Portugal apura-se para os oitavos: a vantagem de ter uma equipa adulta e sem a calculadora na mão

Num estádio que foi um vulcão de emoções, onde os turcos estiveram em larga maioria na bancada, a seleção portuguesa soube ter os ouvidos moucos e fez uma exibição adulta, carimbando, sem mácula, a passagem aos oitavos de final do Euro 2024 com uma vitória clara como água. Já fechou as contas na liderança do grupo sem a calculadora na mão e agora, depois do jogo com a Geórgia, na quarta-feira, volta a subir ao palco no dia 1 de julho para defrontar o terceiro classificado dos grupos A, B ou C, o que pode ser uma vantagem teórica para quem sonha ganhar a competição.

A diferença entre as duas seleções foi enorme em todos os capítulos de jogo, mas a forma madura como a seleção portuguesa atuou assenta muito na mentalidade coletiva e solidária de todos os jogadores, sobretudo como Pepe e Cristiano Ronaldo, os dois génios mais velhos, se entregaram de corpo e alma em determinados momentos.

O defesa, de 41 anos, fez uma exibição enorme, esteve em todo lado, com cortes providenciais e cirúrgicos na fase de maior atrevimento da Turquia, enquanto CR7 parece ter agora um espírito altruísta que nem sempre demonstrou ao longo do tempo. O pormenor no lance do golo de Bruno Fernandes (0-3), ao preferir passar a bola ao colega melhor posicionado, é a imagem superlativa de alguém que sabe como a equipa é mais importante do que o talento ou os recordes de um jogador.

Por outro lado, a seleção mostrou claros sinais de crescimento em relação ao jogo de estreia com a Chéquia, não só porque Roberto Martínez abdicou de jogar com cinco defesas, colocando Palhinha no meio-campo e Diogo Dalot no banco, mas sobretudo porque foi capaz de explorar melhor os corredores laterais e acelerar o jogo diante de um adversário muito permissivo e carente de Arda Guler, craque do Real Madrid que começou no banco.

Foi numa dessas acelerações pelas alas que Bernardo Silva inaugurou o marcador, depois de um cruzamento soberbo de Nuno Mendes e quando a equipa já puxava pelos galões a aproveitar o jogo vertiginoso dos turcos. Depressa chegou o 0-2 num dos lances mais caricatos do Euro 2024: Akaydin coloca a bola no fundo da própria baliza, após um desentendimento com o guarda-redes, mal posicionado na baliza. A partir daí, a seleção soube aproveitar a almofada de estar a vencer por 0-2 e levou o jogo até ao intervalo sem sofrer golos, mesmo que Diogo Costa fosse obrigado a aplicar-se perante um remate de Akturkoglu e outro de Kokçu, jogador do Benfica.

Ao intervalo, Martínez tirou Palhinha e Rafael Leão, ambos com cartões amarelos, sendo que o segundo falha o jogo com a Geórgia, mostrando que gosta de correr poucos riscos e também experimentar sensações novas, não sendo de estranhar que Pedro Neto até venha a ser o substituto de Leão no próximo duelo. Na segunda parte, o carrossel manteve-se e os números da vitória até podiam ser mais expressivos. Mas o mais importante foi conseguido: Portugal passou no teste diante do adversário mais difícil do grupo. E já nem precisa da calculadora. Só precisa de sonhar.