Portugal manifestou-se, esta segunda-feira, em Bruxelas, contra um boicote aos jogos do Europeu de futebol na Ucrânia, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, segundo o qual as diferenças políticas com Kiev devem ser tratadas "noutra sede".
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"Para nós, portugueses, há uma coisa que é evidente: o Euro2012 é um evento nacional, tanto para os ucranianos do regime como para os ucranianos da oposição, é um evento internacional, em que está envolvido a Polónia, que é um membro da União Europeia, e é um evento sobretudo desportivo, que não deve, a nosso ver, ser contaminado pela política", afirmou.
Paulo Portas falava à saída de uma reunião dos chefes de diplomacia da UE, na qual foi discutida a questão de um eventual boicote político europeu, em protesto contra a situação da ex-primeira-ministra ucranicana Iulia Timochenko, condenada a sete anos de cadeia e alegadamente alvo de maus tratos na prisão.
O ministro indicou que não foi tomada qualquer decisão na reunião, mas adiantou que a posição de Portugal, de que "a política não deve envolver-se" no desporto, foi também defendida por outros Estados-membros.
De acordo com o chefe de diplomacia, "há uma questão séria de direitos humanos, de respeito pela ilegalidade, de boas práticas democráticas", que pode mesmo colocar em causa a assinatura do acordo de associação entre a União Europeia e a Ucrânia, que foi negociado ao longo dos últimos anos, caso Kiev decida seguir as suas políticas inspirando-se noutros "vizinhos".
"Se a Ucrânia se for aproximando de um modelo mais «ocidental», é natural que venha a existir a subscrição do acordo de associação, mas se a Ucrânia se aproximar de modelos mais «bielorrussos», não é expetável que a UE mostre boa vontade", apontou.
No Conselho de Negócios Estrangeiros, indicou, ficou evidente para os 27 que o essencial será "medir o quão democráticas e transparentes serão as eleições de outubro" próximo na Ucrânia.
Portas sublinhou a seguir que "outra coisa completamente diferente é o Euro2012", afastando-se das posições defendidas por alguns países, e mesmo pela Comissão Europeia de Durão Barroso, de que os jogos que se disputam na Ucrânia devem ser boicotados pelos líderes políticos.
"O Euro2012 é um evento desportivo, onde cada seleção fará o melhor que puder, e nós, Portugal, achamos, que a política não deve envolver-se nisso e, portanto, foi esta a posição que nós e outros defendemos (...) Deixem as seleções, e, no nosso caso, a seleção portuguesa, dar o seu melhor sem ruído político, porque as questões políticas com a Ucrânia tratam-se noutra sede", disse.
Questionado sobre se o primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, assistirá então ou não a algum encontro, o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros afirmou que não há nenhuma decisão tomada nessa matéria, mas reafirmou que a posição hoje manifestada por Portugal "é a posição de princípio, e as decisões devem obedecer a questões de princípio".
Quanto a si próprio, admitiu não ter previsto assistir a qualquer partida.