Pedro Emanuel havia de se estender por mais seis temporadas depois da conquista da Taça UEFA. "Foi uma história bonita de sucesso e para mim de grande afirmação no clube, porque tinha vindo do Boavista, clube rival da cidade. Havia uma certa desconfiança por parte dos adeptos, mas isso ajudou a solidificar a minha presença e os meus sete anos no clube". A conquista frente ao Celtic lançou o F. C. Porto num novo ciclo de vitórias. "A conquista de um troféu internacional marca sempre a carreira de um jogador e foi uma felicidade, porque foi vivido intensamente, com um grupo de colegas e amigos que fizeram com que isso acontecesse e uma estrutura, que estava muito pressionada por não conquistar troféus. Mas conseguimos um final feliz e a cereja no topo do bolo, com um treinador diferente, especial, como sabemos, que fez a diferença. Estamos todos de parabéns. É um orgulho recordar esses momentos com saudade, porque na minha vida não houve melhor momento do que ser jogador de futebol e do F. C. Porto", rematou.