Em conversa com Daniel Oliveira, para o programa "Alta Definição", Pinto da Costa falou sobre a família, mas também do F. C. Porto e as eleições deste mês: "Se os sócios se esquecerem destes 42 anos e não quiserem ver os projetos que apresentamos, as consequências serão deles", comentou.
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"A minha liderança é de consciência, de conversa e mostrar qual é o melhor caminho. O ódio para mim é uma palavra horrorosa. Para quem me odeia, a minha resposta é o desprezo. Há muita gente que me admira e são esses que contam, são muitos, não preciso de mais", começou por dizer Pinto da Costa, antes de fazer a distinção de tratamento entre um adversário ou inimigo: "se for adversário com cordialidade e respeito; se for inimigo, a esses não se mandam flores, só se for uns cravos com muitos espinhos [risos]."
O presidente dos azuis e brancos, no seguimento, aludiu, ainda, para o que significa representar o F. C. Porto e destacou uma luta em particular. "As equipas sabem o que encarnam. Quando se fala num jogador à F. C. Porto, é alguém que sente a camisola. Não do clube, mas a cidade e da região. A luta não é do F. C. Porto contra Lisboa, mas contra o centralismo de Lisboa", esclareceu.
Quanto às eleições marcadas para dia 27 deste mês, Pinto da Costa explicou as motivações para querer ser reeleito. "Tenho a consciência do trabalho que fiz pelo F. C. Porto. Candidatei-me porque vi que o clube entrava num beco sem saída com aquilo que via da outra candidatura. Agora, se os sócios se esquecerem destes 42 anos e não quiserem ver os projetos que apresentamos, as consequências serão deles. Quem reconhecer o meu trabalho e tiver confiança no que quero fazer, votará em mim. Quem quiser esquecer o passado e esteja com outras ideias, votarão. O que acontecer será sempre da responsabilidade de quem votar", analisou.
Operação ao coração e um comunicado sobre a própria morte
"Estava convencido que ia morrer [...] Quando fui operado ao coração, deixei dois anúncios, um que foi publicado, a dizer que tinha sido operado e que correu tudo bem, e outro a comunicar a minha morte. Encarei com naturalidade. Que me adianta estar preocupado com a morte? Ela vai acontecer no dia em que Deus quiser", abordou.
"Há pessoas que me incomodaria muito se fossem ao meu funeral. Os meus filhos sabem as pessoas que lá gostaria de ter e quem não gostaria de ter. Sabem que quero ser cremado e que as minhas cinzas sejam deitadas na azinheira ao pé da Nossa Senhora de Fátima", referiu, antes de comentar um desejo para esse fatídico dia: "Quero que todos vão ao meu enterro de gravata azul. Quero as pessoas, em homenagem ao F. C. Porto, estejam todas de azul".
Educação e a família
"Felizmente fui criado num ambiente em que não nos faltava nada e com o bom espírito de colaborar. Lembro-me que ao sábado íamos à confeitaria "Bom Doce", em Vila do Conde, e tinha umas crianças na porta à espera de um bolinho e lembro-me de dizer 'oh avó, posso ir dar um bolo ao menino?', e ela disse 'Não, não, vai buscar o menino para a mesa', e no fim ela dizia: 'o dinheiro é importante se pudermos ajudar os outros'", recordou Pinto da Costa.
Na memória, bem fresco, está também o dia do falecimento do pai. "Ele saiu de casa para ir buscar uns doces a uma confeitaria. Pouco depois tocaram à porta a dizer que ele estava no carro com a cabeça no volante. Quando chegamos já estava morto, nem chegou a meter o carro a trabalhar. A vida, às vezes, tem desígnios difíceis de compreender. Por que motivo uma pessoa nova vai morrer num carro? É a realidade. Há coisas que a gente pode tentar mudar, mas a hora da nossa morte não. Pode ser hoje, daqui a 10 anos, mas ninguém consegue mudar", manifestou.
E como os filhos e os netos lidam com a vida agitada do presidente do F. C. Porto? Pinto da Costa expôs a situação e deixou um lamento. "Tenho pena de não ter acompanhado melhor o crescimento dos meus netos. Os meus filhos não sofreram tanto, mas os meus netos tenho pena de não ter acompanhado melhor", referiu, acrescentando: "a minha filha, às vezes tem um bocadinho de ciúmes do Porto, do tempo em que eu estou dedicado ao Porto, e que ela acha que devia dedicar a ela e aos netos. E se calhar com alguma razão. Mas é o destino", declarou.
A política e as polémicas
O líder dos "dragões" lembrou que já teve vários convites para seguir o mundo da política, inclusive para o Parlamento Europeu. " A Câmara do Porto gostava. Há uma coisa que me aflige, incomoda, e acho desumano, que é a quantidade de sem-abrigos que há no Porto. Acho que não se faz nada. Se eu tivesse aceite um desses convites, essa seria a minha principal preocupação. Mas acho que era incompatível com a minha posição no F. C. Porto. E depois até pensava, 'se for candidato à câmara do Porto e deixar o F. C. Porto, os portistas não me perdoam. E os que não gostam de mim, já são contra mim, logo não vou ter voto nenhum [risos]", gracejou.
Não mostrou muita preocupação com o caso do "apito dourado", contudo, deixou um desabafo: "O que me incomoda é nos 50 anos do 25 Abril estar a falar consigo e estar a ser escutado. Sei que sou escutado", proferiu.