Os primeiros passos do Futebol Clube Unidos Pinheirense no Mundo do desporto começaram a ser dados em 1958 através do futebol, com o emblema de Valbom, Gondomar, a militar, anos a fio nos campeonatos amadores da Associação de Futebol do Porto.
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Quase 60 anos depois o desporto-Rei é uma vaga memória do passado e é em outra modalidade - o futsal - que tem conhecido a glória, com presença no escalão principal.
"Chegámos a ser campeões do campeonato amador, mas o amador perdeu-se já há muitos anos e veio o futsal. Inicialmente era só uma equipa, neste momento temos 10", conta ao JN Américo Marçal, vice-presidente do clube, avançando: "Isto é a prova evidente de que o Pinheirense evoluiu muito. Fizemos aquilo que nenhum clube no concelho de Gondomar fez: estar numa 1.ª Divisão Nacional".
"Já tínhamos estado há três anos, mas descemos. Regressámos esta época e vamos lutar para continuar", afiançou o dirigente, atirando: "Costumo dizer que, para nós, o Pinheirense ficar na 1.ª Divisão é como ser campeão".
E manter a equipa sénior lá no alto é o objetivo da direção, liderada por Marco Vigário. Uma missão nada fácil, tendo em conta que o clube partilha, com outros três, o espaço no Pavilhão Municipal de Valbom. Mas é nas dificuldades que encontra a motivação para continuar a trabalhar no desenvolvimento da modalidade.
"Dadas as condições que temos e aquilo que fazemos, merecíamos mais apoio. Temos alguns, mas não chega. O que temos vindo a fazer ao longo destes anos é com muito sacrifício, não só dos nossos associados, como dos diretores. Tentamos dar o melhor de nós próprios para que a modalidade não se perca", anota Américo Marçal, explicando que o Pinheirense tem atualmente "130 atletas, distribuídos por todos os escalões, das escolas até aos seniores".
Uma ajuda importante chegou pela mão do internacional português Ricardinho, natural de Valbom, que através da escola de futsal que dirige estabeleceu um protocolo com o Pinheirense, facultando-lhe espaço para os mais jovens poderem treinar.
Por isso mesmo, não é de estranhar que o clube valboense aposte fortemente na formação. "Procuramos que as camadas jovens tenham jogadores com algum nível, para que ao longo dos anos se consigam aproximar da primeira equipa. Temos seis atletas que fizeram parte das camadas jovens que na próxima época vão fazer parte do plantel sénior", diz, com orgulho, o vice-presidente.
De jogador a treinador principal
O ex-jogador e agora treinador principal Paulo Vigário, de 27 anos, é um desses exemplos. Começou a dar os primeiros passos na modalidade no clube, saiu e voltou às origens. Há três meses aceitou o desafio de assumir o comando técnico, função que acumula com a de ourives.
"É um amor antigo, é um orgulho treinar o Pinheirense e fazer parte desta família. Já joguei noutros clubes no escalão de juniores e seniores e, depois, regressei e já estou aqui há cerca de seis anos. E agora sou o treinador, pois deixei de jogar", diz Paulo Vigário, confidenciando que o futsal surgiu "quase como uma brincadeira, pois jogava futebol de 11".
"Um primo foi eleito presidente do Pinheirense e disse-me que no ano seguinte viria jogar para o clube. Na altura só tinha um escalão e foi uma aventura. A brincadeira começou a correr bem e a crescer e, hoje em dia, temos os escalões todos e estamos na 1.ª Divisão Nacional. Foi tudo muito repentino, cerca de 15 anos para atingir este patamar e estamos aqui para continuar", relembra o ex-futsalista.
Sobre as ainda novas funções, mostra-se bastante satisfeito com a experiência. "Está a correr muito bem. Acima de tudo, tenho algum respeito por parte deles, porque os conheço bem, olham para mim quase como um colega e souberam separar as coisas. Nesse aspeto, estiveram muito bem, por isso é que tivemos este sucesso na fase final do campeonato", conta Paulo Vigário, referindo que a permanência não foi fácil de alcançar tendo em conta que na época anterior tinham competido na 2.ª Divisão Nacional.
