Portugal e Espanha dão o pontapé de saída para a Liga Ibérica de hóquei no gelo
As Federações de desportos de inverno de Espanha e Portugal apresentaram, esta quinta-feira, em Madrid, uma Liga Ibérica que irá fundir os dois países numa competição que visa promover e gerar visibilidade para o hóquei no gelo de ambos os países. O HC Porto será a equipa portuguesa em competição.
Corpo do artigo
No último ano a Real Federación Española de Deportes de Hielo (RFEDH) e a Federação de Desportos de Inverno de Portugal (FDI-Portugal) decidiram, em conjunto, fundir forças e criar uma Liga Ibérica. Na altura, quem beneficiou do acordo foi uma equipa portuguesa, o HC Porto, que, fruto disto, disputou a Liga Espanhola na época transata.
Após estes primeiros passos, esta quinta-feira, na sala Samaranch do Conselho Superior de Desportos (CSD), em Madrid, apresentaram por fim a Liga Ibérica, que arranca entre o dia 21 ou 22 de setembro, e que visa no futuro incluir Andorra. Um projeto que conta com o aval da Federação Internacional de Hóquei no Gelo (IIHF) e que promete trazer visibilidade a todos os envolvidos. A cerimónia contou com as intervenções de Pedro Flávio, presidente da FDI-J; Fran González, presidente da RFEDH; João Farromba, jogador do HC Porto; e, ainda, Alejandro Carbonell, jogador do Jaca.
“Hoje estamos a fazer história. Este é um passo gigantesco para o hóquei no gelo na Península ibérica. Surge como uma resposta ao crescente interesse do hóquei no gelo neste território”, começou por dizer Pedro Flávio, presidente da FDI-P, deixando, entre o discurso, um desejo: “Queremos cada vez mais público a assistir, queremos gerar maior visibilidade, disponibilizando uma plataforma onde os atletas se possam divulgar”.
O formato será de liga corrida, com 21 jornadas, dos quais os quatro primeiros classificados espanhóis irão disputar o playoff da Liga Espanhola. Ao todo irão a jogo sete equipas: seis espanholas e uma portuguesa. Estamos a falar de uma competição que contará com 172 jogadores, transmissões no Youtube, mais especificamente no canal FED Hielo, e que visa expandir a visibilidade da modalidade.
O representante luso será o HC Porto. Trata-se de uma equipa fundada em 2023, que inclui maioritariamente jogadores estrangeiros, na maioria provenientes da Letónia, e apenas seis portugueses, mas que, a longo prazo, prevê expandir este número.
Já do outro lado, a Espanha lança a competição com: Kosner Huarte (Navarro), Jaca (Aragão), Majadahonda (Madrid), Milenio Panthers (Rioja), Puigcerdá (Catalunha) e Txuri Urdin (País Basco).
Nesse sentido, Pedro Flávio falou do importante passo que o representante português está a dar para os próximos anos.
“[HC Porto] Pretende incentivar a inclusão de mais equipas no futuro. Já deu provas das suas capacidades no ano passado e será um exemplo para mais equipas portuguesas para participar no futuro”, atirou.
Já Fran González, presidente da RFEDH, lamentou a perda de alguns membros, como o caso do Barcelona, e destacou os esforços feitos pela congénere portuguesa para crescer na modalidade, assim como do emblema luso.
“A inclusão do [HC] Porto nesta liga [espanhola] tem sido muito boa. Deu-nos um pouco mais de experiência, de qualidade, têm poucos jogadores portugueses, mas estão a trabalhar para integrar mais jogadores”, referiu, expressando o desejo da adesão de um país vizinho no futuro: “Andorra é muito importante para esta Liga Ibérica e queremos que entrem”, atirou.
Infraestruturas visam desenvolvimento da prática
Pedro Flávio, destacou, ainda, o “passo gigante” que tem sido dado com a implementação desta competição.
“Estamos numa fase embrionária, mas estamos a fazer o nosso trabalho. O hóquei do gelo é uma modalidade que está a crescer muito em Portugal, nos últimos quatro anos aumentaram o número de atletas e clubes. Estamos a fazer o nosso caminho e trabalho para no futuro ter infraestruturas para que o HC Porto faça os jogos em casa. Já a Federação de Desportos de Inverno está a fazer esforços para criar uma infraestrutura no sul do país”, terminou.
Em prática está a criação de um pavilhão com medidas oficiais, na Trofa, que, tal como Pedro Flávio disse aos jornalistas presentes no espaço, servirá para receber os jogos em casa do HC Porto.
"O investimento da Trofa é do clube, de investidores privados do HC Porto, já começou e é o reaproveitamento de uma unidade fabril. Será a casa do HC Porto para o futuro e já está estabelecido com os clubes que participam nesta Liga Ibérica", referiu, adiantando que a própria FDI-J está a desenvolver um projeto para "a construção de uma infraestrutura vocacionada para as modalidades de gelo. Essa infraestrutura está pensada para a zona da grande Lisboa. Esse é o grande projeto e o grande sonho. Será o ponto de viragem para o desenvolvimento das nossas modalidades", assegurou.
Todo este desenvolvimento poderá catapultar os restantes cinco clubes nacionais que ainda não apresentam condições para competir no modelo de 6x6 e, consequentemente, numa prova do nível da Liga Ibérica.
Quanto aos Jogos Olímpicos de Inverno, em 2026, há uma forte ambição de catapultar ainda mais atletas para este palco: "Nós trabalhamos sobre cada ciclo olímpico para ter mais atletas, mais modalidades", atirou.
Em que condições se tem desenvolvido o HC Porto?
A equipa portuguesa está numa fase inicial e sofre, de momento, as dores desse crescimento. Não tem uma arena com medidas oficias em Portugal para disputar os jogos e, desse modo, são “obrigados” a jogar em Madrid. Uma gestão que, de certo modo, até interfere com os treinos.
João Farromba, jogador do H. C. Porto, explicou ao JN como tem sido a rotina de treinos de um conjunto que começa a dar os primeiros passos no hóquei no gelo e não dispõe de uma arena própria.
“Nós vamos fazendo campos de treino em vários países da Europa, e quando temos competição em Espanha temos treinamos e jogamos lá. A carga física é muito maior, mas é algo que ainda se vai desenvolver. A partir do momento que tivermos um ringue cá [Portugal], vai ser muito diferente”, começou por dizer, em declarações ao JN.
Apesar dos contratempos, o atacante garante que a aventura é muito positiva: “Tem sido uma experiência fantástica, sinceramente. Óbvio que não têm sido as condições idealizadas, mas como adoramos o desporto temos de fazer o possível para treinar e jogar para no futuro desenvolver ainda mais o desporto”, referiu.
João Farromba iniciou-se na modalidade há cerca de três anos, na altura no 3x3, no qual, inclusive, foi campeão nacional pelo HC Porto esta temporada. No entanto, o salto para o campeonato espanhol, na temporada anterior, deu lugar a uma adaptação na modalidade. “É muito diferente. Em 3x3 nem jogávamos com foras-de-jogos, porque o campo é muito pequeno. Já a parte tática quase não existe. Depois, quando se passa para 6x6 é uma diferença muito grande e com atenção redobrada a muita coisa. Eu comecei no 3x3 e notei uma grande diferença”, explicou.
Por fim, o jovem atleta, de 19 anos, afirma que a criação da Liga Ibérica, apesar de os jogos ainda nem terem arrancado, já está a trazer impacto para o clube: “Agora com o HC Porto na Liga Ibérica estamos a ganhar mais visibilidade e as pessoas percebem que tem potencial para ser um grande desporto em Portugal”, finalizou.