Pinto da Costa: “Quando tomei posse não tínhamos oito mil euros, tínhamos zero”
O antigo presidente do F. C. Porto deixou algumas indiretas à atual direção do clube, criticando a forma como os novos dirigentes revelaram a situação financeira que o clube vive. “Não viemos para a praça pública fazer choradinhos”, afirmou Pinto da Costa.
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Durante a apresentação do livro “Azul até ao fim”, na Alfândega do Porto, o ex-líder dos dragões lembrou os três ídolos que teve durante a vida: o irmão José Eduardo e os generais Humberto Delgado e Ramalho Eanes.
“O General Humberto Delgado apareceu como candidato, quando eu tinha 16 anos, o homem sem medo. Acabou por ser assassinado pela PIDE em Espanha. Estávamos como alunos internos no colégio e vínhamos a casa nos aniversários dos nossos pais. A minha mãe fazia a 15 de maio e eu e o meu irmão fomos recebê-lo [a Humberto Delgado] a São Bento. Era um mar de gente, parecia que o F. C. Porto tinha sido campeão e o General Humberto Delgado, curiosamente, fazia anos no dia da minha mãe”, contou Pinto da Costa.
“O General Ramalho Eanes foi, talvez, das pessoas mais importantes para eu ter estado tantos anos como presidente do F. C. Porto. Tomamos posse em abril d 1982 e, no dia seguinte, fomos ver as contas do clube: não tínhamos 8 mil euros, tínhamos zero. A 26 de abril tínhamos de pagar os ordenados no fim do mês e duas livranças, de 20 mil contos cada uma. Na primeira reunião o Eduardo Poças disse ‘estamos falidos’, ninguém nos vai dar crédito. Quando fui negociar essas livranças, disse que o clube não tinha problemas e todos nos deram crédito porque não viemos para a praça pública fazer choradinhos”, disse, numa clara crítica à direção liderada por André Villas-Boas, antes de revelar que recebeu uma visita de Ramalho Eanes.
“Quando soube que eu estava doente, o General Eanes telefonou-me e disse-me que queria jantar comigo para me dar um abraço de apoio. Eu disse ‘um dia destes vou a Lisboa e combinamos’ e ele não concordou, dizendo que vinha ao Porto com o filho Miguel. E assim o fez, veio de Lisboa ao Porto de propósito para me dar força”, contou.
"Fernando Madureira foi muito importante para o clube"
Durante a conversa que manteve com o editor, Pinto da Costa fez questão de agradecer a todos os que o acompanharam ao longo dos 42 anos em que esteve à frente dos destinos do clube.
“A única coisa que qualquer pessoa consegue fazer sozinho é asneiras. Quem quiser construir algo de positivo, útil e importante para os outros tem de estar bem acompanhado. Só foi possível ultrapassar as dificuldades com a colaboração e união de uma grande equipa, que eu tive o prazer e a honra de dirigir. Pôncio Monteiro, Armando Pimentel, Reinaldo Teles…", referiu, em querer enumerar todos, mas reservando uma palavra especial para o antigo líder dos Super Dragões.
"Depois, há pessoas que, infelizmente, não podem estar aqui e que foram muito importantes, não para mim, mas para o clube e refiro-me a Fernando Madureira", especificou Pinto da Costa, arrancando uma enorme ovação da plateia, onde estava a esposa e antiga vice-presidente da claque, Sandra Madureira.