No escalão principal a equipa deparou-se com "um ritmo completamente diferente e uma maior intensidade na forma de jogar". "Tudo é diferente, além disso, a oportunidade de podermos jogar com equipas profissionais, como o Benfica e o Sporting, é uma experiência única e deixa os jogadores com a motivação no máximo dos níveis. Só isso é que nos consegue fazer equilibrar jogos com essas equipas", salienta o treinador, rematando: "Toda a gente devia jogar na 1.ª Divisão de futsal para perceber o que é e a diferença que faz, pelo menos uma vez na vida".
Para além dos níveis competitivos elevados, há também a questão dos jogadores terem uma maior visibilidade. "Toda a gente quer estar nos melhores campeonatos, e a 1.ª Divisão é a mesma coisa das outras modalidade. Não há espaço para todos, mas temos de tentar manter-nos lá o máximo tempo possível, para também as nossas camadas jovens terem essa oportunidade", acrescenta o técnico, anotando que o projeto do clube passa por "tentar ter gente formada no clube e da terra a chegar à equipa principal".
Algo que está já programado para a nova temporada. "Para o ano, em 15 atletas, vamos ter seis que passaram pela formação do clube, o que já é um número significativo no plantel. Nunca vamos poder ter na totalidade, porque temos de ter outros jogadores com mais experiência, mas ano a ano vamos acrescentando mais", explica Paulo Vigário. E continua: "Este ano já vão subir três jogadores juniores ao plantel sénior e vão ficar connosco, pois como fui treinador dos juniores quatro anos já os conheço bem".
Seniores presentes na formação
Uma das características deste clube é a ligação que faz entre os elementos da equipa sénior e os escalões mais jovens. "Isso é importante porque olham para nós como um exemplo e isso ajudamos muito a transmitir a mensagem para o campo", diz o treinador principal.
Opinião também partilhada por Frederico Santos, 25 anos, conhecido no Mundo do futsal por Freddy, que além de ala é também treinador dos juvenis. "Para os miúdos é sempre um privilégio ter um jogador junto deles, não é por ser eu, mas qualquer da 1.ª Divisão Nacional, a ensinar-lhes tudo o que um jogador já passou para chegar até onde está agora. Veem-nos como um exemplo e querem ser como nós", avança o jogador, salientando que fazem muitas perguntas sobre os adversários, "mas, sobretudo, apoiam muito os seniores nos jogos em casa".
Tanto Paulo Vigário como Freddy estão há vários anos no clube, facto que por si só os torna mais sensíveis a outras questões. "Olhamos para isto de outra forma, já nos preocupamos com outras vertentes, como esta de treinar e ajudar o clube noutras situações. O objetivo da direção também passa por fazer a ponte entre os jogadores seniores e a formação. E que os treinadores da formação tenham passado nos seniores e tenham alguma ligação ao clube. Só assim é que se vai conseguindo esta mística positiva e fazer o bom trabalho", justifica o técnico do plantel sénior.
O ala do Pinheirense recorda ter começado pelo futebol de 11 no Salgueiros e só nos iniciados ter recebido um convite do Boavista para experimentar o futsal. Foi amor à primeira vista e não mais pensou em mudar. "Passei pelo clube na formação, depois representei Gondomar, Fundação Jorge Antunes, Modicus, Boavista e regressei agora. Já são uns anos de carreira", acrescenta o atleta.
Futsal está nos genes
Já como treinador, Freddy, que orientou os juvenis rumo ao título distrital da 1.ª Divisão e está a disputar a Taça Nacional, tem a missão de potenciar as qualidades dos mais jovens, como é o caso de Hugo Brandão, 15 anos.
Apesar de ser ainda muito novo, já pratica a modalidade há sete anos. "Fiz a minha formação quase toda no Unidos Pinheirense, saí no início da época para o Boavista, mas voltei entretanto a meio", conta ao JN, o jovem que frequenta o 9.º Ano de escolaridade.
No caso de Hugo, a ligação ao futsal é quase umbilical. "O meu pai e a minha mãe foram praticantes, por isso é algo que está nos genes", diz o juvenil, para logo completar: "O futsal sempre foi uma paixão, se calhar também por influência da família, que foi passando esse gosto".
E não tem dúvidas que é como futsalista que quer construir o futuro. "É isto que gosto e quero fazer. Os meus objetivos no futuro passam por fazer carreira no futsal".