Pedro Martins, de 41 anos, é um dos três candidatos à liderança da Federação Portuguesa de Ciclismo, para a qual promete implementar um projeto "diferenciado e vindo da base", avesso a "ligações ou interesses pessoais". É o atual presidente da Associação de Ciclismo da Beira Alta.
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O que o levou a abraçar o desafio de concorrer à presidência da Federação?
Sou presidente de uma associação regional desde 2019 e, provavelmente, um dos mais ativos e preocupados, talvez por ser o mais novo. Sempre fui dos mais críticos nas assembleias gerais, um dos poucos que levava o trabalho de casa, estudava os documentos e dava a minha opinião, sempre de forma construtiva e jamais destrutiva. Se chegasse às eleições deste ano e não apresentasse uma candidatura, seria um pouco hipócrita da minha parte. De há um ano para cá, comecei a falar com pessoas que têm a mesma linha de pensamento que eu e começámos a construir uma equipa para apresentar uma candidatura diferenciada.
Por que diz que é uma candidatura diferenciada?
Porque é composta por um conjunto de pessoas cujo único vínculo com o ciclismo é o gosto pela modalidade e pelo desenvolvimento do desporto. Quase todos fomos atletas, alguns vêm da área académica, e todos querem servir de forma voluntária. No dia seguinte às eleições, se perdermos, a nossa vida continuará. Não temos qualquer outro vínculo ou interesse junto da Federação, coisa que não acontece nas outras candidaturas. Daí este projeto ser diferenciado.
Quais são os pilares do seu programa?
Começo por algo básico, com o redobrar dos esforços em colocar o ciclismo nas escolas do primeiro e segundo ciclo de forma gratuita. Atualmente, a Federação tem um programa semelhante, mas tenta obter um rendimento com isso. Acontece que outras modalidades conseguem fazê-lo de forma gratuita. Na nossa Associação [Beira Alta], promovemos esses programas nas escolas de vários concelhos de forma gratuita. Se queremos promover o ciclismo na nossa sociedade e entre os mais jovens, não podemos fazer disso um produto para vender.
O ciclismo feminino também é um dos eixos da sua aposta?
Claramente, e é algo que tem de ser trabalhado e apoiado, pois tem grande potencial de crescimento. Além de promover a modalidade entre as mais jovens, a Federação deve aumentar o calendário feminino para permitir que as atletas evoluam. Deve apoiar os organizadores das provas e, se necessário, criar mais eventos próprios para o ciclismo feminino. Atualmente, o calendário feminino limita-se a 5 provas da Taça de Portugal, um campeonato nacional e agora a Volta a Portugal, mas estamos a falar de apenas 12 dias de corrida. Assim, é impossível desenvolvermos as atletas portuguesas e termos mais presenças nos campeonatos europeus ou mundiais e nas Olimpíadas.
Que mais medidas gostaria de implementar?
Outra das nossas preocupações é a formação dos nossos agentes desportivos. Temos de aprofundar determinadas formações específicas, nomeadamente as dos comissários, tornando-as mais aplicadas às várias vertentes do nosso ciclismo. Outra preocupação é promover melhor as provas nacionais, tentando, por exemplo, dar-lhes mais visibilidade com transmissões televisivas, que atualmente se resumem à Volta a Portugal e à Volta ao Algarve. Por que não alargar essas transmissões para corridas como o Grande Prémio JN, o Troféu Joaquim Agostinho, ou às provas femininas ou de BTT? Com mais divulgação, vamos conseguir atrair mais atletas.
Defende uma atenção mais abrangente a todas as vertentes do ciclismo?
Sou presidente de uma associação regional que trabalha todas as vertentes. Defendemos, inclusive, que devemos dar aos atletas oportunidade para se especializarem em diferentes disciplinas e condições para poderem estar presentes em competições internacionais que lhes permitam, por exemplo, disputar apuramentos para os Jogos Olímpicos. Não podemos continuar a canalizar todas as verbas para o ciclismo de estrada, que, sendo importante, não pode ser o único a consumir recursos. Não podemos valorizar algumas vertentes em detrimento de outras.
Se for eleito, que abordagem pretende dar à problemática do doping?
A melhor forma de combater esse problema é através da formação das novas gerações. Fazendo uma analogia, utilizamos o mesmo sistema da promoção da reciclagem, que começou a ser incentivada e ensinada nas escolas e depois passou, naturalmente, para o quotidiano das famílias. Temos de explicar aos mais novos que o doping dá uma falsa sensação de serem melhores e que não precisam disso para se afirmarem. É algo que vem do passado e que tem de ser erradicado. Essa imagem negativa da modalidade tem de ser limpa, explicando, sobretudo aos mais novos, que quando se tenta trapacear não é só o atleta que sai prejudicado, mas toda a comunidade à sua volta e, inclusive, a modalidade em si.