Pereira da Costa: “Antecipar receita de Otávio em três meses custou 2.2 milhões de euros”
O administrador financeiro da SAD do F. C. Porto, José Pereira da Costa, detalhou, esta sexta-feira, o relatório e contas relativos a 2023/24 que fechou com um prejuízo de 21 milhões de euros e que registou um “aumento insustentável” da dívida financeira.
Corpo do artigo
O responsável começou por realçar que o exercício em questão corresponde a “11 meses da administração anterior” e lembrou que os “resultados de transações com passes de jogadores foi insuficientes para compensar custos financeiros crescentes, levam a um resultado líquido negativo”.
“A dívida financeira sofreu um agravamento significativo, de 23 para 30 milhões de euros, um número insustentável. Para este aumento contribuíram os novos financiamentos contratados no ano passado a taxas muito elevadas: por exemplo, o desconto da segunda tranche da prestação de Otávio [vendido ao Al Nassr], que vencia a 1 de julho de 2024 foi antecipada para 28 de março e teve um custo financeiro de 2.2 milhões de euros, o que significa uma taxa de 12% por apenas três meses. Foi uma operação onerosa”, afirmou Pereira da Costa.
O CFO da SAD abordou também a questão da reavaliação do Estádio Do Dragão feita pela anterior administração, que acabaria por ser questionada pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
“Em 2023, o estádio estava avaliado em 112M€ e, no final desse ano, a anterior administração elevou esse valor para 279M, o que teve um impacto de 132M€ nos capitais próprios. Esta decisão foi desafiada pela CMVM em março e isso obrigou-nos a fazer uma reavaliação e agora está nos 213M€”, detalhou.
Pereira da Costa assumiu que as questões de tesouraria foram um dos grandes desafios após a tomada de posse dos novos dirigentes: “Quando este Conselho de Administração tomou posse, a 28 de maio, a liquidez estava em mínimos históricos. Não existia nenhum processo de financiamento em curso para ter liquidez e os compromissos imediatos até ao final de maio, incluindo salários e impostos, ascendiam a 12 milhões de euros. Até final de junho tivemos de liquidar outros 16M€ de pagamentos imperativos para cumprirmos o fair-play financeiro da FIFA, caso contrário seríamos excluídos das competições europeias”.
O “desbalanceamento de tesouraria” deve-se em muito, segundo o administrador, às dívidas a clubes por transferências de atletas que se cifram em cerca de 90M€, enquanto os valores a receber são de apenas 7M€. “Esta diferença, de cerca de 83M€, acrece à nossa dívida financeira”, lembrou, antes de realçar que os pagamentos a fornecedores também estavam, e estão, em atraso.
“Quando iniciamos funções, tínhamos dívidas vencidas de 16M€, referentes, por exemplo, ao tratamento de relva, segurança, limpeza etc. Temos tido parceiros bastante pacientes, que têm continuado a prestar os serviços, apesar de o F. C. Porto não ter honrado os pagamentos”, detalhou.
Renegociação com a Ithaka
Pereira da Costa admitiu, também, que este início dos quatro anos de mandato fica marcado pelo não apuramento para a Champions de 2024/25, que implicará uma perda de receita entre os 40 e os 45M€ - cerca de 30M€ em termos de tesouraria – e que a participação no próximo Mundial de Clubes não deverá valer os 50M€ inicialmente previstos.
Mas nem tudo são más notícias, com o administrador a lembrar a renegociação com a Ithaka para a exploração do Estádio do Dragão: “O acordo da Direção anterior previa ceder 30% da exploração por 65M€ para 25 anos. Após renegociação, conseguimos melhorar: de 65M€ para um valor potencial total de 100M€, dependendo de objetivos. O valor a encaixar de imediato passa de 40 para 50M€, entrando 10M€ na tesouraria”.
Reconhecendo que o F. C. Porto terá, sempre, de gerar mais-valias com jogadores a rondar os 25/30M€ para apresentar contas no positivo, Pereira da Costa abordou o que a atual administração já alcançou e o que se propõe fazer.
“A organização do programa de papel comercial, que garantiu 12M€ a 5% de juros, um valor muito inferior ao do último exercício, e queremos gerar receita rapidamente. Além disso, já conseguimos fazer uma contenção de custos com pessoal, incluindo jogadores da equipa principal e a administração da SAD. Tudo isso vai ajudar a equilibrar as contas na temporada que decorre”, garantiu.